São Paulo, sexta-feira, 19 de setembro de 2008

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Para Lula, a Marinha deve dar proteção ao pré-sal

Preocupação do presidente é com a Quarta Frota dos EUA

GRACILIANO ROCHA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RIO GRANDE (RS)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que, por causa da reativação da Quarta Frota Naval dos Estados Unidos, a Marinha brasileira deve "proteger" as reservas de petróleo recentemente descobertas na camada do pré-sal.
"A Marinha joga um papel importante para proteger o nosso pré-sal, porque os homens [os norte-americanos] já estão aí com a Quarta Frota, quase que em cima do pré-sal", disse Lula durante a cerimônia de inauguração da plataforma P-53, em Rio Grande (310 km de Porto Alegre).
Mobilizada para deter a ameaça nazista no Atlântico Sul durante a Segunda Guerra Mundial, a Quarta Frota norte-americana atuou entre os anos de 1943 e 1950. O governo de Washington reativou-a em julho a guarnição para atuar na América do Sul, na América Central e no Caribe.
"A Marinha tem que ser a guardiã das nossas plataformas em alto-mar para que a gente possa fiscalizar o patrimônio, porque daqui a pouco chega um espertinho aqui e fala "é meu [o petróleo]", está no fundo do mar mesmo'", discursou Lula.
O discurso do presidente reflete uma inquietação do governo, sobretudo do Itamaraty e de setores da Defesa, com a nova mobilização da Quarta Frota pouco depois do anúncio da existência de campos de petróleo a quase 7.000 metros de profundidade, numa região que abrange águas territoriais entre os litorais do Espírito Santo e de Santa Catarina.
A Quarta Frota também renasce sob uma conjuntura internacional de cotações do barril do petróleo acima de US$ 100 e de dificuldades nas relações dos Estados Unidos, o maior importador do mundo, com exportadores tradicionais, como a Venezuela.

Mobilização burocrática
Os Estados Unidos alegam que a nova mobilização teria uma natureza mais burocrática -a Quarta Frota não teria navios próprios, mas teria sob sua jurisdição embarcações que entrassem em águas internacionais no Atlântico Sul e no Caribe.
Ao responder a uma pergunta da Folha sobre a suposta ameaça da Quarta Frota, Lula disse que nem Bush nem a secretária de Estado, Condoleezza Rice, deram explicações convincentes a respeito e que há preocupações do governo na defesa das águas territoriais.
"Eu já tive oportunidade de conversar com o presidente Bush sobre a Quarta Frota, o Celso Amorim [Relações Exteriores] conversou com a Condoleezza, e obviamente que nós estamos preocupados", disse.
"Eles dizem que não é nada, que é apenas uma coisa de pesquisa, mas de qualquer forma estamos preocupados porque é muito próximo da fronteira marítima brasileira", respondeu o presidente Lula.

Pré-sal
Lula chamou a descoberta de petróleo na camada pré-sal de "dádiva de Deus" e afirmou que o Brasil ainda precisa desenvolver tecnologia para a extração do combustível a até 7.000 metros de profundidade. O presidente voltou a defender o uso dos lucros obtidos com as novas reservas para investimentos em educação.
O discurso de Lula foi proferido diante de uma platéia de aproximadamente 2.000 pessoas, a maioria operários da indústria naval que trabalharam P-53. A nova plataforma terá capacidade para extrair 180 mil barris de petróleo por dia (7% da produção nacional), a 2.500 metros de profundidade, do campo de Marlim Leste, na bacia de Campos (120 km do litoral do Rio de Janeiro).


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