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LUÍS NASSIF
Os Títulos Sociais do Tesouro
No final do governo Fernando Henrique Cardoso, a Pastoral da Criança apresentou uma proposta inovadora de financiamento das organizações sociais.
O assunto caminhou, chegou
até o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, foi aprovado
por escalões técnicos, mas, por
ser final de governo, acabou
engavetado.
Agora, a entidade está tentando com a equipe do ministro Antonio Palocci Filho. O interessante na proposta é a busca de soluções inovadoras. Pode ser que existam contra-indicações não detectadas à primeira leitura, mas é um belo
estímulo à busca de soluções
inovadoras para o país.
Hoje em dia, se uma empresa
resolver contribuir para um
fundo de amparo à criança,
não tem nenhum estímulo fiscal. Pelo contrário.
Só pode doar quem declara
em lucro real, e não é possível
colocar doação nem como despesa operacional. A doação entra como adição ao lucro operacional. Ou seja, se a empresa
doar R$ 1.000, o lucro real aumenta R$ 1.000, e ela pagará
R$ 350,00 a mais de Imposto de
Renda e mais os diversos tributos que incidem sobre o lucro.
A dedução não compensa.
A partir de idéias de Sílvio
Sant'Ana, membro do seu conselho econômico, a pastoral desenvolveu uma proposta que
poderia ser batizada de Títulos
Sociais do Tesouro.
Consiste no seguinte:
1) Pessoas físicas ou jurídicas
adquirem títulos do Tesouro
(ou até C-Bonds) de longo prazo.
2) Doam esses títulos para
uma organização não-governamental certificada. O dinheiro ficará caucionado em
um banco, a organização receberá os juros e, só no final do
prazo, resgatará o principal.
3) O Tesouro emite o título
pelo valor de face; ao cair no
mercado, pelo sistema de marcação a mercado, o título será
negociado com deságio. Na
época em que a proposta foi
apresentada, o valor de mercado era de R$ 680,00.
4) O investidor tem a permissão de abater do imposto devido o correspondente ao deságio
-ou R$ 320 (valores daquela
época).
O Tesouro ganharia porque,
ao custodiar o título pelo valor
de mercado, poderia contabilizar por R$ 680, reduzindo o peso da dívida pública. Na época,
o pessoal do Tesouro e da Fazenda aceitou a proposta de
que as doações pudessem ser
descontadas no mesmo mês.
A operação foi fechada do
ponto de vista técnico e legal.
Poderia ser viabilizada exclusivamente com as ferramentas
legais de que o Tesouro e o BC
dispõem. Obviamente há que
analisar eventuais brechas para engenharia fiscal. Mas o
modelo permitiria criar fontes
permanentes de receita para
obras sociais, além de um controle estreito sobre as ações.
"The New York Times"
Agora que a poeira baixou, é
o momento de uma avaliação
mais precisa sobre o trabalho
de Larry Rohter, o correspondente do "New York Times" no
Brasil. Um levantamento preliminar sobre algumas reportagens produzidas por ele, publicadas por jornais nestes dias, é
de deixar o cabelo em pé. Reportagens sobre presumíveis
movimentos separatistas na
Patagônia, "denúncias" de que
a carne exportada pelo Brasil
era de rebanhos que devastavam a floresta amazônica, "denúncias" sobre a bomba atômica brasileira denotam algo
mais do que um mero jornalista de "esquentamento".
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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