UOL


São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO FINANCEIRO

Investidores esperavam corte na Selic, mas já não consideram hipótese; pode haver realização de lucro

Bolsa começa a semana sem tendência

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do balde de água fria na expectativa de queda dos juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que acaba na quarta-feira, analistas afirmam que a Bolsa deve ficar sem tendência definida, com a possibilidade de realizar lucros.
Entre executivos do mercado financeiro, pipocam críticas à cúpula do governo, seja pelo excesso de conservadorismo na política monetária, seja pelo que chamam de "informalidade na comunicação". Recentemente, o presidente da República, o vice-presidente, ministros, deputados e autoridades do Banco Central têm se revezado sob os holofotes para dar declarações sobre o câmbio.
"Fica a dúvida: é inexperiência ou desconhecimento -ou os dois?", pergunta o executivo de um grande banco.
"Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve (o banco central americano) apenas faz declarações em situações muito formais, não a toda hora -e assim é que tem que ser", afirma.
"Imagine se, nos Estados Unidos, dezenas de microfones iriam parar na boca do Greenspan diariamente. Ele não aceitaria falar", concorda Alexandre Póvoa, economista e estrategista do Banco Modal. "Tampouco um ministro norte-americano palpitaria sobre a desvalorização do dólar em relação ao euro..."
Para Póvoa, as autoridades brasileiras "na política e no Banco Central aparentam não ter aprendido a conviver com o câmbio flutuante: a cada palpite contraditório, mais volatilidade no câmbio".
Como voz destoante nessa discussão, aparece Júlio Ziegelman, do BankBoston. "É preciso falar sobre o que se está vendo."

Selic
Apesar de crítico quanto à forma de comunicação do novo governo, Póvoa afirma acompanhar a argumentação do BC e defender a manutenção dos juros básicos da economia (a taxa Selic).
Para ele, o Copom não deveria usar o viés, instrumento que permite ao presidente do BC alterar os juros sem a necessidade de realizar nova reunião.
"É preciso responsabilidade para não jogar tudo o que foi reconquistado ladeira abaixo", diz.
A taxa Selic está atualmente em 26,5% ao ano, sem alteração desde fevereiro, quando foi elevada em um ponto percentual.

Taxa real
Para o economista e estrategista do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, que defende o corte da Selic, o BC se detém na taxa de juros nominal, quando "o que é relevante é a taxa real."
"Com a inflação em queda, a taxa de juros real vai ficar mais alta. A política monetária vai ficar ainda mais apertada. (Sem necessidade) porque há excesso de oferta e demanda reprimida. A economia está parada e o que segura é a demanda externa de exportações", diz.
Para ele, isso também pode se perder. Com o risco de deflação nos Estados Unidos e com a Europa e o Japão em estagnação ou recessão, segundo o economista, "não tem como não caírem as exportações brasileiras".

Câmbio
Além de esperar o resultado oficial do Copom, investidores continuarão atentos ao câmbio e aos índices de inflação.
Três indicadores de preços saem antes do encerramento da reunião do BC.
A segunda prévia do IGP-M sai hoje. Amanhã, serão divulgados o IGP-10 de maio e a segunda quadrissemana do mês do IPC (Índice de Preços ao Consumidor). O indicador deverá apontar arrefecimento da inflação, decorrente de quedas adicionais dos preços dos combustíveis.
"Mas o câmbio é o mais importante", diz Ziegelman. "Tem forte impacto na economia e, abaixo de R$ 3 prejudica a balança comercial."


Texto Anterior: Empresa vê boato e mentira em críticas de manutenção
Próximo Texto: Atividade em baixa: FMI alerta para risco de deflação mundial
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.