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À ESPERA DE UM MILAGRE
Santo de causas urgentes leva fiéis a esperarem até 4 horas por socorro para dívida e emprego
Milhares fazem fila para santo Expedito
DA REPORTAGEM LOCAL
Padroeiro das causas urgentes, segundo a tradição católica,
santo Expedito atraiu milhares
de fiéis ontem a sua igreja em
São Paulo, na verdade uma capela, abrigada em quartel da PM
paulista, da qual é protetor. Pelas
estimativas da PM, ontem, dia
do santo, cerca de 100 mil pessoas circularam na capela.
Tanta gente junta era fila na
certa. E pelo menos quatro horas
foi o tempo que Antonio Carlos
Nascimento, 48, diz ter levado
entre o início da fila e a porta da
igreja de santo Expedito.
Vitrinista, desempregado há
um ano e oito meses, está acompanhado do filho mais velho, recruta do Exército. A família de
Nascimento vive dos bicos que
ele faz para lojistas e comerciantes e do soldo do filho recruta.
Nos últimos meses, as dívidas se
acumularam. Hoje, deve um
mês de aluguel ("estou indo para
o segundo"), no total cerca de R$
700, sem multa, e "pena" para
arrumar o dinheiro para evitar
que as contas se acumulem.
"Com criança pequena, não posso deixar faltar feijão, luz, água."
Desemprego e dívidas. Os relatos se repetem. João Luiz Mendes leva na pasta, em formato
porta-fólio, um currículo, que
pretende deixar dentro da capela
do santo. Desempregado, acumula dívidas com agiotas (estima que em R$ 1.200). Diz que a
dívida, que não ultrapassava os
R$ 700, contraída sete meses
atrás, já quase dobrou de valor.
Além disso, tem um débito de
cerca de R$ 300 em cheques devolvidos. "Se tivesse cartão de
crédito, seria ainda pior. Estaria
devendo no cartão e para agiota", afirma. "Consegui fazer uns
bicos, vou pagar uma parte e
empurrar o resto até as coisas
melhorarem, conseguir pagar e
limpar meu nome", completa o
auxiliar contábil, que nas últimas semanas tem preparado
formulários de IR para antigos
clientes e vizinhos.
Acompanhada de amigas, a
vendedora Luciane Pereira Pinheiro, 23, afirma que recorreu
ao santo para pagar dívidas. Entre comissão e salários em uma
loja, recebe R$ 650. Mas deve ao
menos R$ 2.000, entre carnês e
cheques devolvidos que precisará recuperar em lojas. Vai pela
primeira vez à igreja de santo
Expedito. "Eu me descontrolei
com o final do ano. Quando vi,
estava toda enrolada", afirma.
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