São Paulo, terça, 19 de maio de 1998

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Presidente americano cobra abertura comercial "agressiva"

do enviado especial

O presidente norte-americano Bill Clinton pediu ontem, em discurso na OMC, que todos os países do mundo ajam "agressivamente" para derrubar as barreiras comerciais, no que soou como a adesão da maior potência do planeta à chamada Rodada do Milênio.
Clinton não deixou uma só área do comércio internacional fora da agenda, de bens industriais a serviços, passando por maior proteção à propriedade intelectual e terminando com um pedido de mais atenção aos direitos trabalhistas e ao meio ambiente.
Mas a ênfase de seu discurso foi na questão agrícola: "Começando no próximo ano, deveríamos começar agressivamente negociações para reduzir tarifas, subsídios e outras distorções que restringem a produtividade na agricultura", disparou Clinton.
A frase soou como música aos ouvidos da delegação brasileira.
Ao chegar a Genebra, ontem à noite, o presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso apoiou a idéia de uma ampla rodada de negociações comerciais, "desde que signifique também entrar agricultura nisso, que é importante para nós".
Mas FHC e Clinton divergem sobre a maneira de conduzir as futuras negociações.
Clinton cobra um meio de "derrubar barreiras sem esperar que cada tema, em cada setor, esteja resolvido".
Para o presidente norte-americano, o sistema internacional de comércio deve se mexer "tão rápido quanto o mercado".
Já FHC se diz contra "uma negociação fatiada, que fique discutindo só aquilo que interessa a alguns países e não interessa a nós".
Traduzindo: o governo brasileiro prefere uma negociação global, em que lhe seja possível trocar, por exemplo, concessões na área de informática por aberturas de outros países em agricultura.

"Dramático"
O discurso de Clinton parece consolidar a idéia de fazer a partir de 1999 uma ampla rodada de negociações comerciais que, para Charlene Barshefsky, a xerife do comércio norte-americano, "será um grande empreendimento, dramático em seu potencial".
Não é exagero: no ano passado, as exportações de mercadorias e serviços foram de impressionantes US$ 6,5 trilhões. Equivalem a oito vezes tudo o que o Brasil produz por ano (seu PIB).
Mexer nessa pilha de dinheiro só pode ter mesmo um potencial dramático, como diz Barshefsky.
A questão é saber se se vai mexer na pilha toda de uma vez, na forma de uma grande rodada de negociações, similar às oito anteriores, ou se se vai preferir um enfoque mais gradual ou setorial.
A tendência que se detecta em Genebra é na direção de uma grande rodada. "O encontro da OMC deveria pavimentar o caminho para lançar em 1999 a Rodada do Milênio no ano 2000", diz, por exemplo, Jacques Santer, presidente da Comissão Européia, braço executivo do conglomerado de 15 países que formam a União Européia. Santer fixa até um prazo (três anos) para a conclusão da Rodada do Milênio.
O diretor-geral da OMC, Renato Ruggiero, comprou a tese da Rodada do Milênio, embora não utilize essa expressão. (CR)



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