São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2006

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RECEITA ORTODOXA

Copom reduz taxa em 0,75 ponto, para 15,75%, a mais baixa desde 2001; efeito ao consumidor é ínfimo

BC mantém gradualismo na queda dos juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conforme esperado, o Banco Central manteve o gradualismo e decidiu reduzir em 0,75 ponto percentual os juros básicos da economia. A partir de hoje, a taxa Selic será fixada em 15,75% ao ano, nível em que deve se manter até a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), no final de maio.
O corte de ontem foi anunciado por meio de nota em que o Copom diz ter decidido dar "prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária" e se compromete a "acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para então definir os próximos passos de sua estratégia".
Foi a terceira reunião do Copom neste ano, sendo que em todas elas a decisão foi a mesma: redução de 0,75 ponto na taxa Selic. No encontro do mês passado, porém, chegou-se a cogitar a possibilidade de acelerar o ritmo dos cortes: três dos nove membros da diretoria do BC defenderam uma redução de um ponto percentual.
A decisão de ontem, unânime, indica que é pouco provável que os juros caiam de forma mais acentuada daqui para a frente. Pelo contrário, a dúvida agora é até quando os cortes de 0,75 ponto percentual vão continuar.
Com a queda de ontem, a taxa Selic chega ao ponto mais baixo desde o começo de 2001, quando os juros estavam em 15,25% -menor nível registrado desde 1999, quando foi adotado no Brasil o sistema de metas de inflação.
Quando descontada a inflação, a taxa Selic é uma das mais altas do mundo, ficando na casa dos 10%. São poucos os países que possuem juros reais de dois dígitos, e isso acaba influenciando também as taxas praticadas pelos bancos, igualmente elevadas.
Por outro lado, juros altos podem servir para proteger a economia no caso de uma crise externa. Nas últimas semanas, têm aumentado as preocupações em torno da disparada do preço do petróleo, que tem batido sucessivos recordes nos últimos dias.
O risco seria o de a alta do petróleo pressionar a inflação nas economias desenvolvidas, o que, por sua vez, poderia fazer com que a taxa de juros nesses países subisse. Juros mais altos nos países ricos afetam o fluxo de capital externo para os emergentes.
Nos últimos dias ocorreu uma reacomodação das expectativas do mercado financeiro internacional com a tendência dos juros americanos, provocando forte alta nos juros de dez anos dos EUA. Outro fato importante dos últimos 30 dias - esse interno- foi a troca do ministro da Fazenda.
"Aqueles dois eventos não mexeram com o câmbio e, conseqüentemente, as projeções de inflação não foram afetadas", diz Darwin Dib, economista sênior do Unibanco. A posição dos analistas é que as questões políticas não têm impacto na economia graças à solidez do ajuste macroeconômico dos últimos dez anos.
Por isso o mercado deverá continuar projetando queda da taxa de juros, mas sem aceleração dos cortes, segundo Luiz Fernando Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios. "O escândalo do dia não afeta o curto prazo, mas interfere nas decisões de investimento e, no longo prazo, podem interferir no ritmo dos cortes dos juros", observa.

Consumidor
Apesar da queda na Selic, o consumidor final não sentirá alívio ao tomar crédito. O impacto nas taxas do cheque especial, cartão de crédito, crediário de lojas e empréstimos de bancos e financeiras é ínfimo. Enquanto a taxa do BC foi de 16,50% ao ano para 15,75%, o juro médio pago no crédito ao consumidor passa de 139,24% ao ano para 137,91%, segundo cálculo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
"Há um deslocamento muito grande entre a Selic e as taxas ao consumidor", diz a Anefac.


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