|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Peso de lucro de banco nos juros é recorde
Participação dos ganhos das instituições financeiras e dos impostos no "spread" atinge em 2008 maior nível da década
Estudo do BC aponta que inadimplência, que costuma
ser apontada como vilã do
juro, perde espaço no "spread';
Febraban não se pronuncia
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O peso dos impostos e do lucro dos bancos sobre as taxas de
juros atingiu em 2008 o maior
nível da década, de acordo com
estudo divulgado ontem pelo
Banco Central. O "Relatório de
Economia Bancária e Crédito"
mostra ainda que a inadimplência dos consumidores,
apontada muitas vezes como a
"vilã" dos juros altos, perdeu
espaço nessa conta nos últimos
dois anos.
De acordo com o BC, quase
70% da taxa média de juros
praticada pelos bancos é composta pelo chamado "spread"
bancário, que é a diferença entre o juro que a instituição financeira cobra dos seus clientes e o que paga para captar o
dinheiro. No ano passado, a crise financeira provocou uma
elevação desse custo, que subiu
40% e atingiu o maior nível no
período 2001-2008.
Procurada pela reportagem,
a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) informou que
não vai se pronunciar até analisar os dados do relatório.
O principal componente dessa conta ainda é a inadimplência, cuja participação subiu no
ano passado, mas ainda está
abaixo da verificada há dois
anos. Hoje, ela responde por
33,6% do "spread". Mas os
componentes que também subiram e estão no maior nível
verificado nos últimos oito
anos são o lucro dos bancos,
que representam quase 30% do
"spread", e os tributos e encargos, com participação de 23%.
Outros fatores, como custos administrativos e de direcionamento obrigatório do dinheiro
dos bancos, perderam importância nessas contas.
O Banco Central assume
também a sua responsabilidade
sobre o aumento dos juros aos
tomadores no ano passado, período em que a taxa básica (Selic) foi elevada até as vésperas
da quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, em setembro.
Aumento que, aliás, chegou a
ameaçar a permanência da
atual diretoria do BC no cargo,
devido às pressões do governo.
"A evolução do custo médio
das operações no âmbito do
crédito referencial refletiu a
ampliação das incertezas e da
aversão ao risco, consubstanciada na elevação do "spread"
bancário, bem como a elevação
da taxa Selic", diz a instituição.
As pesquisas mensais do BC
mostram que já houve um recuo das taxas de juros e dos
"spreads" no segundo semestre
de 2009, devido à normalização
do mercado de crédito verificada após o momento mais agudo
da crise financeira.
Para o economista João Augusto Salles, da Consultoria Lopes Filho, a estabilidade da inadimplência é um fator que deve
contribuir para isso também no
próximo ano.
"A inadimplência deve se estabilizar em 2010, com a melhoria do emprego, e os bancos
vão aproveitar para diminuir o
"spread". Não vejo muito espaço
para os bancos incorporarem
[ao lucro] essa redução, por
causa da concorrência."
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Banco público cobra juros menores Índice
|