São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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Para analistas, BC quer reduzir volatilidade

DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão do Banco Central de manter os juros em 16%, na opinião de economistas, teve como principal objetivo aplacar a volatilidade do mercado financeiro, que vem ameaçando a lenta recuperação da economia.
"Acho que, ao manter os juros, o BC quis evitar o risco de acabar se tornando uma variável a mais de volatilidade para o mercado, já que um corte poderia ser interpretado como leniência em um momento delicado", diz Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management, que elogiou a decisão do BC.
A maior ameaça à economia, agora, na opinião de Maia, é a recente pressão sobre os juros de longo prazo. Isso porque são essas as taxas olhadas por empresários no momento em que decidem se devem ou não investir. Quando os juros futuros estão em alta, investidores podem interpretar que têm mais chances de ganhar dinheiro aplicando no mercado financeiro do que investindo na atividade produtiva.
Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos e Desenvolvimento Industrial), concorda que o BC mirou as fortes oscilações que têm pressionado o dólar e os juros futuros. Discorda, no entanto, de que essa foi a melhor decisão:
"Essa nova interrupção na queda de juros pode esfriar as expectativas de recuperação da economia, o que tende a acabar freando a atividade", afirma ele.
Almeida afirma que, se os juros futuros continuarem subindo, os efeitos sobre a economia serão muito ruins. Acredita, porém, que essa trajetória dependerá muito mais do mercado externo do que da decisão do Banco Central de manter a Selic estável.
Esse foi o principal confronto de opiniões de economistas diante da decisão de ontem do Copom (Comitê de Política Monetária).
Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset, por exemplo, disse que entende o temor do BC com a volatilidade externa. Mas faz coro com as preocupações do diretor do Iedi em relação à recuperação da atividade: "A decisão do BC pode diminuir o ritmo de expansão da economia que vínhamos tendo", diz.
Para João Rabello, diretor-superintendente do banco Fibra, "o Copom de novo foi conservador e frustou as expectativas". Na opinião dele, a manutenção dos juros causa um efeito psicológico negativo sobre as expectativas do setor produtivo.
Já Alexandre Póvoa, economista-chefe do banco Modal, adotou a mesma linha de argumentação de Maia. Segundo ele, a decisão austera e o comunicado otimista do BC deverão contribuir para reduzir a volatilidade do mercado. Para Póvoa, a reafirmação do compromisso da autoridade monetária com o combate à inflação ajuda a eliminar possíveis dúvidas de que o BC pudesse sofrer influência de pressões políticas.
"Acho que o comportamento dos juros futuros dependerão mais do mercado externo, mas a decisão do BC ajuda bastante a acalmar a situação, principalmente a médio e longo prazos", diz.


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