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ONGs propõem tribunal para a dívida externa
DO ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY
As ONGs (organizações não-governamentais) que acham que
"outro mundo é possível", a palavra de ordem sob a qual se reúnem em Porto Alegre no Fórum
Social Mundial, não se limitam,
em Monterrey, a criticar as decisões dos governantes.
Trouxeram suas próprias propostas, a principal das quais é
"criar um organismo internacional de arbitragem e de cancelamento da dívida externa", conforme a apresentação feita ontem
por Juan Pedro Schaad, reverendo argentino do Conselho Latino-Americano de Igrejas.
A proposta não é apenas latino-americana, na medida em que
tem o respaldo do Conselho
Mundial das Igrejas, com sede em
Genebra (Suíça).
Nos documentos que distribuíram em Monterrey e na entrevista
coletiva concedida ontem por
uma parte delas (exatamente a ligada às igrejas), as ONGs tratam
de todos os temas, embora, como
na conferência oficial, o eixo gire
em torno do aumento da ajuda
oficial (na prática, doações) aos
países pobres.
Pedem, por exemplo, equidade
no comércio internacional, tema
que o governo brasileiro vem defendendo em todos os foros globais ou regionais de que participa.
Pedem também que "a globalização seja regulada por meio de
regras claras e justas, o que implica a necessidade de reformar a arquitetura financeira internacional, transformando suas instituições e revisando seus mandatos,
metodologias e processos de tomada de decisões".
A reforma da arquitetura financeira global é um bordão lançado
anos atrás pelo então presidente
norte-americano Bill Clinton e na
qual tem insistido desde a primeira posse o presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Mas, ao contrário do governo
brasileiro, que assina o Consenso
de Monterrey, as ONGs rejeitam o
documento final da Conferência
Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento.
Jocelyn Dow, da Organização
das Mulheres para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, equipara o Consenso de Monterrey ao
Consenso de Washington, o conjunto de receitas neoliberais lançado há cerca de uma década e
que se tornou o padrão de governo em especial na América Latina.
As ONGs do "Outro Mundo é
Possível" são as grandes inimigas
do Consenso de Washington.
"Acreditar que as regras do livre
mercado possam resolver os problemas do financiamento ao desenvolvimento e da pobreza é
acreditar em ficção científica",
diz, por exemplo, Joy Kennedy,
do "Time Ecumênico", outra
ONG das igrejas.
Elas lamentam também o fato
de que, embora Monterrey lhes
tenha aberto espaço para participar nas discussões prévias, não
ocorreu o mesmo no processo de
tomada de decisões. "Nossa voz
não foi ouvida", reclama Rogate
Mshana, do Conselho Mundial de
Igrejas.
Mshana acha insuficientes os
sete assentos reservados pelos organizadores para as ONGs nos
debates de quinta e sexta com os
chefes de Estado/governo. "Não
basta para ter impacto sobre o
processo", diz.
Desencantadas com Monterrey,
as ONGs já se preparam para a
próxima batalha, marcada para o
início de setembro em Johannesburgo, África do Sul. Lá ocorrerá a
Conferência Internacional sobre
o Desenvolvimento Sustentável,
mais conhecida como Rio+10,
porque fará o balanço da reunião
sobre meio ambiente realizada há
10 anos no Rio de Janeiro. (CR)
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