São Paulo, quinta-feira, 20 de abril de 2006

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GIGANTE ASIÁTICO

País asiático amplia comércio e investimentos na região que historicamente americanos dominaram

EUA tentam conter ação da China na AL

Elaine Thompson/Associated Press
O presidente da China, Hu Jintao, acena durante visita à Microsoft, acompanhado de Bill Gates


NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pela primeira vez, China e Estados Unidos conversaram sobre a América Latina e "não será surpresa se o tema constar da agenda do encontro entre os presidentes dos dois países", segundo Thomas Shannon, o encarregado de questões latino-americanas no Departamento de Estado norte-americano.
Shannon acaba de passar dois dias em Pequim, onde discutiu "segurança regional" e acertou a criação de "mecanismos de consultas" que evitem a erupção de disputas e rivalidades numa região do mundo tida pelos Estados Unidos como área sob sua influência direta.
O apetite chinês por petróleo, gás, alimentos e matérias-primas em geral estendeu-se à América Latina e sinais vermelhos se acenderam em Washington.
O jornal "El Nuevo Heraldo", de Miami, falou da existência de plano secreto firmado entre China e Venezuela. Em caso de agravamento dos conflitos de Hugo Chávez com o governo Bush, os chineses absorveriam 1 milhão de barris diários de petróleo venezuelano.
A China já opera dois campos no país andino e começa a desenvolver mais um. Instalou-se na capital americana o receio de que fiquem a perigo fontes de abastecimento de energia no "backyard" (quintal) e isso tenha conseqüências políticas e até militares.
O antecessor de Shannon, Roger Noriega, disse em depoimento no Congresso que cerca de 20 oficiais chineses visitaram países da América Latina e do Caribe em 2005.
Chávez interessou-se por armas chinesas como um meio de romper o bloqueio do governo Bush, como se viu no veto à venda de aviões da Embraer.
O "Army War College", publicação do Exército dos Estados Unidos, tratou das "implicações na segurança nacional americana do envolvimento chinês na América Latina".

Declínio
Um alto funcionário da embaixada em Pequim confidenciou a um empresário visitante que líderes chineses "vêem os Estados Unidos como um superpoder em declínio, cujo tempo se esgota". Do ponto de vista da China, os Estados Unidos terão de dividir influências com "outras nações poderosas" e Pequim se coloca na cabeça da fila.
Para mostrar como a posição estratégica da China mudou nas duas últimas décadas, o diplomata citou o fato de que ela "não só capturou o mercado interno norte-americano como invadiu a América Latina, região historicamente dominada pelos Estados Unidos".
Bons exemplos disso: o comércio da China com o Brasil aumentou 33% no ano passado e ela ainda fechou acordos sobre petróleo e gás com Brasil e Venezuela. A China já é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil.
A China anunciou investimentos de US$ 100 bilhões em países latino-americanos nos próximos dez anos. Em 2005, alcançou US$ 50 bilhões o comércio entre a região e aquele país.
Anne Korin, do Institute for the Analyses Global Security, avisa que o "backyard" se torna região "incerta".
Fica em Pequim o maior centro de estudos latino-americanos, o "Chinese Academy of Social Sciences Department of Latin-American Affairs".
Jiang Shixu, um de seus 56 especialistas "full time", nega a existência "dessa tal ameaça chinesa".

O jornalista Newton Carlos é analista de questões internacionais.

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