|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VITÓRIA ORTODOXA
Assim como sua gestão, afastamento de Lessa gerou apoio e reprovação; simpatizantes dizem que "neoliberalismo não venceu"
Demissão divide funcionários do BNDES
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A escolha do ministro do Planejamento, Guido Mantega, para
presidir o BNDES foi recebida pelo corpo técnico da instituição
que apoiava Carlos Lessa como sinal de continuidade de sua política. "O neoliberalismo não venceu", afirmavam assessores da alta direção, comemorando.
Já os desafetos de Lessa no banco celebraram o afastamento.
Segundo informações que circulavam ontem no BNDES, o ministro do Desenvolvimento, Luiz
Furlan, ao qual o BNDES é subordinado, teria indicado para substituir Lessa o economista Paulo
Leme, diretor de pesquisa de mercados emergentes do banco americano Goldman Sachs, apontado
como símbolo do pensamento ortodoxo e defensor da atual política do Banco Central, contra a qual
Lessa havia se insurgido.
Para os assessores, a conversa
que o "professor" teve com Lula
ontem em Brasília era sinal de que
a demissão estava consumada.
Lessa, que está de muletas por
causa de um tombo que sofreu,
chegou à sede do BNDES no Rio
às 15h30, e seguiu direto para o
gabinete da presidência, onde o
aguardava o governador de Sergipe, João Alves Filho, para a assinatura de um acordo na área de microcrédito.
Pouco depois da chegada de
Lessa à sede do BNDES, Mantega
avisou aos diretores do banco que
assistissem à entrevista coletiva
que daria em Brasília, no final da
tarde. O recado foi interpretado
como mais um sinal de continuidade do modelo de gestão do banco. Durante a entrevista, Mantega
foi pródigo em elogios ao antecessor Carlos Lessa.
A saída de Lessa da presidência
do banco, segundo análises feitas
ontem dentro do BNDES, representaria uma vitória apenas parcial de Furlan e da equipe econômica, contra os quais ele se indispôs. Mantega, a exemplo de Lessa,
tem ligação estreita com o presidente Lula. "Furlan também não
vai mandar em Mantega", era o
comentário.
Banco dividido
Quem chegava ao banco ontem,
no centro do Rio, diante da sede
da Petrobras, levava um susto.
Bem na hora em que Brasília confirmava a demissão de Lessa, cerca de 200 funcionários realizavam
uma barulhenta reunião no saguão do prédio.
Não se tratava de um gesto de
solidariedade ao então presidente
da instituição. Era uma assembléia para aprovar o acordo coletivo da categoria.
A saída de Lessa dividiu o banco, com comemorações e lamentações. Aliás, da mesma forma
que a instituição ficou dividida
durante toda a sua gestão.
Ao fazer uma "revolução" no
banco quando assumiu a presidência, trocando de uma só vez
praticamente todo o primeiro escalão da instituição, Carlos Lessa
e seu vice, Darc Costa, acumularam desafetos.
Funcionários de carreira do
banco que trabalharam em cargos
de confiança durante o governo
do presidente Fernando Henrique Cardoso ficaram sem função
alguma. Muitos passavam o dia
lendo livros e jornais.
Segundo esses funcionários, por
ordem de Darc Costa, cuja formação está solidamente ligada ao
pensamento da ESG (Escola Superior de Guerra), salas chegaram
a ser lacradas por suspeita de espionagem.
Colaborou Gabriela Wolthers,
da Sucursal do Rio
Texto Anterior: Bastidores: Furlan definirá vice no banco Próximo Texto: Saiba mais: Gestão de Lessa teve atritos com o setor bancário Índice
|