São Paulo, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

Construção civil e indústria lideram alta

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os números relativos à evolução do emprego formal no país, apurados pelo Ministério do Trabalho, têm oscilado bastante nos últimos meses. Em novembro, eles surpreenderam ao revelar uma aceleração brutal na abertura líquida de vagas (o saldo entre as admissões e as demissões).
Em dezembro, eles foram decepcionantes, pois o fechamento de vagas foi mais intenso do que costuma ser no mês final do ano. Já os números de janeiro, divulgados ontem, foram de novo claramente positivos -e sugerem que a retomada das contratações tende mesmo a sustentar um ritmo forte nos próximos meses.
A geração líquida de 181 mil vagas foi muito superior à dos meses de janeiro entre os anos de 2001 e 2008 (quando o saldo positivo médio foi de 85 mil vagas) -sem falar no resultado muito ruim de janeiro de 2009 (quando, sob o impacto da grande incerteza gerada pela crise financeira global, houve fechamento líquido de quase 102 mil postos de trabalho).
O setor com desempenho mais destacado foi sem dúvida o da construção civil. Ele abriu em janeiro, em termos líquidos, mais de 54 mil vagas. Foi, de longe, o resultado mensal mais forte já registrado pelo setor (desde que o cadastro do Ministério do Trabalho teve início, em 1992). O setor foi aquele no qual o emprego formal teve a menor desaceleração em 2009 e reforça-se a perspectiva de que em 2010 suas contratações líquidas se acelerarão.
O desempenho do emprego industrial também foi positivo em janeiro, sobretudo nos segmentos que mais fecharam vagas na virada de 2008 para 2009 (quando as exportações e os investimentos despencaram): metalurgia, mecânica, material de transporte e material elétrico e de comunicações.
As contratações nesses segmentos ainda representam, no entanto, uma recomposição de quadros, pois seu contingente de funcionários continua bem menor do que em outubro de 2008.
Sobretudo (mas não apenas) devido a esses segmentos, o setor industrial como um todo, embora tenha acumulado entre abril de 2009 e janeiro último a geração líquida de 237 mil vagas, ainda está longe de ter reposto as 507 mil vagas de trabalho formal que fechou entre novembro de 2008 e março do ano passado.
A confirmação de que o mercado de trabalho segue a se aquecer aparece numa conjuntura em que vários índices de preços vêm mostrando resultados relativamente "salgados". Embora seja ainda incerto até que ponto esses números piores de inflação se devem a fatores transitórios, é provável que aumente a pressão para que o Banco Central inicie logo um ciclo de aumento da taxa básica de juros.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.



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