São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O dólar volta ao centro do palco


G7, detritos da crise financeira, EUA em marcha lenta e juros estáveis no Brasil vão refazer a fama do dólar na temporada

A ESPECULAÇÃO com preços de commodities cresceu com a queda do dólar e com a aposta da finança em outra queda dos juros americanos no final do mês, decisão porém tão incerta como os resultados do Campeonato Brasileiro de futebol. O preço de commodities, muitas cotadas em Bolsas americanas, tende a subir quando o dólar cai por mero ajuste monetário.
Mas também estão também especulando com petróleo, pois a demanda está alta mesmo, há bafafá geopolítico e não há muito como o "preço fundamental" do barril cair. Onde fica o preço "fundamental" são outros quinhentos. Mas o caso aqui não é petróleo, nem a demência de Bush com sua Terceira Guerra ou de turcos vs. curdos É o dólar.
Como previsto, o dólar degringolou depois do talho de juros nos EUA. Tropeçou na escada com o anúncio de que os juros no Brasil ficariam no degrau em que estão, por alguns meses. "Alguns" meses quer dizer no mínimo três, o que já está dado, ou até nove meses, meados do ano que vem, para os mais pessimistas ou gulosos. O saldo comercial cadente, mas grande, mantém a pressão sobre as verdinhas. O desconforto mundial de manter dólares na caixinha dá um empurrão adicional.
Enfim, a rentabilidade média dos exportadores voltou a dar uma piorada, em termos anuais, de meados do ano para cá (embora ainda existam vários setores explodindo no comércio exterior, por causa de preço). O dólar, pois, voltará a ser a estrela da companhia de polêmicas diárias de política econômica.
Detritos da ruína imobiliária nos EUA e da crise financeira euro-americana de julho-setembro voltaram a repercutir no mercado de crédito e nas perspectivas da atividade econômica dos EUA. Era previsto que a temporada de balanços americanos, em especial o dos bancos, iria causar alguma dança no mercado.
O zunzum que antecede as reuniões do G7 talvez tenha alguma influência, muito marginal, se tanto, pois os europeus neste final de semana vão reclamar do euro forte com os americanos (no entanto, as exportações européias vão bem).
Mas, nos últimos 20 anos, queixas cambiais de parte a parte têm redundado em nada. Bem, passados os rumores e solavancos do período, o que resta? O dólar fica fraco no mundo, deslizando para baixo com a economia americana, mas sem tragédia. Mas, no Brasil, tudo o mais constante, parece óbvio que o vento soprará forte nas velas do real pelo menos até o começo do ano que vem. Mas até onde?
Calculistas de mercado diziam que, em algum momento do ano que vem, cairia a ficha de que o saldo comercial vai encolher, o saldo em conta corrente seria zerado e que, então, haveria a perspectiva de piso para o dólar. Mas, com os juros no degrau em que estão no Brasil e subindo em relação às taxas do centro rico do planeta, com a Bolsa animada etc., a "hora da virada" (da "barreira psicológica" final, da "perspectiva de piso" e outras cascatas) teria sido empurrada para as calendas do meio para o final do ano que vem.
Dólar a R$ 1,65? R$ 1,60?
Depende dos juros do BC brasileiro, um pouco, e de o caldo engrossar de novo na finança mundial ou de a economia americana der novos tropeços. Há muito pouco a fazer.

vinit@uol.com.br


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