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ARTIGO
Mercados de ações têm medo de altura
ROBERT J. SHILLER
AS PERDAS acentuadas
nas Bolsas mundiais
neste mês servem apenas como mais um exemplo da
recente instabilidade, ou assimetria, orientada para a queda
nos mercados. Ou seja, os mercados vêm passando por um
período de maior vulnerabilidade a grandes quedas do que a
grandes altas súbitas.
As alterações diárias nas cotações das ações para o período
de cem dias úteis encerrado em
3 deste mês mostravam orientação anormalmente negativa
na Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China,
Coréia do Sul, EUA, Índia, Japão, México e Reino Unido.
Esse desvio anormalmente
negativo nos mercados de
ações não é inconsistente com
o crescimento saudável dos
preços registrado nos últimos
anos. Os mercados bateram recordes históricos, se aproximaram deles ou pelo menos se saíram muito bem desde 2003, compensando as grandes quedas de maneira gradual, por
meio de uma sucessão de altas menores.
E o desvio negativo não é inconsistente com o fato de que
as Bolsas mundiais se tenham
mantido relativamente silenciosas pela maior parte do ano.
Com a conspícua exceção da
China e a menos conspícua exceção da Austrália, todas elas tiveram desvios padronizados
baixos em seus retornos diários
para os cem dias úteis encerrados em 3 deste mês se comparados às normas de país a país.
De fato, um dos grandes enigmas nos mercados americanos
vem sendo a baixa volatilidade
de preços desde meados de
2004, em meio ao crescimento
de lucros mais volátil já visto.
Seria possível imaginar que
os preços do mercado seriam
igualmente voláteis, já que os
investidores supostamente
tentariam absorver o significado dessa volatilidade nos lucros. Mas descobrimos inúmeras vezes que eles são conduzidos mais pelos fatores psicológicos do que por arrazoados lógicos quanto aos fundamentos.
Grandes retornos negativos
exercem impacto psicológico
danoso sobre os mercados. As
pessoas continuam a falar sobre o 28 de outubro de 1929 ou
o 19 de outubro de 1987. Grandes quedas atraem a atenção, e
isso estimula certas pessoas a
vender, caso elas se repitam.
De fato, a disposição para
sustentar o mercado depois de
uma queda súbita pode estar
em declínio. "O índice de confiança do mercado baseado em
compra de ações após quedas",
que compilamos em Yale, vem
caindo gradualmente desde
2001 e, nos últimos meses,
mostrou queda notável. Ele representa a proporção de pessoas que responderam dizendo
"aumentaria" à pergunta: "Se o
Dow Jones caísse 3% amanhã,
qual seria seu palpite para o dia
seguinte? Ele aumentaria, cairia ou ficaria na mesma"?
Em 2001, 72% dos investidores institucionais e 74% dos investidores individuais disseram que "aumentaria". Em
maio de 2007, apenas 48% dos
investidores institucionais e
59% dos investidores individuais deram a mesma resposta.
Talvez o índice tenha caído,
recentemente, devido às notícias negativas sobre os mercados de crédito, especialmente o
de crédito imobiliário de risco
dos EUA, que causaram ansiedade acentuada sobre a solidez
dos fundamentos da economia.
Mas talvez exista alguma outra coisa em jogo. Todos sabem
que os mercados vinham em alta, nos últimos meses, e todos
sabem que as demais pessoas
sabem que uma correção é
sempre possível. Assim, talvez
exista uma sensibilidade subjacente a quaisquer quedas de
preços, o que poderia alimentar
uma sucessão de mudanças para menos na cotação das ações,
reforçando as preocupações do
público sobre os problemas
econômicos e prenunciando
uma mudança mais profunda
no sentimento de investidores.
ROBERT J. SHILLER é professor de economia na
Universidade Yale, economista-chefe da MacroMarkets e autor de "Exuberância Irracional" e de "The
New Financial Order: Risk in the 21st Century".
Copyright: Project Syndicate, 2007.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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