|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
País agora pode cortar juro nas crises, diz BC
Para Meirelles, esta é a 1ª vez, desde a última década, em que a taxa não precisa ser elevada para conter fuga de capitais em momento crítico
Ata do Copom modifica o discurso e sinaliza novo corte da Selic; desaceleração da economia toma lugar da inflação como o foco do BC
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PAULO DE ARAÚJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No dia da divulgação da ata
do Copom (Comitê de Política
Monetária), o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que esta é a primeira vez, desde a última década, em que o BC tem condições
de promover política anticíclica e reduzir a taxa de juros em
meio a uma crise internacional.
Segundo ele, o país está hoje
em melhor situação para enfrentar uma crise, diferentemente do que ocorria no passado, quando o BC se via obrigado
a aumentar os juros para evitar
fuga de capitais. "Em 1997, a taxa subiu para 43%. Em 1999,
45% e, em 2002, para 25% inicialmente e 26% depois", disse,
em evento da Amcham (Câmara Americana de Comércio).
Ele também rebateu as críticas de que os juros continuam
excessivamente altos. "Em
2003, os juros reais estavam
em 17% e hoje estão em 5,2%."
A ata da reunião do BC em
que a taxa Selic foi reduzida em
1,5 ponto percentual (para
11,25% anuais) sinaliza que os
juros deverão cair ainda mais.
O documento mostra que, fugindo da linha adotada nos últimos anos, o BC já deixou um
pouco de lado sua tradicional
preocupação com a inflação e
agora avalia que o desaquecimento da economia é o principal problema. A consequência
dessa mudança deve se traduzir em novos cortes nos juros,
dando continuidade ao processo iniciado em janeiro.
Na ata, é possível perceber
que o cenário mais pessimista
que o BC traçava no final de
2008 para o nível de atividade
parece ter se concretizado, enquanto que as projeções que se
concretizaram em relação à inflação foram as mais otimistas.
Em outubro, o Copom se reuniu pela primeira vez desde o
agravamento (em setembro) da
crise global, e, também pela primeira vez, citou o receio de que
ela pudesse frear o crescimento
da economia brasileira. O temor se repetiu no encontro seguinte, em dezembro, mas não
foi suficiente para que o BC iniciasse a redução dos juros.
Segundo a ata da reunião de
dezembro, "riscos para a dinâmica inflacionária, derivados
da possível persistência da elevação da inflação observada
neste ano [2008]", justificavam
a cautela, embora a economia
brasileira estivesse se retraindo
em 3,6% no ultimo trimestre
do ano passado em relação ao
trimestre anterior, como indicou o IBGE neste mês.
Retração econômica costuma reduzir a inflação, enquanto juros altos acentuam a queda
da atividade, o que levou muitos empresários a criticarem o
conservadorismo do BC.
Com isso, os juros, que encerraram 2008 em 13,75%, só
começaram a cair em janeiro
-corte de um ponto.
Mas, para o economista-chefe da SLW Asset Management,
Carlos Thadeu Filho, o maior
conservadorismo do Copom
em dezembro não significa que
a instituição tenha errado. "O
BC não tinha convicção de que
o cenário seria este que temos
hoje e pagou para ver. Agora
não tem mais dúvida", afirma.
Segundo o economista, o texto divulgado ontem mostra que
o BC "está mais tranquilo" com
a inflação e reforça a expectativa de novos cortes na Selic na
próxima reunião do Copom, no
final de abril. "O documento indica que haverá cortes. Só ficou
em aberto qual será a intensidade", diz Thadeu, que espera
nova redução de 1,5 ponto.
Para Octavio Vaz, gestor da
Global Equity, as projeções do
BC para as inflações deste ano e
de 2010 estão abaixo da meta
de 4,5% fixada pelo governo, sinal de que há espaço para cortes nos juros. O BC sinaliza que,
mesmo com a Selic a 10,25%
em dezembro, o IPCA ainda ficaria abaixo desses 4,5%.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Micagens dos povos do mercado Próximo Texto: Para BC, poupança dificulta sua atuação Índice
|