|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo estuda cortes para ter investimento
Plano do Planalto é direcionar a economia obtida nos gastos para investimentos, principalmente por meio do BNDES
Medida, para manter nível de investimentos, foi discutida por assessores e conselheiros econômicos de Lula no início desta semana
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em reação aos efeitos da crise sobre o mercado de crédito, o
governo Lula estuda promover
corte de gastos de custeio, entre eles de pessoal, e direcionar
essa economia para investimentos, principalmente para o
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social).
Essa medida está sendo proposta por assessores e conselheiros informais do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e foi
discutida no Palácio do Planalto no início desta semana, diante do agravamento da crise internacional.
Ela seria adotada como forma de evitar uma queda no nível de investimentos do país,
que são considerados fundamentais para que o ritmo de
crescimento da economia seja
mantido mesmo em um cenário de escassez de linhas de crédito externas.
A redução nos gastos de custeio já vinha sendo defendida
internamente dentro do governo, mas, de acordo com um auxiliar de Lula, agora a "ficha da
equipe econômica caiu", depois
do agravamento das turbulências no mercado financeiro em
todo o mundo.
A idéia não é aumentar o superávit primário, recentemente elevado de 3,8% para 4,3% do
PIB (Produto Interno Bruto),
mas fazer uma "melhora na
qualidade do gasto público". Ou
seja, cortar despesas correntes
e direcionar essa sobra para investimentos.
Segundo relato de um assessor, o mais importante neste
momento é que o presidente já
tomou "a decisão política" de
suprir a economia com financiamentos caso a crise de crédito se prolongue e afete os planos de investimentos das empresas brasileiras.
Essa economia extra do Orçamento da União pode ser
destinada para aumentar o potencial de investimentos do
BNDES, que nesse ano vai desembolsar cerca de R$ 85 bilhões para projetos.
Análise de impactos
Agora, a equipe econômica
analisa qual será o impacto desse bloqueio no crédito externo
sobre a economia do país e
quanto seria necessário para
atender as necessidades de caixa das empresas nacionais.
No curto prazo, o BNDES já
dispõe de recursos para atender pedidos extras de financiamentos por conta dos recentes
aumentos de capitais feitos pelo Tesouro -que totalizaram
uma injeção adicional no caixa
do banco de R$ 22 bilhões. O
problema começaria a aparecer
no segundo trimestre de 2009
caso a crise se prolongue e o
mercado de crédito fique totalmente paralisado por um período longo.
O Ministério da Fazenda
considera fundamental fortalecer o BNDES nesse momento
de crise porque os empresários
brasileiros perderam uma das
fontes de recursos baratos -as
captações externas-, que lhes
permitiam fugir dos elevados
juros cobrados pelos bancos
privados nacionais. A outra é
exatamente o BNDES.
Um assessor da Fazenda diz
o seguinte sobre a necessidade
de reforçar o banco com novos
recursos: "Antes as empresas
tinham como fugir da alta das
taxas de juros internas buscando recursos no mercado externo ou no BNDES. Uma delas está secando, a outra está com sua
capacidade já no topo."
Além das dificuldades no
acesso ao crédito, a equipe econômica avalia que as turbulências internacionais terão impacto negativo no ritmo de
queda da inflação. Com o dólar
em alta, o ritmo de convergência da inflação para a meta de
4,5% em 2009 será mais lento
do que o previsto.
Por outro lado, o Palácio do
Planalto espera que o agravamento da crise internacional
leve o Banco Central a reduzir a
dose do aumento dos juros na
última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)
deste ano.
A expectativa é que o BC vá
um pouco mais devagar no
ajuste da política monetária e
reduza as altas de juros de 0,75
ponto percentual para pelo menos 0,50 ponto diante da certa
desaceleração econômica
mundial e conseqüente queda
nos preços das commodities.
Quanto ao crescimento do
PIB brasileiro, apesar dos discursos oficiais otimistas, a
equipe econômica já trabalha
com a possibilidade de que, em
2009, ele fique entre 3,5% e 4%
se a penúria no mercado de crédito e a recessão forem mais
profundas e avançarem pelos
próximos meses.
Texto Anterior: Exportador lista sugestões para estimular vendas Próximo Texto: BNDES diz que garantirá crédito para empresas Índice
|