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OPINIÃO ECONÔMICA
Os riscos da inflação
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), de
aumentar em mais 0,5 ponto percentual a taxa Selic, jogou mais
lenha na fogueira do debate sobre
a questão dos juros, neste final de
2004. De um lado, os empresários
que reclamam desse novo arrocho
monetário, no momento em que o
mercado interno inicia um período mais sólido de crescimento; do
outro, os economistas de corte
mais ortodoxo, que defendem a
prioridade absoluta na busca da
meta para a inflação fixada para
2005 como única forma de evitar
a perda definitiva da credibilidade de nossa autoridade monetária.
Entre essas duas posições polares, encontramos um espaço para
um debate mais racional sobre a
questão principal que está por
trás da ação do Banco Central: o
comportamento da inflação nesta
virada de ano e ao longo de 2005.
É o que pretendo fazer a seguir!
Inicialmente, vamos separar o
problema em duas componentes
distintas e que, na maioria das
análises, aparecem confundidas
em uma única questão. A primeira é a busca da meta de inflação
de 5,1%, fixada para 2005 pelo
próprio Copom; a outra é como
enfrentar as pressões de preços
que estão aparecendo, principalmente em setores da indústria,
em razão do elevado volume de
nossas exportações, e o aumento
do consumo doméstico que está se
consolidando nestes últimos meses.
A busca da meta de inflação para 2005 é uma batalha perdida!
Isso até as pedras e a quase totalidade dos economistas que acompanham a economia brasileira já
sabem! Basta uma conta simples
para chegar a essa conclusão. Os
IGPs, que são os principais indicadores usados nos contratos de
preços com correção anual, devem terminar o ano na faixa dos
12%. Ao fim do primeiro semestre, devem cair para algo como
10,5%. Serão valores nesse intervalo que vão corrigir os preços administrados e monitorados -que
representam algo como 35% do
IPCA- ao longo do ano. Isso para não falar no aumento das tarifas de ônibus, depois de mais de
dois anos congeladas, que devem
representar um pequeno choque
de preços para o consumidor já
em janeiro.
Com isso, já temos uma inflação contratada da ordem de 3,3%
para a cesta de consumo do brasileiro. Os preços livres, que representam os outros 65% da cesta de
consumo, deveriam crescer, portanto, algo como 1,8% ao longo
do ano, ou seja, 0,15% ao mês.
Mesmo para que a inflação de
2005 fique dentro das estimativas
do mercado financeiro de 5,9%,
os preços livres não poderão crescer mais do que 0,22% ao mês, em
média, ao longo de seus 12 meses.
Basta um olhar ligeiro para o
comportamento desses preços, ao
longo dos últimos anos, para perceber o caráter heróico dessas
projeções.
Portanto, a questão central, envolvendo a busca da meta de inflação, é muito mais saber quando o Banco Central vai capitular
à realidade e qual o custo, em termos de crescimento econômico,
em que o governo vai incorrer.
Voltemos, agora, nossos olhos
para o segundo problema, esse,
sim, de natureza econômica, que
é o aparecimento de uma inflação
de demanda por conta do cobertor curto da oferta em setores importantes da indústria. Aqui temos uma questão interessante e
que merece uma reflexão mais
técnica. As expectativas sobre
nosso volume de exportações em
2005 são otimistas. Os preços de
uma cesta importante de nossa
pauta de exportações devem continuar sustentados pelo crescimento da China e de outros países da Ásia. Não se espera uma
nova rodada de aumentos, como
aconteceu neste ano, mas o cenário de uma queda brusca não está
no horizonte do mercado.
Nessa hipótese, e com as vantagens fiscais e financeiras que as
exportações apresentam para as
empresas brasileiras, não deve
ocorrer uma redução do esforço
exportador. Nossas exportações
devem continuar representando
cerca de 20% do PIB. A novidade,
para 2005, é que o consumidor
brasileiro, com o nível de emprego
em alta e com a recuperação dos
salários, vai aumentar sua participação no bolo da oferta de bens
e serviços. Nessa situação, a capacidade das empresas de aumentar
suas margens cresce, e os aumentos de preços devem se tornar
mais freqüentes. Embora as importações coloquem um teto para
esse processo, a necessidade de
chegar a um aumento mensal da
ordem de 0,20% ao mês, nos preços livres, fica ainda mais distante.
Sinal dessa dificuldade é o fato
de os núcleos dos índices de preços
ao consumidor continuarem, neste fim de ano, acima de 0,5% ao
mês. Os próximos meses serão
quentes no campo da inflação e
dos juros.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 62,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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