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BALANÇO
Política de liberação de recursos
do banco é motivo de divergência
DA SUCURSAL DO RIO
Principal agente financeiro para créditos de longo prazo no país,
o BNDES não conseguirá liberar
todos os recursos previstos no seu
orçamento para o ano. Para Carlos Lessa, faltaram grandes projetos. Para seus adversários, faltou
eficiência na administração.
Segundo o último Boletim de
Desempenho do BNDES, a estatal
liberou até outubro somente 63%
do recursos previstos para 2004.
De um orçamento de R$ 47,3 bilhões, foram desembolsados R$
29,8 bilhões. A soma total dá R$
31,8 milhões quando considerados recursos extraordinários do
Tesouro Nacional.
Os números do banco são utilizados tanto para defender como
para atacar a gestão Lessa. Para a
cúpula do banco, é necessário ressaltar que os recursos já desembolsados em 2004 superam em
45,3% o desempenho de igual período de 2003. E são 25% maiores
do que o resultado obtido de janeiro a outubro de 2002, último
ano do governo Fernando Henrique Cardoso. O orçamento do
banco vem aumentando a cada
ano. Era de R$ 33,4 bilhões em
2003 e de R$ 28 bilhões em 2002.
Os adversários dizem que o
ponto é que o banco não conseguirá emprestar o montante previsto e que os resultados não são
piores porque liberou grandes
quantias para setores que historicamente não eram prioridade.
Dois ex-presidentes do banco
na gestão FHC, que pediram que
seus nomes não fossem divulgados, citam o caso dos financiamentos para a produção de veículos para exportações. Neste ano, já
foram emprestados US$ 560 milhões, cerca de R$ 1,570 bilhão.
Em 2003, foram mais US$ 776 milhões (R$ 2,175 bilhões pela cotação atual). Um aumento de 441%
sobre 2002, último ano de FHC.
Nessa modalidade, o banco fornece capital de giro à indústria para que ela fabrique bens sob o
compromisso de exportá-los. Para os dois ex-presidentes, as grandes montadoras não deveriam receber capital de giro do BNDES
por terem facilidade de crédito no
exterior. O banco diz que a orientação do governo é para o BNDES
ajudar ao máximo as exportações.
Se auxiliou montadoras, Lessa
comprou briga com os bancos em
2003 ao tomar a decisão de conceder empréstimos diretamente à
Petrobras, excluindo a intermediação dos agentes financeiros.
Só em 2003, o financiamento
era de cerca de US$ 400 milhões,
cerca de R$ 1,120 bilhão pela cotação atual, para a malha Nordeste
de gás. Os bancos recebiam 4% de
comissão pela intermediação.
Outra disputa que marcou a
gestão foi com a empresa norte-americana de energia AES. A
multinacional, cuja dívida com o
banco somava US$ 1,2 bilhão, ficou inadimplente, sendo uma das
responsáveis pelo prejuízo de cerca de R$ 500 milhões do BNDES
no primeiro trimestre de 2003.
Após quase um ano de tensas
negociações, o BNDES e a AES
chegaram a um acordo. O BNDES
passou a ser sócio da Brasiliana,
empresa formada com a maior
parte dos bens da AES no Brasil. A
AES ficou com um débito remanescente de US$ 510 milhões, a ser
pago em 11 anos. A AES havia obtido dinheiro no BNDES para a
compra da Eletropaulo.
Dentro do governo, Lessa fazia
questão de afirmar que um dos
motivos de as liberações de recursos do banco estarem abaixo da
meta é o fato de a TJLP (Taxa de
Juro de Longo Prazo) estar muito
alta. A maioria dos financiamentos do BNDES é atrelada à TJLP,
hoje em 9,75% ao ano. O BNDES
defendia uma queda para 8%.
Quem decide a taxa é o Conselho
Monetário Nacional.
(GW)
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