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Petrobras acerta a compra da Ipiranga
Estatal participa de consórcio com a Braskem e o grupo Ultra para a aquisição, em negócio estimado em US$ 4 bilhões
Analistas apontam para concentração no setor de distribuição de combustível; empresa quer reforçar sua presença em petroquímica
Ricardo Nogueira-26.jan.2007/Folha Imagem
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Posto Ipiranga em Osasco (SP) |
JANAINA LAGE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Petrobras, Braskem e o grupo Ultra anunciam hoje em entrevista coletiva, às 9h, em São
Paulo, a aquisição das Empresas Petróleo Ipiranga. Está prevista ainda entrevista em Porto
Alegre, sede da Ipiranga, às 17h.
O negócio fechado pelo consórcio é da ordem de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 8,4 bilhões) e
abrange a aquisição de 100%
das ações do grupo gaúcho. O
valor econômico do grupo Ipiranga é estimado por fontes ouvidas pela Folha entre US$ 3
bilhões e US$ 3,5 bilhões.
Com a aquisição, a Petrobras
eleva sua participação no segmento de distribuição de combustíveis de 32% para 50%, o
que pode suscitar discussões
sobre concentração excessiva
no setor e entrar na mira do
Cade (Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência).
Petrobras e Ipiranga são as
duas empresas com maior participação de mercado na distribuição de derivados de petróleo no país. A terceira é a Shell.
O negócio foi discutido na última reunião de diretoria da
Petrobras e também na reunião do conselho de administração da estatal, na sexta-feira. Até o início da noite de ontem, executivos da Petrobras,
incluindo o presidente José
Sérgio Gabrielli, fechavam os
últimos detalhes da operação.
Há dois anos circulam no
mercado informações de que a
Ipiranga está à venda. As famílias Tellechea, Ormazabaal,
Gouvêa Vieira, Matos e Aguiar
são os principais acionistas.
Eles chegaram a negociar
com a estatal venezuelana
PDVSA no passado, mas o negócio não foi adiante. A Ipiranga atua na área petroquímica e
na distribuição de derivados de
petróleo. No ano passado, lucrou R$ 533,8 milhões, um resultado estável ante 2005.
A Folha apurou que a estatal
considera a hipótese de não ficar com os ativos em definitivo.
No consórcio, caberia inicialmente ao grupo Ultra ficar com
o segmento de distribuição de
combustíveis, mas a informação ainda não estava confirmada ontem, pois houve impasses
durante a negociação.
Na prática, a Petrobras quer
se reposicionar na área de distribuição, o que não significa ficar integralmente com os 50%
de participação no mercado. As
opções discutidas pela estatal
incluem desde a troca com algum investidor que atue no exterior até a criação de novos
empreendedores no país.
Na primeira alternativa, a
Petrobras ofereceria uma parte
dos postos a algum investidor e
assumiria pontos-de-venda em
outros países, de modo a passar
a atuar na distribuição de combustíveis em outros mercados.
Na segunda, está a hipótese de
dividir a participação em postos em diversos empreendimentos de menor porte.
A entrada mais agressiva
nesse segmento reflete o interesse da companhia em manter
a comercialização de combustível como um negócio regular.
Dessa forma, ela evitaria o
crescimento das fraudes.
José Alberto Paiva Gouveia,
presidente do Sincopetro, sindicato que reúne os postos de
gasolina no Estado de São Paulo, critica o fato de a aquisição
resultar em concentração nesse mercado. "Eles vão ficar com
mais de 50% da distribuição de
derivados de petróleo. Isso não
é nada bom", afirma.
Petroquímica
Outro forte interesse da estatal na Ipiranga é o setor petroquímico. No passado, a Petrobras já teve atuação de peso no
setor, mas hoje está restrita à
participação financeira na
Braskem. Os principais grupos
hoje no setor são: Ultra, Braskem, Suzano, Ipiranga e Unipar. Com a aquisição dos ativos
da Ipiranga, a Petrobras se consolidaria como um dos principais "players" com a Braskem.
Na avaliação da estatal, chegou o momento de reorganizar
o setor petroquímico. A companhia passará a ter o controle
acionário de algumas petroquímicas no Sul do país, como a
Copesul. A medida está em linha com a estratégia de negociar ativos de maior valor agregado e não atuar com foco só
em fornecer matéria-prima.
Esta não é a primeira vez que
a Petrobras tenta comprar o
grupo Ipiranga. No início da década, ela chegou a disputar a
compra da empresa com a Repsol, mas o negócio não vingou.
Colaborou FÁTIMA FERNANDES,
da Reportagem Local
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