ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

O saldo da especulação que levou o dólar a disparar entre o fim de abril e o início de maio e a recuar na última semana já começa a se delinear. Grandes investidores estrangeiros e nacionais foram os que mais ganharam com esse movimento. Os perdedores deverão ser os pequenos investidores.
As conclusões se baseiam em dados da consultoria Future Analysis, que segue as transações feitas no mercado futuro, e do site Fortuna, que analisa detalhadamente os fundos de investimento.
Os dados da Future Analysis mostram que investidores estrangeiros e fundos institucionais nacionais começaram a aumentar suas posições de compra de ativos cambiais na BM&F (Bolsa de Mercadoria e Futuros) no início de abril, com o dólar a R$ 2,30.
Esse movimento se acentuou a partir de 29 de abril, quando os bancos norte-americanos Morgan Stanley e Merrill Lynch rebaixaram os títulos da dívida externa brasileira, e chegou ao ápice em 9 de maio. Nesse intervalo, o dólar saltou para R$ 2,47.
Grandes saques nos fundos de atacado nacionais, voltados para investidores com alto poder aquisitivo, também podem ter contribuído para a alta do dólar. Tudo indica, segundo analistas, que parte do que esses investidores, principalmente bancos e empresas, sacaram foi para títulos públicos corrigidos pelo dólar e outros ativos cambiais.
Segundo dados do site Fortuna, os fundos de atacado tiveram captação líquida negativa de R$ 3,7 bilhões em abril passado.
"Abril normalmente é um mês de saques nos fundos, mas o movimento nos de atacado foi atípico este ano", diz Francisco Camargo, sócio do site Fortuna. Em comparação com abril de 2001, os fundos de atacado sofreram uma sangria três vezes maior este ano. O mesmo não ocorreu nos fundos de varejo, de pequenos investidores.
Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management), lembra que outra parte desses recursos foi sacada por fundos de pensão que tiveram de pagar impostos pendentes com a Receita Federal.

Pequenos investidores
Em 13 de abril, quando o dólar atinge R$ 2,52, os grandes investidores começam a vender a moeda e a realizar lucros. Eles se anteciparam à divulgação das pesquisas eleitorais que, segundo rumores, mostrariam avanço do presidenciável petista, Luiz Inácio Lula da Silva, e recuo do pré-candidato do governo, José Serra. Depois, com a confirmação desses resultados, a venda do dólar continuou.
O movimento é confirmado pelos dados da Future Analysis. Outro indicador são as captações dos fundos cambiais de investidores exclusivos- geralmente grandes aplicadores- que tiveram perda líquida de, por exemplo, R$ 1,6 milhão entre os últimos dias 14 e 15, segundo dados do site Fortuna. No mesmo período, os chamados FACs cambiais, típicos fundos para pequenos investidores, tiveram captação positiva de R$ 20 milhões. Ou seja, enquanto os grandes investidores estavam na "ponta de venda", os pequenos compravam dólar a um preço 6% mais caro que no fim de abril.


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