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ARTIGO
Moeda precisa de desvalorização gradual
PETER BERNSTEIN
DO "FINANCIAL TIMES"
O dólar está em dificuldades, mas já esteve antes. Talvez o passado encerre a solução
que todos procuram. Em 22 de setembro de 1985, os ministros da
Economia e governadores de
bancos centrais da França, da Alemanha, do Japão, do Reino Unido
e dos EUA assinaram um acordo
no Hotel Plaza, em Nova York. Ele
afirmava que seus signatários
"eram da opinião de que as recentes mudanças nas condições econômicas fundamentais entre seus
países, assim como os compromissos políticos para o futuro,
não se refletiram totalmente nos
mercados de câmbio. Diante das
atuais e prospectivas mudanças
nos fundamentos, é desejável
uma certa valorização ordenada
das principais moedas não-dólar
contra o dólar. Eles se dispõem a
cooperar mais estreitamente para
promover isso quando for útil".
Nos dois anos seguintes, o dólar
caiu 30%, e o déficit de conta corrente dos Estados Unidos começou a encolher. Em 1991, a conta
corrente estava praticamente
equilibrada. Um trabalho limpo,
executado com elegância.
Poderíamos repetir hoje o Acordo do Plaza? A hipótese seria difícil de defender. Além das enormes diferenças de magnitude do
problema econômico, o cenário
político não tem semelhanças
com o de 1985. Naquela época, os
ministros e governadores que se
reuniram no Plaza eram velhos
amigos, habituados a encontrar
soluções para problemas. As potências ocidentais e o Japão dominavam o mundo, e todos os outros se ajoelhavam diante deles.
Hoje o quadro é mais complexo.
No lado econômico, a escala do
problema é assustadora. O déficit
de conta corrente americano, em
rápida expansão, hoje supera 5%
do Produto Interno Bruto, quando era de apenas 2% em 1985.
Além disso, o pequeno superávit
de 1991 também foi conseqüência
de uma recessão nos Estados Unidos, que reduziu o fluxo de importações enquanto as exportações continuaram aumentando
- mas os Estados Unidos voltaram para o vermelho assim que a
recuperação começou. Ajudado
por uma valorização de 25% do
dólar entre 1991 e 2001, o déficit de
conta corrente vem aumentando
desde então. Em 1985, os ativos
oficiais estrangeiros nos Estados
Unidos eram uma fração do que
são hoje; desde o final de 2002 o
crescimento dos valores oficiais
representou mais de US$ 450 bilhões. Em 1986, o preço do petróleo caiu 50%; hoje, as preocupações são exatamente opostas.
Em muitos países o crescimento
econômico depende excessivamente das exportações, que dependem de um dólar forte. Pelo
lado americano, as autoridades
apreciam a disposição dos países
exportadores a financiar o apetite
americano por importações, enquanto suas políticas ajudam a financiar o déficit público.
Mas, como disse o já morto economista Herb Stein: "Se uma coisa não pode continuar para sempre, não continuará". Os influxos
de capital privado nos Estados
Unidos já estão encolhendo. Existe um ponto em que algum banco
central vai gritar "Basta!". Na verdade, a China já começou a diversificar suas reservas cambiais em
outras moedas e investimentos.
Pressões protecionistas estão se
desenvolvendo nos Estados Unidos, que -para emprestar as palavras do Acordo do Plaza-, "se
não forem contidas, poderão levar a uma retaliação mutuamente
destrutiva, com sérios danos para
a economia mundial". Ao mesmo
tempo, os Estados Unidos estão
criando meios para que países estrangeiros os chantageiem sobre
políticas impopulares, ameaçando conter o acúmulo de dólares e
provocando crise.
Existe, porém, um interesse disfarçado em todo o mundo que se
opõe firmemente a "uma certa futura valorização ordenada das
principais moedas não-dólar contra o dólar". Muitos países estão
concentrados nas exportações, e
não na demanda interna, como
motor de crescimento. Acumular
títulos do governo americano em
quantidade tão abundante não é
exatamente confortável, mas a valorização de suas moedas contra o
dólar seria ainda mais desconfortável, porque os privaria de seu
principal estímulo econômico. A
exceção importante é a China,
que parece depositar as bases para apreciar o yuan.
No entanto a atual situação não
pode continuar para sempre. A
solução ideal é uma repetição do
Acordo do Plaza -uma valorização ordenada das principais moedas não-dólar contra o dólar, que
é um método mais benigno de
conter o apetite americano por
importações, enquanto promove
o desenvolvimento de fontes internas de crescimento no resto do
mundo. Sem esse acordo, a previsão de uma desvalorização ordenada do dólar é vaga.
Peter Bernstein é um consultor econômico em Nova York e autor de "Against
the Gods: The Remarkable Story of Risk".
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
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