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Para Lula, a Marinha deve dar proteção ao pré-sal
Preocupação do presidente é
com a Quarta Frota dos EUA
GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RIO GRANDE (RS)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, por
causa da reativação da Quarta
Frota Naval dos Estados Unidos, a Marinha brasileira deve
"proteger" as reservas de petróleo recentemente descobertas
na camada do pré-sal.
"A Marinha joga um papel
importante para proteger o
nosso pré-sal, porque os homens [os norte-americanos] já
estão aí com a Quarta Frota,
quase que em cima do pré-sal",
disse Lula durante a cerimônia
de inauguração da plataforma
P-53, em Rio Grande (310 km
de Porto Alegre).
Mobilizada para deter a
ameaça nazista no Atlântico
Sul durante a Segunda Guerra
Mundial, a Quarta Frota norte-americana atuou entre os anos
de 1943 e 1950. O governo de
Washington reativou-a em julho a guarnição para atuar na
América do Sul, na América
Central e no Caribe.
"A Marinha tem que ser a
guardiã das nossas plataformas
em alto-mar para que a gente
possa fiscalizar o patrimônio,
porque daqui a pouco chega um
espertinho aqui e fala "é meu [o
petróleo]", está no fundo do
mar mesmo'", discursou Lula.
O discurso do presidente reflete uma inquietação do governo, sobretudo do Itamaraty e
de setores da Defesa, com a nova mobilização da Quarta Frota
pouco depois do anúncio da
existência de campos de petróleo a quase 7.000 metros de
profundidade, numa região que
abrange águas territoriais entre os litorais do Espírito Santo
e de Santa Catarina.
A Quarta Frota também renasce sob uma conjuntura internacional de cotações do barril do petróleo acima de US$
100 e de dificuldades nas relações dos Estados Unidos, o
maior importador do mundo,
com exportadores tradicionais,
como a Venezuela.
Mobilização burocrática
Os Estados Unidos alegam
que a nova mobilização teria
uma natureza mais burocrática
-a Quarta Frota não teria navios próprios, mas teria sob sua
jurisdição embarcações que entrassem em águas internacionais no Atlântico Sul e no Caribe.
Ao responder a uma pergunta da Folha sobre a suposta
ameaça da Quarta Frota, Lula
disse que nem Bush nem a secretária de Estado, Condoleezza Rice, deram explicações
convincentes a respeito e que
há preocupações do governo na
defesa das águas territoriais.
"Eu já tive oportunidade de
conversar com o presidente
Bush sobre a Quarta Frota, o
Celso Amorim [Relações Exteriores] conversou com a Condoleezza, e obviamente que nós
estamos preocupados", disse.
"Eles dizem que não é nada,
que é apenas uma coisa de pesquisa, mas de qualquer forma
estamos preocupados porque é
muito próximo da fronteira
marítima brasileira", respondeu o presidente Lula.
Pré-sal
Lula chamou a descoberta de
petróleo na camada pré-sal de
"dádiva de Deus" e afirmou que
o Brasil ainda precisa desenvolver tecnologia para a extração
do combustível a até 7.000 metros de profundidade. O presidente voltou a defender o uso
dos lucros obtidos com as novas reservas para investimentos em educação.
O discurso de Lula foi proferido diante de uma platéia de
aproximadamente 2.000 pessoas, a maioria operários da indústria naval que trabalharam
P-53. A nova plataforma terá
capacidade para extrair 180 mil
barris de petróleo por dia (7%
da produção nacional), a 2.500
metros de profundidade, do
campo de Marlim Leste, na bacia de Campos (120 km do litoral do Rio de Janeiro).
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