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RECEITA ORTODOXA
Copom reduz taxa em 0,75 ponto, para 15,75%, a mais baixa desde 2001; efeito ao consumidor é ínfimo
BC mantém gradualismo na queda dos juros
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Conforme esperado, o Banco
Central manteve o gradualismo e
decidiu reduzir em 0,75 ponto
percentual os juros básicos da
economia. A partir de hoje, a taxa
Selic será fixada em 15,75% ao
ano, nível em que deve se manter
até a próxima reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária do
BC), no final de maio.
O corte de ontem foi anunciado
por meio de nota em que o Copom diz ter decidido dar "prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária" e se
compromete a "acompanhar a
evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião
para então definir os próximos
passos de sua estratégia".
Foi a terceira reunião do Copom neste ano, sendo que em todas elas a decisão foi a mesma: redução de 0,75 ponto na taxa Selic.
No encontro do mês passado, porém, chegou-se a cogitar a possibilidade de acelerar o ritmo dos
cortes: três dos nove membros da
diretoria do BC defenderam uma
redução de um ponto percentual.
A decisão de ontem, unânime,
indica que é pouco provável que
os juros caiam de forma mais
acentuada daqui para a frente. Pelo contrário, a dúvida agora é até
quando os cortes de 0,75 ponto
percentual vão continuar.
Com a queda de ontem, a taxa
Selic chega ao ponto mais baixo
desde o começo de 2001, quando
os juros estavam em 15,25%
-menor nível registrado desde
1999, quando foi adotado no Brasil o sistema de metas de inflação.
Quando descontada a inflação,
a taxa Selic é uma das mais altas
do mundo, ficando na casa dos
10%. São poucos os países que
possuem juros reais de dois dígitos, e isso acaba influenciando
também as taxas praticadas pelos
bancos, igualmente elevadas.
Por outro lado, juros altos podem servir para proteger a economia no caso de uma crise externa.
Nas últimas semanas, têm aumentado as preocupações em torno da disparada do preço do petróleo, que tem batido sucessivos
recordes nos últimos dias.
O risco seria o de a alta do petróleo pressionar a inflação nas economias desenvolvidas, o que, por
sua vez, poderia fazer com que a
taxa de juros nesses países subisse. Juros mais altos nos países ricos afetam o fluxo de capital externo para os emergentes.
Nos últimos dias ocorreu uma
reacomodação das expectativas
do mercado financeiro internacional com a tendência dos juros
americanos, provocando forte alta nos juros de dez anos dos EUA.
Outro fato importante dos últimos 30 dias - esse interno- foi
a troca do ministro da Fazenda.
"Aqueles dois eventos não mexeram com o câmbio e, conseqüentemente, as projeções de inflação não foram afetadas", diz
Darwin Dib, economista sênior
do Unibanco. A posição dos analistas é que as questões políticas
não têm impacto na economia
graças à solidez do ajuste macroeconômico dos últimos dez anos.
Por isso o mercado deverá continuar projetando queda da taxa
de juros, mas sem aceleração dos
cortes, segundo Luiz Fernando
Lopes, economista-chefe do Pátria Banco de Negócios. "O escândalo do dia não afeta o curto prazo, mas interfere nas decisões de
investimento e, no longo prazo,
podem interferir no ritmo dos
cortes dos juros", observa.
Consumidor
Apesar da queda na Selic, o consumidor final não sentirá alívio ao
tomar crédito. O impacto nas taxas do cheque especial, cartão de
crédito, crediário de lojas e empréstimos de bancos e financeiras
é ínfimo. Enquanto a taxa do BC
foi de 16,50% ao ano para 15,75%,
o juro médio pago no crédito ao
consumidor passa de 139,24% ao
ano para 137,91%, segundo cálculo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade).
"Há um deslocamento muito
grande entre a Selic e as taxas ao
consumidor", diz a Anefac.
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