São Paulo, quarta-feira, 20 de março de 2002

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Auxílio depende de bom governo dos "ajudados"

DO ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, chegou ontem ao México com a proposta do que chama de "grande acordo" entre ricos e pobres, a ser fechado em Monterrey, durante a Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento.
Os pobres entrariam com tudo o que couber sob o rótulo de "boa governança", uma das expressões da moda no mundo diplomático: democracia, instituições sólidas, transparência, eliminação ou ao menos redução da corrupção. Os ricos fariam, então, mais doações, abririam mais seus mercados e dariam alívio da dívida.
Em tese, até faz certo sentido, se se esquecer o fato de que foram os países ricos, durante a Guerra Fria, que estimularam os piores tipos de governança no Terceiro Mundo. George Soros, o megainvestidor, lembra, aliás, que, após os atentados terroristas de 11 de setembro nos EUA, o padrão "Guerra Fria" voltou.
"Os Estados Unidos estão dando suporte aos aliados sem levar em conta o tipo de governo que têm", espeta Soros (e, de fato, o Paquistão não é exatamente transparente ou democrático, mas ganhou ajuda tanto dos EUA como da Europa).
Segundo problema: os pobres dos países com maus governos serão os grandes prejudicados se não houver ajuda externa por conta dos pecados de seus líderes.
Seja como for, o "grande acordo" acabará por se impor, pela disparidade de força entre ricos e pobres. Passará a valer a lógica de mercado, assim definida na semana passada pelo presidente George W. Bush: "Maiores contribuições das nações desenvolvidas devem ser vinculadas a maiores responsabilidades de parte das nações em desenvolvimento". (CR)


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