São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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Governo estuda cortes para ter investimento

Plano do Planalto é direcionar a economia obtida nos gastos para investimentos, principalmente por meio do BNDES

Medida, para manter nível de investimentos, foi discutida por assessores e conselheiros econômicos de Lula no início desta semana

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em reação aos efeitos da crise sobre o mercado de crédito, o governo Lula estuda promover corte de gastos de custeio, entre eles de pessoal, e direcionar essa economia para investimentos, principalmente para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Essa medida está sendo proposta por assessores e conselheiros informais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi discutida no Palácio do Planalto no início desta semana, diante do agravamento da crise internacional.
Ela seria adotada como forma de evitar uma queda no nível de investimentos do país, que são considerados fundamentais para que o ritmo de crescimento da economia seja mantido mesmo em um cenário de escassez de linhas de crédito externas.
A redução nos gastos de custeio já vinha sendo defendida internamente dentro do governo, mas, de acordo com um auxiliar de Lula, agora a "ficha da equipe econômica caiu", depois do agravamento das turbulências no mercado financeiro em todo o mundo.
A idéia não é aumentar o superávit primário, recentemente elevado de 3,8% para 4,3% do PIB (Produto Interno Bruto), mas fazer uma "melhora na qualidade do gasto público". Ou seja, cortar despesas correntes e direcionar essa sobra para investimentos.
Segundo relato de um assessor, o mais importante neste momento é que o presidente já tomou "a decisão política" de suprir a economia com financiamentos caso a crise de crédito se prolongue e afete os planos de investimentos das empresas brasileiras.
Essa economia extra do Orçamento da União pode ser destinada para aumentar o potencial de investimentos do BNDES, que nesse ano vai desembolsar cerca de R$ 85 bilhões para projetos.

Análise de impactos
Agora, a equipe econômica analisa qual será o impacto desse bloqueio no crédito externo sobre a economia do país e quanto seria necessário para atender as necessidades de caixa das empresas nacionais.
No curto prazo, o BNDES já dispõe de recursos para atender pedidos extras de financiamentos por conta dos recentes aumentos de capitais feitos pelo Tesouro -que totalizaram uma injeção adicional no caixa do banco de R$ 22 bilhões. O problema começaria a aparecer no segundo trimestre de 2009 caso a crise se prolongue e o mercado de crédito fique totalmente paralisado por um período longo.
O Ministério da Fazenda considera fundamental fortalecer o BNDES nesse momento de crise porque os empresários brasileiros perderam uma das fontes de recursos baratos -as captações externas-, que lhes permitiam fugir dos elevados juros cobrados pelos bancos privados nacionais. A outra é exatamente o BNDES.
Um assessor da Fazenda diz o seguinte sobre a necessidade de reforçar o banco com novos recursos: "Antes as empresas tinham como fugir da alta das taxas de juros internas buscando recursos no mercado externo ou no BNDES. Uma delas está secando, a outra está com sua capacidade já no topo."
Além das dificuldades no acesso ao crédito, a equipe econômica avalia que as turbulências internacionais terão impacto negativo no ritmo de queda da inflação. Com o dólar em alta, o ritmo de convergência da inflação para a meta de 4,5% em 2009 será mais lento do que o previsto.
Por outro lado, o Palácio do Planalto espera que o agravamento da crise internacional leve o Banco Central a reduzir a dose do aumento dos juros na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste ano.
A expectativa é que o BC vá um pouco mais devagar no ajuste da política monetária e reduza as altas de juros de 0,75 ponto percentual para pelo menos 0,50 ponto diante da certa desaceleração econômica mundial e conseqüente queda nos preços das commodities.
Quanto ao crescimento do PIB brasileiro, apesar dos discursos oficiais otimistas, a equipe econômica já trabalha com a possibilidade de que, em 2009, ele fique entre 3,5% e 4% se a penúria no mercado de crédito e a recessão forem mais profundas e avançarem pelos próximos meses.


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