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De saída, Rato afirma que criticar FMI não é atitude "inteligente"
Afirmação foi resposta à crítica de Lula, que recomendou a criação de instituições de países em desenvolvimento para evitar imposições de FMI e Banco Mundial
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O diretor-gerente do FMI
(Fundo Monetário Internacional), Rodrigo de Rato, afirmou
ontem que não seria "muito inteligente" da parte dos países
emergentes, entre eles o Brasil,
criticar o papel da instituição
que comanda.
O comentário respondeu às
críticas sobre a falta de representatividade dos emergentes
no FMI e ao esvaziamento das
funções do órgão, já que países
antes em crise honraram dívidas e estão estáveis.
"Hoje presenciamos desafios
nos países desenvolvidos e
oportunidades nos em desenvolvimento. Costumava ser o
contrário, mas as coisas mudam rapidamente. Não seria
muito inteligente àqueles que
hoje estão do lado das oportunidades acreditar que os desafios não poderão voltar."
Rato, porém, recusou-se a
comentar declarações do presidente Lula, que pregou a criação de instituições mais afinadas com os países pobres.
Em visita ao Congo [África],
terça, Lula disse que é hora "de
acordar". "Os países em desenvolvimento devem criar os próprios mecanismos de financiamento em vez de sofrerem imposições de FMI e Banco Mundial, órgãos de países ricos."
Rato não quis comentar:
"Não vou mudar minhas regras. Não comento declarações
feitas por outras pessoas". Mas
lembrou as boas relações com o
Brasil e Lula: "Estivemos juntos em agosto e falamos sobre a
reforma do FMI. E estamos nos
mexendo aqui para dar mais
voz aos emergentes".
O diretor-gerente do Fundo
disse que está sendo formado
um consenso entre os sócios
para ajustar o sistema de cotas
(que define o poder de voto de
cada membro) ao PIB per capita dos países calculado pela paridade de poder de compra
(PPC). O Brasil, que tem hoje
um peso relativo de 1,4%, seria
beneficiado pela mudança.
Rato está de saída do FMI. A
reunião desta semana será a última comandada pelo espanhol, que será substituído pelo
ex-ministro francês das Finanças Dominique Strauss-Kahn.
O Banco Mundial (Bird), instituição "irmã" do FMI, também tem novo comando há
pouco tempo. O ex-representante comercial dos EUA Robert Zoellick, chamado de "sub
do sub do sub" por Lula, completou cem dias no cargo.
Zoellick substituiu o ex-secretário-adjunto de Defesa dos
EUA, Paul Wolfowitz, que caiu
após beneficiar sua namorada.
Em sua primeira entrevista
durante a reunião anual do
FMI e do Bird, Zoellick contemporizou as críticas dos
emergentes dirigidas às instituições. Sobre as declarações
de Lula, disse que "temos muito a aprender com o passado".
"O que precisamos é ajudar
os países e a se ajudarem. Não
existe uma única fórmula que
sirva para todos, e a soberania
dos países nesses programas é
critica. Precisamos entender o
funcionamento dos países para
saber exatamente do que eles
precisam. Eu gostaria de multiplicar o leque de parcerias que
temos com todos eles."
Como exemplo de "parcerias", o presidente do Bird citou
o caso do Brasil e do programa
Bolsa Família, que o banco ajudou a desenvolver.
Ainda em relação ao Brasil,
Zoellick disse que o Bird vem
conversando com representantes de vários Estados para desenvolver parcerias de financiamento e ajuda para equacionar problemas relacionados às
suas dívidas.
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