São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

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Bancos pedem mais reformas a emergentes

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Os maiores bancos e instituições financeiras do mundo pediram ontem mais reformas em países emergentes como o Brasil e estenderam a cobrança por mudanças ao próprio FMI (Fundo Monetário Internacional).
Reunidos no IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), os banqueiros acreditam que o atual quadro de bonança e crescimento global começa a entrar em uma fase declinante. Haveria, porém, tempo para ajustes estruturais considerados "imprescindíveis".
Às vésperas da reunião desta semana do FMI, o IIF, que reúne 350 instituições financeiras, pediu oito mudanças consideradas necessárias ao Fundo.
A de maior interesse dos emergentes é a criação de uma linha de crédito emergencial para países em crise. Hoje, podem ter acesso aos recursos do FMI apenas os países que tenham fechado um acordo formal com o organismo.
Há oito anos, 21 países tinham esse tipo de acordo e a possibilidade de usar recursos do Fundo em momentos de crise. Hoje, são apenas seis. A maioria deixou o FMI depois de reorganizar suas finanças com a ajuda do Fundo.
Charles Dallara, diretor-gerente do IIF, afirma que uma linha de crédito mais flexível ajudaria a enfrentar os problemas que a economia global tem pela frente.
Em suas últimas reuniões, o FMI chegou a discutir o assunto, mas sem consenso. O tema deve voltar à tona nesta semana, assim como uma possível mudança na representatividade dos países no Fundo -outro dos pontos cobrados pelo IIF.
"O atual descompasso dos EUA em relação à China [que hoje financia o déficit comercial americano] e em outras regiões nos leva a ficar preocupados com a escala e a persistência dos desequilíbrios globais e, conseqüentemente, com o aperto monetário [aumento nos juros] que se seguirá", afirmou Dallara.
Todas as demais cobranças do IIF ao FMI sugerem um aprofundamento dos controles do órgão e um "papel mais ativo" de supervisão para evitar novas crises.

Retrocessos
Dallara acredita que há no horizonte "um ambiente de maiores desafios às economia emergentes". Ele reclamou da não-continuidade das reformas nesses países. "A segunda metade dos anos 1990 foi bem mais ativa em termos de reformas do que a primeira metade da atual década", afirmou. "Em alguns países, como Bolívia e Peru, o que esperamos é até um retrocesso."
Reconhecendo que muitos emergentes fizeram ajustes profundos em suas contas, principalmente pelo aumento das exportações, o IIF sustenta que esse quadro pode voltar a se deteriorar nos próximos anos.
Um aumento substancial dos juros nos EUA e em outras economias centrais sugaria os dólares que hoje sustentam as contas de muitos emergentes, deixando-os novamente vulneráveis.
Nos últimos dois meses, por exemplo, os juros pagos por bônus japoneses de dez anos subiram de 1,5% ao ano para perto de 2%, sinalizando que o próprio mercado espera uma "puxada" para cima nas taxas. O Japão é um exemplo típico da mudança estrutural que deve ocorrer nos juros, já que o país manteve sua taxa básica próxima a zero durante vários anos.

Brasil
Apesar de cobrar novas reformas, principalmente nas áreas fiscal e previdenciária, Dallara afirmou que não acredita em retrocesso no caso brasileiro.
Ele afirma ter ficado "impressionado" com a tranqüilidade com que os mercados acompanharam a recente mudança no Ministério da Fazenda, com a substituição de Antonio Palocci Filho por Guido Mantega.
"Há alguns anos, uma mudança dessa teria causado uma série de perturbações. Hoje, os indivíduos não são mais importantes do que as políticas em prática."
Dallara lembrou, porém, que "não há dúvida de que o Brasil e outros países emergentes têm sido beneficiados pela liquidez no mercado internacional". E é essa liquidez que deve secar com o previsto aumento dos juros internacionais daqui em diante.


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