São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De saída, Rato afirma que criticar FMI não é atitude "inteligente"

Afirmação foi resposta à crítica de Lula, que recomendou a criação de instituições de países em desenvolvimento para evitar imposições de FMI e Banco Mundial

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo de Rato, afirmou ontem que não seria "muito inteligente" da parte dos países emergentes, entre eles o Brasil, criticar o papel da instituição que comanda.
O comentário respondeu às críticas sobre a falta de representatividade dos emergentes no FMI e ao esvaziamento das funções do órgão, já que países antes em crise honraram dívidas e estão estáveis.
"Hoje presenciamos desafios nos países desenvolvidos e oportunidades nos em desenvolvimento. Costumava ser o contrário, mas as coisas mudam rapidamente. Não seria muito inteligente àqueles que hoje estão do lado das oportunidades acreditar que os desafios não poderão voltar."
Rato, porém, recusou-se a comentar declarações do presidente Lula, que pregou a criação de instituições mais afinadas com os países pobres.
Em visita ao Congo [África], terça, Lula disse que é hora "de acordar". "Os países em desenvolvimento devem criar os próprios mecanismos de financiamento em vez de sofrerem imposições de FMI e Banco Mundial, órgãos de países ricos."
Rato não quis comentar: "Não vou mudar minhas regras. Não comento declarações feitas por outras pessoas". Mas lembrou as boas relações com o Brasil e Lula: "Estivemos juntos em agosto e falamos sobre a reforma do FMI. E estamos nos mexendo aqui para dar mais voz aos emergentes".
O diretor-gerente do Fundo disse que está sendo formado um consenso entre os sócios para ajustar o sistema de cotas (que define o poder de voto de cada membro) ao PIB per capita dos países calculado pela paridade de poder de compra (PPC). O Brasil, que tem hoje um peso relativo de 1,4%, seria beneficiado pela mudança.
Rato está de saída do FMI. A reunião desta semana será a última comandada pelo espanhol, que será substituído pelo ex-ministro francês das Finanças Dominique Strauss-Kahn.
O Banco Mundial (Bird), instituição "irmã" do FMI, também tem novo comando há pouco tempo. O ex-representante comercial dos EUA Robert Zoellick, chamado de "sub do sub do sub" por Lula, completou cem dias no cargo.
Zoellick substituiu o ex-secretário-adjunto de Defesa dos EUA, Paul Wolfowitz, que caiu após beneficiar sua namorada.
Em sua primeira entrevista durante a reunião anual do FMI e do Bird, Zoellick contemporizou as críticas dos emergentes dirigidas às instituições. Sobre as declarações de Lula, disse que "temos muito a aprender com o passado".
"O que precisamos é ajudar os países e a se ajudarem. Não existe uma única fórmula que sirva para todos, e a soberania dos países nesses programas é critica. Precisamos entender o funcionamento dos países para saber exatamente do que eles precisam. Eu gostaria de multiplicar o leque de parcerias que temos com todos eles."
Como exemplo de "parcerias", o presidente do Bird citou o caso do Brasil e do programa Bolsa Família, que o banco ajudou a desenvolver.
Ainda em relação ao Brasil, Zoellick disse que o Bird vem conversando com representantes de vários Estados para desenvolver parcerias de financiamento e ajuda para equacionar problemas relacionados às suas dívidas.


Texto Anterior: Lula minimiza parada nos cortes da Selic
Próximo Texto: Mantega diz que, sob crise, país precisa do Fundo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.