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PÉ NO FREIO
Manutenção dos juros pode travar a economia, diz setor produtivo
Indústria e comércio temem
que decisão afete retomada
DA REPORTAGEM LOCAL
Representantes da indústria, do
comércio e dos trabalhadores
acreditam que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa básica de juros em 16% ao ano pode travar a
economia, que deu sinal de recuperação no primeiro trimestre.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), Horacio Lafer Piva,
diz, em nota, que "a medida do
Banco Central deve causar nova
deterioração nas expectativas de
investidores e consumidores".
"Reconhecemos que essa reunião ocorreu em ambiente de elevada incerteza sobre o comportamento futuro de alguns preços
chaves para a nossa economia, seja o valor de nossa moeda seja a
cotação dos derivados de petróleo. Mas a postura cautelosa do
Banco Central só reforça a percepção de que, para o governo e
nas condições atuais, não podemos crescer muito mais de 3% ao
ano. Se o sinal é esse, porque nós
empresários devemos acreditar
que o espetáculo do crescimento
estaria à vista?", pergunta.
A Fiesp também criticou a política monetária do governo. "O
Banco Central se recusa a utilizar
a flexibilidade que o regime de
metas lhe permite." Para a federação, "combater esses movimentos
[pressão sobre preços e conter a
inflação] com política monetária
é gerar perda desnecessária de
produto e emprego".
A CNI (Confederação Nacional
da Indústria) considerou a medida "defensiva que, infelizmente,
interrompe a trajetória de queda
dos juros, que é muito importante
para estimular o ambiente econômico. Haveria espaço para pelo
menos uma pequena redução",
afirma Armando Monteiro Neto,
presidente da entidade.
Para Julio Gomes de Almeida,
diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o governo deveria ter reduzido os juros para
"não correr o risco de bloquear
mais uma vez a indústria. A decisão coloca em risco a recuperação
econômica que se esboçava".
Na avaliação de José Augusto
Marques, presidente da Abdib
(Associação Brasileira da Indústria da Infra-estrutura), a medida
"é ruim para o país e frustrou a
expectativa dos empresários".
Paulo Saab, presidente da Eletros (associação dos fabricantes
de eletroeletrônicos), considerou
contraditória a posição do governo. "Não consigo entender por
que o governo tem anunciado a
retomada da economia, e o Copom decide manter os juros."
Empresários do setor da construção civil avaliaram que o Copom agiu com "cautela". "O setor
da construção necessita de juros
baixos e economia estável", diz
Artur Quaresma Filho, presidente
do Sinduscon-SP.
Peso no bolso
Com a decisão do governo, representantes do comércio acreditam que deve acontecer, na prática, uma elevação na atual taxa cobrada nas operações de crédito.
Isso porque pode ocorrer um aumento na taxa de juros futuros,
determinada pelo mercado em
operações na BM&F (Bolsa de
Mercadorias & Futuros), e que é
uma importante baliza para que o
varejo defina os juros das lojas.
"Grande parte das vendas do
comércio é feita a prazo e, portanto, depende da taxa de juros e da
disposição dos comerciantes de
alongar os prazos. Com a manutenção da taxa Selic, provavelmente os prazos não vão se alongar e o custo dos financiamentos
pode até mesmo subir", afirma
em nota o presidente da Fecomercio, Abram Szajman.
Atualmente, o prazo de financiamento do varejo atinge até 24
meses e a taxa de juros média está
em 6,05% ao mês (102,36% ao
ano). A taxa subiu de março para
abril, assim como houve aumento
nos juros para operações financeiras de empresas no período.
Para uma companhia descontar
uma duplicata, por exemplo, a taxa de juros nos bancos está em
4,01% ao mês (60,29% ao ano).
Em março, estava em 3,93%.
Com medida de ontem, essas taxas podem se manter ou subir.
Ontem, Bradesco e Itaú, os maiores bancos privados do Brasil, informaram que ainda não têm
uma avaliação da medida tomada
pelo governo.
Representantes do varejo pediram ontem para que o governo
"acorde para a vida real" e adote
uma posição menos "infeliz".
"Mais uma vez, nós lamentamos a decisão. Esse pessoal tem
de acordar e sair de seus gabinetes
para ver o que está ocorrendo
aqui fora", diz Nabil Sahyoun,
presidente da Alshop, que representa os shopping centers.
"Espetáculo de fantoches"
"Não mexer na taxa agora significa persistir beneficiando apenas
as instituições financeiras e continuar deixando a economia do
Brasil à deriva", disse Luiz Marinho, presidente da CUT. A Força
Sindical chamou a decisão de
"um espetáculo de fantoches".
Para o presidente da central, Paulo Pereira da Silva, "o Copom
conseguiu a façanha de errar, ao
mesmo tempo, o remédio e a dose. A impressão é que o governo
nada mais é que uma equipe de
fantoches nas mãos das instituições financeiras."
(AM, FF, CR)
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