São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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À ESPERA DE UM MILAGRE

Santo de causas urgentes leva fiéis a esperarem até 4 horas por socorro para dívida e emprego

Milhares fazem fila para santo Expedito

DA REPORTAGEM LOCAL

Padroeiro das causas urgentes, segundo a tradição católica, santo Expedito atraiu milhares de fiéis ontem a sua igreja em São Paulo, na verdade uma capela, abrigada em quartel da PM paulista, da qual é protetor. Pelas estimativas da PM, ontem, dia do santo, cerca de 100 mil pessoas circularam na capela.
Tanta gente junta era fila na certa. E pelo menos quatro horas foi o tempo que Antonio Carlos Nascimento, 48, diz ter levado entre o início da fila e a porta da igreja de santo Expedito.
Vitrinista, desempregado há um ano e oito meses, está acompanhado do filho mais velho, recruta do Exército. A família de Nascimento vive dos bicos que ele faz para lojistas e comerciantes e do soldo do filho recruta. Nos últimos meses, as dívidas se acumularam. Hoje, deve um mês de aluguel ("estou indo para o segundo"), no total cerca de R$ 700, sem multa, e "pena" para arrumar o dinheiro para evitar que as contas se acumulem. "Com criança pequena, não posso deixar faltar feijão, luz, água."
Desemprego e dívidas. Os relatos se repetem. João Luiz Mendes leva na pasta, em formato porta-fólio, um currículo, que pretende deixar dentro da capela do santo. Desempregado, acumula dívidas com agiotas (estima que em R$ 1.200). Diz que a dívida, que não ultrapassava os R$ 700, contraída sete meses atrás, já quase dobrou de valor. Além disso, tem um débito de cerca de R$ 300 em cheques devolvidos. "Se tivesse cartão de crédito, seria ainda pior. Estaria devendo no cartão e para agiota", afirma. "Consegui fazer uns bicos, vou pagar uma parte e empurrar o resto até as coisas melhorarem, conseguir pagar e limpar meu nome", completa o auxiliar contábil, que nas últimas semanas tem preparado formulários de IR para antigos clientes e vizinhos.
Acompanhada de amigas, a vendedora Luciane Pereira Pinheiro, 23, afirma que recorreu ao santo para pagar dívidas. Entre comissão e salários em uma loja, recebe R$ 650. Mas deve ao menos R$ 2.000, entre carnês e cheques devolvidos que precisará recuperar em lojas. Vai pela primeira vez à igreja de santo Expedito. "Eu me descontrolei com o final do ano. Quando vi, estava toda enrolada", afirma.


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