São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BALANÇO

Política de liberação de recursos do banco é motivo de divergência

DA SUCURSAL DO RIO

Principal agente financeiro para créditos de longo prazo no país, o BNDES não conseguirá liberar todos os recursos previstos no seu orçamento para o ano. Para Carlos Lessa, faltaram grandes projetos. Para seus adversários, faltou eficiência na administração.
Segundo o último Boletim de Desempenho do BNDES, a estatal liberou até outubro somente 63% do recursos previstos para 2004. De um orçamento de R$ 47,3 bilhões, foram desembolsados R$ 29,8 bilhões. A soma total dá R$ 31,8 milhões quando considerados recursos extraordinários do Tesouro Nacional.
Os números do banco são utilizados tanto para defender como para atacar a gestão Lessa. Para a cúpula do banco, é necessário ressaltar que os recursos já desembolsados em 2004 superam em 45,3% o desempenho de igual período de 2003. E são 25% maiores do que o resultado obtido de janeiro a outubro de 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. O orçamento do banco vem aumentando a cada ano. Era de R$ 33,4 bilhões em 2003 e de R$ 28 bilhões em 2002.
Os adversários dizem que o ponto é que o banco não conseguirá emprestar o montante previsto e que os resultados não são piores porque liberou grandes quantias para setores que historicamente não eram prioridade.
Dois ex-presidentes do banco na gestão FHC, que pediram que seus nomes não fossem divulgados, citam o caso dos financiamentos para a produção de veículos para exportações. Neste ano, já foram emprestados US$ 560 milhões, cerca de R$ 1,570 bilhão. Em 2003, foram mais US$ 776 milhões (R$ 2,175 bilhões pela cotação atual). Um aumento de 441% sobre 2002, último ano de FHC.
Nessa modalidade, o banco fornece capital de giro à indústria para que ela fabrique bens sob o compromisso de exportá-los. Para os dois ex-presidentes, as grandes montadoras não deveriam receber capital de giro do BNDES por terem facilidade de crédito no exterior. O banco diz que a orientação do governo é para o BNDES ajudar ao máximo as exportações.
Se auxiliou montadoras, Lessa comprou briga com os bancos em 2003 ao tomar a decisão de conceder empréstimos diretamente à Petrobras, excluindo a intermediação dos agentes financeiros.
Só em 2003, o financiamento era de cerca de US$ 400 milhões, cerca de R$ 1,120 bilhão pela cotação atual, para a malha Nordeste de gás. Os bancos recebiam 4% de comissão pela intermediação.
Outra disputa que marcou a gestão foi com a empresa norte-americana de energia AES. A multinacional, cuja dívida com o banco somava US$ 1,2 bilhão, ficou inadimplente, sendo uma das responsáveis pelo prejuízo de cerca de R$ 500 milhões do BNDES no primeiro trimestre de 2003.
Após quase um ano de tensas negociações, o BNDES e a AES chegaram a um acordo. O BNDES passou a ser sócio da Brasiliana, empresa formada com a maior parte dos bens da AES no Brasil. A AES ficou com um débito remanescente de US$ 510 milhões, a ser pago em 11 anos. A AES havia obtido dinheiro no BNDES para a compra da Eletropaulo.
Dentro do governo, Lessa fazia questão de afirmar que um dos motivos de as liberações de recursos do banco estarem abaixo da meta é o fato de a TJLP (Taxa de Juro de Longo Prazo) estar muito alta. A maioria dos financiamentos do BNDES é atrelada à TJLP, hoje em 9,75% ao ano. O BNDES defendia uma queda para 8%. Quem decide a taxa é o Conselho Monetário Nacional. (GW)


Texto Anterior: Saiba mais: Gestão de Lessa teve atritos com o setor bancário
Próximo Texto: Administração: Gestão centraliza poder e modifica estrutura
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.