São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Para BC, poupança dificulta sua atuação

Queda na Selic deixa caderneta com ganho superior ao de fundos, o que atrapalha a condução da política monetária, segundo o banco

Autoridade monetária sugere que metodologia da correção da poupança precisa mudar, o que depende de alteração na lei pelo Congresso


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central deflagrou ontem uma campanha indireta contra a atual metodologia de correção da poupança, que tem rendimento de TR (Taxa Referencial) mais 6% ao ano estabelecido por lei. Em três momentos diferentes -ata do Copom, evento dos fundos de pensão e seminário sobre renda fixa-, a autoridade monetária defendeu a tese de que os juros reais [descontada a inflação] atuais de 5,4% ao ano, os menores desde o Plano Real, pedem revisão dos atuais indexadores da economia, entre eles a correção da poupança.
Em nenhum dos casos, no entanto, a palavra poupança foi citada diretamente.
Na ata do Copom, o BC sugeriu que a "flexibilização monetária adicional" -leia-se corte nos juros- dependerá também de mudanças no "arcabouço institucional", que remonta o "longo período de inflação".
Para o mercado, ficou claro que o BC quis dizer que há espaço para novos cortes, mas que isso dependerá da redução da correção da poupança ainda antes da próxima reunião do Copom, no final de abril.
Caso contrário, a caderneta pagará mais do que os títulos públicos pós-fixados -dificultando a rolagem da dívida-, o que levará a uma fuga de recursos de fundos para a poupança, tema que preocupa os bancos.
Nesta semana, o presidente Lula disse que o governo estuda mudanças na aplicação.
O diretor de Política Monetária do BC, Mario Torós, afirmou que a estabilidade econômica chegou a um ponto que requer novo padrão de desindexação, "sob pena de prejudicar avanços" na gestão da "política econômica". Questionado sobre a que indexadores estava se referindo, admitiu o caso da poupança. "Isso [poupança] seria impeditivo [para baixar juro], na medida em que digo que a taxa de juros real está em 5,4% e a poupança rende 6%."
Torós afirmou que o tema não diz respeito exclusivamente ao BC, mas que cabe ao Congresso decidir mudar a lei. "O BC faz estudos técnicos."
Mais tarde, o diretor de Normas do BC, Alexandre Tombini, encerrou sua apresentação sobre regulação dos mercados com uma "última lembrança" sobre os novos desafios impostos. "O novo ambiente de maior convergência de taxas tem trazido novos desafios, o que requer ajustes institucionais importantes para preservar o equilíbrio das taxas de captação e aplicação do nosso mercado."
Gustavo Franco, ex-presidente do BC, disse que estava na hora de rever não só a correção da poupança como o direcionamento obrigatório de 65% da captação para o crédito imobiliário. Franco afirma que o direcionamento encarece as taxas em geral e limita os recursos para o financiamento imobiliário. "Por que não deixar os bancos, pela competição, darem o retorno que julgarem adequado à poupança?"


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