São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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País agora pode cortar juro nas crises, diz BC

Para Meirelles, esta é a 1ª vez, desde a última década, em que a taxa não precisa ser elevada para conter fuga de capitais em momento crítico

Ata do Copom modifica o discurso e sinaliza novo corte da Selic; desaceleração da economia toma lugar da inflação como o foco do BC


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PAULO DE ARAÚJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No dia da divulgação da ata do Copom (Comitê de Política Monetária), o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que esta é a primeira vez, desde a última década, em que o BC tem condições de promover política anticíclica e reduzir a taxa de juros em meio a uma crise internacional.
Segundo ele, o país está hoje em melhor situação para enfrentar uma crise, diferentemente do que ocorria no passado, quando o BC se via obrigado a aumentar os juros para evitar fuga de capitais. "Em 1997, a taxa subiu para 43%. Em 1999, 45% e, em 2002, para 25% inicialmente e 26% depois", disse, em evento da Amcham (Câmara Americana de Comércio).
Ele também rebateu as críticas de que os juros continuam excessivamente altos. "Em 2003, os juros reais estavam em 17% e hoje estão em 5,2%."
A ata da reunião do BC em que a taxa Selic foi reduzida em 1,5 ponto percentual (para 11,25% anuais) sinaliza que os juros deverão cair ainda mais. O documento mostra que, fugindo da linha adotada nos últimos anos, o BC já deixou um pouco de lado sua tradicional preocupação com a inflação e agora avalia que o desaquecimento da economia é o principal problema. A consequência dessa mudança deve se traduzir em novos cortes nos juros, dando continuidade ao processo iniciado em janeiro.
Na ata, é possível perceber que o cenário mais pessimista que o BC traçava no final de 2008 para o nível de atividade parece ter se concretizado, enquanto que as projeções que se concretizaram em relação à inflação foram as mais otimistas.
Em outubro, o Copom se reuniu pela primeira vez desde o agravamento (em setembro) da crise global, e, também pela primeira vez, citou o receio de que ela pudesse frear o crescimento da economia brasileira. O temor se repetiu no encontro seguinte, em dezembro, mas não foi suficiente para que o BC iniciasse a redução dos juros.
Segundo a ata da reunião de dezembro, "riscos para a dinâmica inflacionária, derivados da possível persistência da elevação da inflação observada neste ano [2008]", justificavam a cautela, embora a economia brasileira estivesse se retraindo em 3,6% no ultimo trimestre do ano passado em relação ao trimestre anterior, como indicou o IBGE neste mês.
Retração econômica costuma reduzir a inflação, enquanto juros altos acentuam a queda da atividade, o que levou muitos empresários a criticarem o conservadorismo do BC.
Com isso, os juros, que encerraram 2008 em 13,75%, só começaram a cair em janeiro -corte de um ponto.
Mas, para o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, o maior conservadorismo do Copom em dezembro não significa que a instituição tenha errado. "O BC não tinha convicção de que o cenário seria este que temos hoje e pagou para ver. Agora não tem mais dúvida", afirma.
Segundo o economista, o texto divulgado ontem mostra que o BC "está mais tranquilo" com a inflação e reforça a expectativa de novos cortes na Selic na próxima reunião do Copom, no final de abril. "O documento indica que haverá cortes. Só ficou em aberto qual será a intensidade", diz Thadeu, que espera nova redução de 1,5 ponto.
Para Octavio Vaz, gestor da Global Equity, as projeções do BC para as inflações deste ano e de 2010 estão abaixo da meta de 4,5% fixada pelo governo, sinal de que há espaço para cortes nos juros. O BC sinaliza que, mesmo com a Selic a 10,25% em dezembro, o IPCA ainda ficaria abaixo desses 4,5%.


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