São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

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BCE injeta US$ 500 bi para conter crise

Banco Central Europeu anuncia mais uma operação para aumentar o volume de recursos disponíveis para os bancos

Socorro anunciado por BCs na Europa e nos EUA tem sido visto por analistas como insuficiente para acalmar mercado financeiro

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Menos de uma semana após a ação conjunta de bancos centrais da Europa e da América do Norte para aumentar o volume de dinheiro disponível e tentar afastar os temores de um aprofundamento na crise dos mercados de crédito, ontem foi a vez de a principal entidade financeira européia fazer mais um esforço. O Banco Central Europeu (BCE), que também fizera parte da operação coletiva, anunciou a injeção de 348,6 bilhões (US$ 500 bilhões) no sistema financeiro.
Até o fim deste ano, a autoridade monetária européia vai oferecer crédito ilimitado a uma taxa inferior à do mercado para tentar travar a crise que continua a assustar o setor financeiro. A relutância dos bancos de fazer empréstimos após a crise do "subprime", o mercado de hipotecas de alto risco nos EUA, já levara as taxas de juros interbancárias para os níveis mais altos em seis anos.
Com a medida anunciada ontem, o BCE reduz os custos dos empréstimos entre bancos, aumentando o volume de dinheiro disponível no mercado pelas próximas duas semanas. Com isso, a autoridade monetária européia busca reduzir as preocupações em torno de um colapso das instituições financeiras durante as festas do fim do ano, quando a demanda por liquidez aumenta.
A operação de refinanciamento é a primeira em que o BCE oferece fundos ilimitados aos bancos desde o início da crise das hipotecas, em agosto. Com a exposição sofrida com a explosão da crise, muitos bancos perderam bilhões em investimentos e agora preferem evitar empréstimos para cobrir perdas, o que aumentou o aperto no crédito.
Em outra ação destinada a aumentar a liquidez nos mercados, o Banco da Inglaterra (BC britânico) anunciou o leilão de US$ 23 bilhões em fundos de emergência.
Na quarta-feira passada o BCE, o Banco da Inglaterra, o Fed (banco central americano) e o Banco Nacional da Suíça anunciaram uma operação conjunta, a primeira desde o 11 de Setembro, destinada a evitar que a atual crise de crédito tenha efeitos mais graves sobre as economias envolvidas.
As medidas, no entanto, não animaram as Bolsas pelo mundo.
O pessimismo americano, apesar de um pacote aos mutuários anunciado pelo Fed, foi confirmado com a divulgação de dados do governo americano mostrando que o número de novas casas construídas atingiu em novembro o nível mais baixo dos últimos 16 anos.
"É desconcertante ver os bancos centrais intervindo em um problema que nós esperávamos que se resolveria sozinho", disse Joseph Battipaglia, chefe de investimentos da consultoria Ryan Beck & Co.
Além do risco de recessão nos EUA, outras sombras continuam a pairar sobre a economia mundial. Ontem a Comissão Européia informou que a zona do euro terá um crescimento lento nos próximos meses. Em seu relatório semestral, a comissão citou as difíceis condições de financiamento, confiança reduzida após as últimas turbulências e aumento da inflação, que atingiu 3,1% em novembro, a mais alta taxa em seis anos e meio.
O socorro dos bancos centrais dos últimos dias tem sido visto por analistas como insuficiente para tirar os mercados financeiros da crise atual.
Há poucos dias, o economista Paul Krugman, autor de duras críticas ao ex-presidente do banco central dos EUA Alan Greenspan, a quem acusa de ter ignorado os sinais da crise hipotecária quando era possível evitar o estouro da bolha, escreveu um artigo cético em relação à eficácia do socorro das autoridades monetárias.
"Os mercados não voltarão a funcionar normalmente enquanto os investidores não estiverem razoavelmente seguros de que sabem onde estão enterrados os corpos -ou sejam, os créditos podres."


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