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Foco
Em Wall Street, quem pedia filé agora só quer comer hambúrguer
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
No Distrito Financeiro de
Nova York, não são só bancos e seguradoras que estão
sendo afetados pelas turbulências em Wall Street: bares
e restaurantes locais, geralmente lotados de investidores e corretores da Bolsa, estão às moscas e relatam queda de até 50% na freqüência.
"Você pode sentir o nervosismo no ar", afirmou Angelo Vavouliotis, 34, gerente do
popular restaurante Bull
Run, na esquina das ruas Williams e Pine. Vavouliotis estima que a quantidade de
clientes para o almoço, em
queda gradativa desde o início da crise, chegou a, no máximo, metade do normal para esta época do ano.
E não é só. "Os clientes estão gastando menos. Quem
pedia filé [US$ 35] agora só
quer hambúrguer [US$ 15]".
Desde o ano passado, a casa reduziu o número de funcionários em 10% a 15%.
"Não quero dispensar mais
gente, mas vamos ver como
será o inverno."
O temor é de uma reação
em cadeia: estimativas estaduais dão conta de que cada
emprego em Wall Street cria
três outros na região metropolitana de Nova York. Só
neste ano, Wall Street cortou
25 mil postos de trabalho;
outros 10 mil estão na berlinda com o colapso do Lehman Brothers e a venda
apressada do Merrill Lynch.
Um dos que pode estar a
perigo é o garçom brasileiro
Ulisses Vieira, 43, há três
anos nos EUA e cerca de dois
no Bull Run. Ele conta ter
atendido vários clientes do
mercado financeiro demitidos nos últimos dias: "Chegam carregando caixas com
o material do escritório e ficam bebendo até a hora de
fechar. Muitos choram. Está
assim em todo lugar."
A ordem de seu atendimento também mudou: agora, antes de comer, executivos vão direto para a TV.
Na elegante filial do restaurante Cipriani em Wall
Street, o clima era o mesmo.
Às 15h, havia só dois clientes.
O gerente, Adil Avunduk, 29,
crê que "as pessoas estão trabalhando freneticamente e
não param para comer". O
restaurante, que costumava
receber cerca de 70 pessoas
por dia para o almoço -70%
executivos da área financeira-, atende hoje apenas 40.
Mesmo no Mangia, uma
casa menos sofisticada quase
em frente à Bolsa de Valores
de Nova York, os efeitos da
turbulência foram sentidos.
Além do almoço mais vazio,
o serviço de buffet particular
registra queda ainda mais
acentuada, com as empresas
cortando o número de coquetéis organizados, segundo a gerência.
Parece que, em Wall
Street, não há motivo para
celebrar.
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