|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O PT e o mercado de capitais
A inda faltam detalhes a
serem conhecidos na recente proposta do PT de criação de
um sistema de investimento no
mercado de capitais com base
nos recursos dos fundos sociais.
A proposta explora com competência dois trunfos aos quais a
gestão Fernando Henrique Cardoso jamais recorreu: o sistema
de consultas à sociedade, para a
incorporação de boas idéias; e a
ênfase na modernização da produção.
Assim como nas empresas, há
três formas de gestão para países: as ruinosas, as conformadas
e as revolucionárias. Os anos 90
mudaram a face do país. Erros
foram cometidos, assim como
acertos. Evito as condenações peremptórias para não dar alimento aos que pretendem salgar
a terra depois do dia 1º de janeiro. Mas foi uma década conformada apenas que será conhecida como a década das oportunidades perdidas. Com a liquidez
internacional existente e o país
inteiro por construir, aberto a
novas idéias, poderia ter sido
moldada uma nação amplamente competitiva.
Não se chegou ao que poderia
ter sido, em parte devido à total
incapacidade dos governantes
-Collor, Itamar e FHC- de
ousar idéias criativas. E, com exceção de Collor, de tomar decisões tendo como foco o aumento
da competitividade.
No início dos anos 90 surgiu a
idéia de montar um grande encontro de contas (de dívidas cruzadas de União, Estados e municípios com fundos sociais), permitindo aos fundos se capitalizarem, participando do processo
de privatização. Isso resultaria
em grandes empresas públicas
com capital pulverizado, criaria
um mercado de capitais relevantes e ainda haveria recursos para
resolver o maior dos problemas:
a capitalização da Previdência,
permitindo mudar do sistema
atual de repartição simples para
o de capitalização.
Não prosperou por conta de
falta de ousadia dos governantes
e dos enormes interesses envolvidos na política monetária e na
própria privatização. Em vão se
tentou levantar essa bandeira. A
opinião pública, os políticos, os
governantes só tinham olhos para "pacotes", para a visão simplista de que um país se constrói
apenas estabilizando os preços e
abrindo a economia.
Logo no início da campanha
presidencial mexicana, afirmei
aqui que Vicente Fox representava o novo paradigma do governante latino-americano, por
sua ênfase nos aspectos gerenciais, no planejamento estratégico indicativo, na busca da competitividade sistêmica do país.
Por aqui, o país avançou no
plano institucional, mas no da
competitividade e da produção
pouco se fez. Melhoraram as antigas estatais, agora privatizadas, foram lançadas as bases para uma integração da logística,
conseguiu-se investimento relevante de multinacionais, estimuladas pela extraordinária liquidez financeira dos anos 90.
Mas nunca se teve verdadeiramente o foco na produção, na
competitividade, na preparação
do país para entrar na batalha
da globalização, naquilo que é
fundamental para o desenvolvimento sustentado, como a modernização do mercado de capitais, o estímulo aos fundos de investimento, a articulação das cadeias produtivas, a ênfase na
inovação.
O PT recolheu parte de uma
idéia, das muitas que surgiram
nos anos 90 e definharam por
falta de compreensão nacional
sobre o verdadeiro foco das políticas econômicas. Não se sabe se,
no poder, o partido irá ousar, irá
garimpar novas idéias e soluções. Se ousar avançar além das
soluções convencionais, não embarcar na arrogância intelectual
que cegou muitas vezes o atual
governo, haverá muita coisa a
construir.
Juros
Fernando Henrique Cardoso e
Pedro Malan foram comunicados da elevação dos juros apenas
depois de a decisão ter sido tomada.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Dólar e risco voltam a cair, e Bolsa, a subir Próximo Texto: Panorâmica - Impostos: Erro da Receita libera restituição de 150 mil sem análise sobre as declarações Índice
|