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Especialista aponta risco de desincentivo à contratação de mulheres
TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO
Os especialistas se dividem
sobre os benefícios da ampliação da licença-maternidade,
com prós e contras que mudam
de acordo com o ponto de vista,
que pode ser o da mulher, da
empresa ou do Estado.
Um dos argumentos é que o
afastamento por um período
tão longo pode incentivar as
empresas a optarem pela contratação de profissionais do sexo masculino. "A empresa terá
de arcar com o custo de colocar
outro trabalhador no lugar e de
treinar essa pessoa, que certamente será menos produtiva
[do que a que pediu licença]",
avalia Paulo Tafner, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Para ele, como a escolha vai
levar em conta os gastos com
esse profissional, não é certo falar em discriminação, mas em
"desincentivo à contratação de
mulheres em fase reprodutiva".
Além disso, diz, essa profissional pode ficar desatualizada e
ser mais facilmente substituída
ao retornar ao emprego.
Para a advogada trabalhista
Nadia Lacerda, a mudança vai
beneficiar as mães de baixa
renda, mas pode não ser tão
vantajosa para as altamente
qualificadas. "A flexibilização
de horários, a disponibilidade
de creches e o trabalho em domicílio atendem ao mesmo
propósito sem tantos impactos
negativos na vida profissional."
Sobre os direitos trabalhistas, ela frisa que, "uma vez que a
empresa decidir adotar esse incentivo, terá que oferecê-lo indistintamente", ou seja, estender o período para todas as funcionárias, independentemente
do cargo que ocupam. "Nesse
caso, cabe à mulher decidir o
período [de ausência]."
Segundo a advogada, o ponto
positivo do projeto de lei que
amplia de 120 para 180 dias o
prazo de licença é que a medida
é facultativa. Já para o economista Marcelo Neri, da FGV
(Fundação Getulio Vargas), se
não há obrigatoriedade, pode
não haver efeito prático.
"O empregador privado não
está pensando no futuro do filho daquela mulher, mas o Estado deve pensar", ressalta. No
Brasil, cita, só 12% das crianças
de até três anos de idade estão
em creches. "O melhor retorno
é cuidar da criança no início da
vida, principalmente no caso
das pobres."
No estudo "The World's Women 2005", das Nações Unidas,
dois países da América do Sul
aparecem com licença-maternidade de 18 semanas, Venezuela e Chile, e, em ambos, a seguridade social paga 100% do salário. Já nos EUA, a mulher
pode ficar 12 semanas fora da
empresa, mas sem remuneração, assim como na Austrália,
onde a ausência é de 52 semanas. Nos Brics, a Rússia é o país
que oferece a maior licença (20
semanas), com o salário pago
pela seguridade social. Na Índia, o Estado também arca com
as despesas, mas o afastamento
é menor (12 semanas). Já na
China, onde o empregador garante a remuneração da trabalhadora, são 13 semanas.
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