|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bancos pedem mais reformas a emergentes
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Os maiores bancos e instituições financeiras do mundo pediram ontem mais reformas em
países emergentes como o Brasil e
estenderam a cobrança por mudanças ao próprio FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Reunidos no IIF (Instituto de
Finanças Internacionais, na sigla
em inglês), os banqueiros acreditam que o atual quadro de bonança e crescimento global começa a
entrar em uma fase declinante.
Haveria, porém, tempo para ajustes estruturais considerados "imprescindíveis".
Às vésperas da reunião desta semana do FMI, o IIF, que reúne
350 instituições financeiras, pediu
oito mudanças consideradas necessárias ao Fundo.
A de maior interesse dos emergentes é a criação de uma linha de
crédito emergencial para países
em crise. Hoje, podem ter acesso
aos recursos do FMI apenas os
países que tenham fechado um
acordo formal com o organismo.
Há oito anos, 21 países tinham
esse tipo de acordo e a possibilidade de usar recursos do Fundo
em momentos de crise. Hoje, são
apenas seis. A maioria deixou o
FMI depois de reorganizar suas finanças com a ajuda do Fundo.
Charles Dallara, diretor-gerente
do IIF, afirma que uma linha de
crédito mais flexível ajudaria a enfrentar os problemas que a economia global tem pela frente.
Em suas últimas reuniões, o
FMI chegou a discutir o assunto,
mas sem consenso. O tema deve
voltar à tona nesta semana, assim
como uma possível mudança na
representatividade dos países no
Fundo -outro dos pontos cobrados pelo IIF.
"O atual descompasso dos EUA
em relação à China [que hoje financia o déficit comercial americano] e em outras regiões nos leva
a ficar preocupados com a escala e
a persistência dos desequilíbrios
globais e, conseqüentemente,
com o aperto monetário [aumento nos juros] que se seguirá", afirmou Dallara.
Todas as demais cobranças do
IIF ao FMI sugerem um aprofundamento dos controles do órgão e
um "papel mais ativo" de supervisão para evitar novas crises.
Retrocessos
Dallara acredita que há no horizonte "um ambiente de maiores
desafios às economia emergentes". Ele reclamou da não-continuidade das reformas nesses países. "A segunda metade dos anos
1990 foi bem mais ativa em termos de reformas do que a primeira metade da atual década", afirmou. "Em alguns países, como
Bolívia e Peru, o que esperamos é
até um retrocesso."
Reconhecendo que muitos
emergentes fizeram ajustes profundos em suas contas, principalmente pelo aumento das exportações, o IIF sustenta que esse quadro pode voltar a se deteriorar nos
próximos anos.
Um aumento substancial dos
juros nos EUA e em outras economias centrais sugaria os dólares
que hoje sustentam as contas de
muitos emergentes, deixando-os
novamente vulneráveis.
Nos últimos dois meses, por
exemplo, os juros pagos por bônus japoneses de dez anos subiram de 1,5% ao ano para perto de
2%, sinalizando que o próprio
mercado espera uma "puxada"
para cima nas taxas. O Japão é um
exemplo típico da mudança estrutural que deve ocorrer nos juros, já que o país manteve sua taxa
básica próxima a zero durante vários anos.
Brasil
Apesar de cobrar novas reformas, principalmente nas áreas fiscal e previdenciária, Dallara afirmou que não acredita em retrocesso no caso brasileiro.
Ele afirma ter ficado "impressionado" com a tranqüilidade
com que os mercados acompanharam a recente mudança no
Ministério da Fazenda, com a
substituição de Antonio Palocci
Filho por Guido Mantega.
"Há alguns anos, uma mudança
dessa teria causado uma série de
perturbações. Hoje, os indivíduos
não são mais importantes do que
as políticas em prática."
Dallara lembrou, porém, que
"não há dúvida de que o Brasil e
outros países emergentes têm sido beneficiados pela liquidez no
mercado internacional". E é essa
liquidez que deve secar com o
previsto aumento dos juros internacionais daqui em diante.
Texto Anterior: Expansão: Cepal eleva projeção de alta do PIB brasileiro para 3,5% Próximo Texto: Alívio: Fed indica que alta dos juros pode acabar Índice
|