São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2004

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Prejuízo de investidor pode passar de R$ 1 bi

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos R$ 1,2 bilhão aplicado por investidores em papéis emitidos pelo Banco Santos para captar recursos no mercado pode ir para o vinagre em conseqüência da crise da instituição, sob intervenção do BC desde a última sexta-feira.
Trata-se de R$ 704,5 milhões em CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) e RDBs (Recibos de Depósitos Bancários) e outros R$ 487,5 milhões referentes a captações feitas no exterior, conforme dados do balanço publicado em 30 de junho deste ano. Com a crise do banco, esses papéis se desvalorizaram e podem virar pó, se for decretada a falência do banco, segundo analistas.
O banco administra ainda R$ 2,3 bilhões aplicados em fundos de investimento -a maioria exclusivos, de grandes investidores. Segundo o presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Marcelo Trindade, "os investidores que aplicaram em fundos estão em situação bem melhor do que aqueles que têm créditos a receber, referentes a aplicações em títulos emitidos pelo banco".
Trindade admitiu, entretanto, que os investidores dos fundos administrados pela Santos Asset Management poderão ter perdas decorrentes da desvalorização dos ativos de emissão do próprio banco, que estão nas carteiras dos fundos. "Mas eles vão receber grande parte do dinheiro." O presidente da CVM afirmou que "não há nenhuma acusação em relação à inexistência de ativos e estouro dos limites legais de aplicações" pelos fundos da Santos Asset Management.
A CVM, a pedido do interventor do BC, suspendeu na terça-feira, por 30 dias, as movimentações nos fundos de investimento do Santos. A medida já começa a atingir clientes de outros bancos.
Ontem, o Basa (Banco da Amazônia) comunicou aos clientes que, em conseqüência da decisão da CVM, o banco "vê-se compelido a suspender, temporariamente, as operações de resgate e aplicação" em quatro dos seus fundos que têm "posições do Banco Santos em suas carteiras" e que são geridos pela Santos Asset Management.
Analistas de mercado vinham, havia alguns meses, olhando com desconfiança as operações de captação do Banco Santos. Enquanto instituições do mesmo porte, como o BMG e o Panamericano, captavam recursos emitindo CDBs a uma taxa de juros equivalente a 103% e 105% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que reflete o juro médio praticado entre os bancos, o Santos pagava até 110%.
Em outubro, a taxa do CDI foi de 1,21%, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Operadores de renda fixa de corretoras de valores lembram que bancos de primeira linha, como Bradesco e Itaú, captam a uma taxa equivalente a 99% do CDI.
Uma regra básica de mercado, dizem os analistas, é que, quanto maior o retorno oferecido, maior o risco. Em 2002, o Banco Santos teria perdido R$ 30 milhões em operações de tesouraria, apostando na queda dos juros. O banco aplicou recursos em títulos públicos prefixados, que se valorizam quando o juro cai, mas a Selic subiu a partir do segundo semestre daquele ano.


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