São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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GASTO BRASIL

Consumo familiar correspondeu em 2003 a 57% do PIB; Sudeste responde por 54% do total do país

Gasto é maior com fumo que com sabonete

DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Os brasileiros gastam, todos os meses, R$ 408,7 milhões para fazer festas, R$ 447 milhões com cabeleireiros, outros R$ 560 milhões com perfumes e mais de R$ 547 milhões em contas de celular.
Os bancos, no entanto, levam mais do que as festas. Os pagamentos de serviços bancários fazem as famílias desembolsarem, a cada mês, nada menos do que R$ 587,3 milhões.
O consumo global dos produtos pode ser estimado a partir do consumo médio das famílias e do número total delas no Brasil. Segundo o IBGE, existem cerca de 48,5 milhões de famílias com 3,6 membros cada, em média.
Elas gastam o equivalente a R$ 71 bilhões com consumo todos os meses. Para ter uma idéia da importância do gasto familiar para a economia, ele correspondeu, em 2003, a cerca de 57% do PIB (Produto Interno Bruto, soma de todas os produtos e serviços finais produzidos no país).

Descompasso dos Estados
As desigualdades regionais também são refletidas no padrão de consumo dos Estados. São Paulo, onde vivem 21,9% da população brasileira, consome o equivalente a 30% do total. A região Sudeste, com 42,6% da população total, fica com 54% do gasto global em consumo.
O maior descompasso ocorre na região Nordeste. Nos nove Estados que compõem a região vive aproximadamente 28% da população brasileira, que é responsável, no entanto, por apenas 16,7% do consumo total.
No Norte, apesar de menor, também há descompasso, com 7,8% da população consumindo o equivalente a 4,9% do total.
Os dados mostram de uma maneira distinta o já conhecido desequilíbrio regional brasileiro. Retrato do mercado consumidor, ele reflete também a dificuldade das regiões mais pobres do país em atrair investimentos, já que os centros consumidores acabam reunindo mais atrativos para as empresas.
A pesquisa pode, segundo Elvio Gaspar, secretário-executivo-adjunto do Ministério do Planejamento, orientar políticas do governo federal para reduzir os desequilíbrios regionais.
"Ela traz sinalizações sobre o mercado. Do ponto de vista da política pública, mostra em quais regiões e áreas o governo pode atuar, criando políticas que direcionem decisões de investimento", avalia Gaspar.

Deterioração ou melhora?
A comparação da evolução do padrão de consumo e gastos pode mostrar se há deterioração ou melhora das condições de vida. Mas a última POF nacional foi realizada em 1975, o que inviabiliza parte da análise.
A pesquisa do IBGE mostra, por exemplo, que houve, desde 1975, aumento nos gastos com alimentação fora do lar.
No entanto as duas pesquisas são fotografias de dois pontos no tempo, um em 1975 e outro em 2003. Elas não mostram o que ocorreu entre esse intervalo. Ou seja, houve uma melhora quando se olha para 1975, mas não é possível dizer se essa melhora era ainda mais intensa em outros anos e se ela foi ou não reduzida por conta do cenário recessivo dos últimos anos.

Orçamento apertado
Com ou sem melhora, o orçamento das famílias está mais apertado. "Os fornecedores, cada vez mais, precisarão encontrar formas novas de "brigar" por esse orçamento", afirma Pierre Cohen, diretor da Ipsos, uma empresa que realiza consultoria sobre mercados.
Ele lembra que a parcela do rendimento dedicada ao pagamento de serviços e de taxas é maior e que, ao mesmo tempo, existem mais empresas competindo por espaço nesse mercado.
Cohen diz que, cedo ou tarde, os fornecedores precisarão oferecer, em conjunto, pacotes de serviços, seja como estratégia de competição seja porque falta espaço no orçamento para adquiri-los separadamente.


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