|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Certeza de conflito não elimina dúvidas no mercado
DO "FINANCIAL TIMES"
A diplomacia fracassou.
Os mercados financeiros
demonstraram seu alívio.
Poucas pessoas parecem intrigadas. Mas deveríamos estar curiosos, ao menos. Quando a perspectiva de um desarmamento pacífico do Iraque se esvaiu, na segunda-feira, os ânimos melhoraram nos mercados. As Bolsas tiveram forte recuperação e subiram
mais de 3% na Europa e nos EUA.
A confiança quanto ao dólar se
restaurou. E os preços do petróleo
caíram muito.
Duas justificativas correlatas
dominam as explicações para o
otimismo dos mercados: a primeira, a adoção de medidas militares, que significa o fim da incerteza geopolítica; e a segunda é que
os investidores estavam convencidos de que uma resolução da
crise iraquiana produziria uma alta nos mercados. Nenhuma das
duas idéias resiste a uma análise
mais profunda. O fracasso da diplomacia simplesmente remove a
possibilidade de uma solução pacífica para a crise; todas as demais
incertezas permanecem. E, se os
investidores estivessem convencidos de uma reação favorável, ela
já se teria refletido nos preços.
Invertamos os fatos. A possibilidade de que Saddam Hussein fosse desarmado pacificamente não
pode ser culpada, realisticamente,
pela queda dos mercados de capitais e pela alta no petróleo.
Previsão difícil
A verdade é que prever as prováveis consequências econômicas
e empresariais da guerra é muito
difícil. Isso posto, as perspectivas
econômicas se alteraram em três
áreas desde a decisão de abandonar o processo de negociação via
ONU, na segunda-feira. Nenhuma é especialmente encorajadora
para os mercados financeiros.
Primeiro, as relações diplomáticas entre os EUA e muitos de seus
parceiros comerciais mais importantes azedaram. O impacto dos
boicotes extra-oficiais a produtos
franceses nos EUA pode ser exagerado: parece haver poucos limites ao apetite dos consumidores
americanos por produtos estrangeiros. Mas acordos multilaterais
serão necessários no futuro. Qualquer sinal de hostilidade que se
infiltre em outras arenas poderia
ter sérias consequências para o
comércio, o crescimento econômico, a assistência internacional e
os esforços de reconstrução.
Segundo, o recurso à guerra bate um novo prego no caixão do dividendo da paz depois da Guerra
Fria. Os gastos militares mais baixos nos anos 90 permitiram que
recursos fossem usados de maneira mais produtiva pelo setor
privado, aumentando o crescimento e a renda pessoal. É provável que Bush solicite ao Congresso
até US$ 100 bilhões para a guerra
contra o Iraque, em breve o equivalente a 1% do PIB norte-americano. Sem prever ações militares
em outros teatros, os EUA agora
certamente enfrentam dificuldades orçamentárias ainda maiores
que no passado.
Terceiro, embora os preços do
petróleo tenham caído, a guerra
reduzirá a oferta mundial. Os preços caíram em parte devido à psicologia do mercado, em parte por
medo de que a Agência Internacional de Energia descarregasse
seus estoques e em parte porque a
demanda se reduzirá com o fim
do inverno no hemisfério Norte.
Os campos no norte do Kuait já
estão sendo fechados, e o Iraque
não pode mais exportar petróleo
legalmente. Se Saddam conseguir
destruir grande parte da capacidade iraquiana de produção, os
preços poderão subir de novo.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Economista vê vantagem com guerra rápida Próximo Texto: Trabalho: Inflação bate salários em 45% dos acordos Índice
|