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BCE injeta US$ 500 bi para conter crise
Banco Central Europeu anuncia mais uma operação para aumentar o volume de recursos disponíveis para os bancos
Socorro anunciado por BCs na Europa e nos EUA tem sido visto por analistas como insuficiente para acalmar mercado financeiro
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Menos de uma semana após
a ação conjunta de bancos centrais da Europa e da América do
Norte para aumentar o volume
de dinheiro disponível e tentar
afastar os temores de um aprofundamento na crise dos mercados de crédito, ontem foi a
vez de a principal entidade financeira européia fazer mais
um esforço. O Banco Central
Europeu (BCE), que também
fizera parte da operação coletiva, anunciou a injeção de
348,6 bilhões (US$ 500 bilhões) no sistema financeiro.
Até o fim deste ano, a autoridade monetária européia vai
oferecer crédito ilimitado a
uma taxa inferior à do mercado
para tentar travar a crise que
continua a assustar o setor financeiro. A relutância dos bancos de fazer empréstimos após
a crise do "subprime", o mercado de hipotecas de alto risco
nos EUA, já levara as taxas de
juros interbancárias para os níveis mais altos em seis anos.
Com a medida anunciada ontem, o BCE reduz os custos dos
empréstimos entre bancos, aumentando o volume de dinheiro disponível no mercado pelas
próximas duas semanas. Com
isso, a autoridade monetária
européia busca reduzir as preocupações em torno de um colapso das instituições financeiras durante as festas do fim do
ano, quando a demanda por liquidez aumenta.
A operação de refinanciamento é a primeira em que o
BCE oferece fundos ilimitados
aos bancos desde o início da
crise das hipotecas, em agosto.
Com a exposição sofrida com a
explosão da crise, muitos bancos perderam bilhões em investimentos e agora preferem
evitar empréstimos para cobrir
perdas, o que aumentou o aperto no crédito.
Em outra ação destinada a
aumentar a liquidez nos mercados, o Banco da Inglaterra
(BC britânico) anunciou o leilão de US$ 23 bilhões em fundos de emergência.
Na quarta-feira passada o
BCE, o Banco da Inglaterra, o
Fed (banco central americano)
e o Banco Nacional da Suíça
anunciaram uma operação
conjunta, a primeira desde o 11
de Setembro, destinada a evitar
que a atual crise de crédito tenha efeitos mais graves sobre
as economias envolvidas.
As medidas, no entanto, não
animaram as Bolsas pelo mundo.
O pessimismo americano,
apesar de um pacote aos mutuários anunciado pelo Fed, foi confirmado com a divulgação de dados do governo americano
mostrando que o número de
novas casas construídas atingiu em novembro o nível mais
baixo dos últimos 16 anos.
"É desconcertante ver os
bancos centrais intervindo em
um problema que nós esperávamos que se resolveria sozinho", disse Joseph Battipaglia,
chefe de investimentos da consultoria Ryan Beck & Co.
Além do risco de recessão
nos EUA, outras sombras continuam a pairar sobre a economia mundial. Ontem a Comissão Européia informou que a
zona do euro terá um crescimento lento nos próximos meses. Em seu relatório semestral, a comissão citou as difíceis
condições de financiamento,
confiança reduzida após as últimas turbulências e aumento
da inflação, que atingiu 3,1%
em novembro, a mais alta taxa
em seis anos e meio.
O socorro dos bancos centrais dos últimos dias tem sido
visto por analistas como insuficiente para tirar os mercados
financeiros da crise atual.
Há poucos dias, o economista Paul Krugman, autor de duras críticas ao ex-presidente do
banco central dos EUA Alan
Greenspan, a quem acusa de
ter ignorado os sinais da crise
hipotecária quando era possível evitar o estouro da bolha,
escreveu um artigo cético em
relação à eficácia do socorro
das autoridades monetárias.
"Os mercados não voltarão a
funcionar normalmente enquanto os investidores não estiverem razoavelmente seguros de que sabem onde estão
enterrados os corpos -ou sejam, os créditos podres."
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