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Cisco burlou pagamento a executivos, diz PF
Segundo investigação, dirigentes da multinacional no país recebiam a maior parte dos salários por meio de empresas fantasmas
Empresas pagadoras estão registradas em nome dos próprios funcionários da Cisco e recolhiam menos impostos, informa a polícia
Fernando Vivas/Agência A Tarde/Folha Imagem
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Porto de Salvador, onde trabalhavam auditores presos |
LILIAN CHRISTOFOLETTI
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
MARIO CESAR CARVALHO
EM SAN FRANCISCO
Os principais dirigentes da
Cisco no Brasil, acusados de
fraude fiscal em transações de
importação de produtos de informática, recebiam a maior
parte de seus salários por meio
de empresas que só existiam no
papel. A prática, segundo informa a Polícia Federal, ajudou a
reduzir significativamente a incidência de tributos e a burlar a
Receita Federal.
Essas empresas fantasmas
estão registradas em nome dos
próprios dirigentes da Cisco,
informa a polícia, que, no entanto, não os identificou nominalmente no relatório final.
Na Operação Persona, realizada há três dias, a PF, a Receita
e o Ministério Público Federal
prenderam 40 pessoas, entre
elas o atual e o ex-presidente da
Cisco no Brasil, Pedro Ripper e
Carlos Roberto Carnevali, e a
vice-presidente, Daniela Wink
Ruiz. Eles foram acusados de
sonegar, nos últimos cinco
anos, R$ 1,5 bilhão em impostos devidos e não recolhidos.
"As fraudes não se restringem às operações mercantis
entre as empresas envolvidas
no esquema. Elas alcançam
seus principais dirigentes,
principalmente na forma de remuneração dos mesmos, que se
processaria da mesma forma
que o fluxo comercial, ou seja,
através da utilização de empresas de fachada", informa o relatório da PF.
Segundo o documento de
cerca de 1.300 páginas da polícia, que investigou o caso por
dois anos, as empresas fantasmas que serviam para pagar os
salários dos dirigentes simulavam a prestação de serviços à
Mude Comércio e Serviços
Ltda, que atuava como importadora da Cisco.
"A vantagem financeira desse modelo [recebimento via
empresa fantasma] é grande,
visto que permite uma redução
significativa de tributos, beneficiando as pessoas físicas, cuja
remuneração vem em quase
sua totalidade como rendimentos isentos", diz o relatório.
Algumas das empresas usadas pelos dirigentes, segundo a
PF, eram do regime do Simples.
De acordo com Gilberto Luiz
do Amaral, especialista em planejamento tributário, no regime tradicional uma empresa
contrata um funcionário e paga
aos cofres públicos cerca de
44% de seu salário.
Em contrapartida, o funcionário é obrigado a declarar o salário recebido integralmente ao
fisco e a pagar entre 15% e
27,5% sobre esse total como
Imposto de Renda (IR).
Pelo regime citado pela PF, a
empresa tributada pelo Simples arcaria com apenas 14%
dos encargos. O funcionário
lançaria uma pequena parcela
de seus ganhos como pró-labore, e o restante, como distribuição de lucros.
Segundo Amaral, a legislação
prevê, nesse caso, que o recolhimento do IR recaia sobre o
pró-labore, não sobre o lucro, o
que dá uma diferença considerável para menos.
Fachada
O uso de empresas fantasmas
para recebimento de salário se
repetiu, segundo a PF, no suposto esquema armado pela
Cisco e pela Mude, que têm
atuação nos EUA e no Brasil,
para sonegar imposto.
Pela investigação, as duas
empresas montaram uma rede
de 14 outras empresas que tinham como sócias "offshores"
(companhias sediadas em paraísos fiscais) e laranjas -que
apenas emprestam o nome.
Num dos casos, um laranja
importou R$ 109 milhões, em
2005, e R$ 324 milhões, em
2006. Segundo a PF, seus ganhos eram incompatíveis com
essas movimentações.
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