São Paulo, segunda-feira, 19 de março de 2007

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Petrobras acerta a compra da Ipiranga

Estatal participa de consórcio com a Braskem e o grupo Ultra para a aquisição, em negócio estimado em US$ 4 bilhões

Analistas apontam para concentração no setor de distribuição de combustível; empresa quer reforçar sua presença em petroquímica

Ricardo Nogueira-26.jan.2007/Folha Imagem
Posto Ipiranga em Osasco (SP)


JANAINA LAGE
PEDRO SOARES

DA SUCURSAL DO RIO

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Petrobras, Braskem e o grupo Ultra anunciam hoje em entrevista coletiva, às 9h, em São Paulo, a aquisição das Empresas Petróleo Ipiranga. Está prevista ainda entrevista em Porto Alegre, sede da Ipiranga, às 17h.
O negócio fechado pelo consórcio é da ordem de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 8,4 bilhões) e abrange a aquisição de 100% das ações do grupo gaúcho. O valor econômico do grupo Ipiranga é estimado por fontes ouvidas pela Folha entre US$ 3 bilhões e US$ 3,5 bilhões.
Com a aquisição, a Petrobras eleva sua participação no segmento de distribuição de combustíveis de 32% para 50%, o que pode suscitar discussões sobre concentração excessiva no setor e entrar na mira do Cade (Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência). Petrobras e Ipiranga são as duas empresas com maior participação de mercado na distribuição de derivados de petróleo no país. A terceira é a Shell.
O negócio foi discutido na última reunião de diretoria da Petrobras e também na reunião do conselho de administração da estatal, na sexta-feira. Até o início da noite de ontem, executivos da Petrobras, incluindo o presidente José Sérgio Gabrielli, fechavam os últimos detalhes da operação.
Há dois anos circulam no mercado informações de que a Ipiranga está à venda. As famílias Tellechea, Ormazabaal, Gouvêa Vieira, Matos e Aguiar são os principais acionistas.
Eles chegaram a negociar com a estatal venezuelana PDVSA no passado, mas o negócio não foi adiante. A Ipiranga atua na área petroquímica e na distribuição de derivados de petróleo. No ano passado, lucrou R$ 533,8 milhões, um resultado estável ante 2005.
A Folha apurou que a estatal considera a hipótese de não ficar com os ativos em definitivo.
No consórcio, caberia inicialmente ao grupo Ultra ficar com o segmento de distribuição de combustíveis, mas a informação ainda não estava confirmada ontem, pois houve impasses durante a negociação.
Na prática, a Petrobras quer se reposicionar na área de distribuição, o que não significa ficar integralmente com os 50% de participação no mercado. As opções discutidas pela estatal incluem desde a troca com algum investidor que atue no exterior até a criação de novos empreendedores no país.
Na primeira alternativa, a Petrobras ofereceria uma parte dos postos a algum investidor e assumiria pontos-de-venda em outros países, de modo a passar a atuar na distribuição de combustíveis em outros mercados.
Na segunda, está a hipótese de dividir a participação em postos em diversos empreendimentos de menor porte.
A entrada mais agressiva nesse segmento reflete o interesse da companhia em manter a comercialização de combustível como um negócio regular.
Dessa forma, ela evitaria o crescimento das fraudes. José Alberto Paiva Gouveia, presidente do Sincopetro, sindicato que reúne os postos de gasolina no Estado de São Paulo, critica o fato de a aquisição resultar em concentração nesse mercado. "Eles vão ficar com mais de 50% da distribuição de derivados de petróleo. Isso não é nada bom", afirma.

Petroquímica
Outro forte interesse da estatal na Ipiranga é o setor petroquímico. No passado, a Petrobras já teve atuação de peso no setor, mas hoje está restrita à participação financeira na Braskem. Os principais grupos hoje no setor são: Ultra, Braskem, Suzano, Ipiranga e Unipar. Com a aquisição dos ativos da Ipiranga, a Petrobras se consolidaria como um dos principais "players" com a Braskem.
Na avaliação da estatal, chegou o momento de reorganizar o setor petroquímico. A companhia passará a ter o controle acionário de algumas petroquímicas no Sul do país, como a Copesul. A medida está em linha com a estratégia de negociar ativos de maior valor agregado e não atuar com foco só em fornecer matéria-prima.
Esta não é a primeira vez que a Petrobras tenta comprar o grupo Ipiranga. No início da década, ela chegou a disputar a compra da empresa com a Repsol, mas o negócio não vingou.


Colaborou FÁTIMA FERNANDES, da Reportagem Local

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