São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2004

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Na educação, curso superior é o que mais consome orçamento

DA SUCURSAL DO RIO

Embora tenham crescido de 1975 a 2003, os gastos com educação se distribuem de maneira desigual de acordo com a faixa de renda das famílias. As que ganham até R$ 400 desembolsam apenas 0,80% do seu orçamento com esse tipo de gasto. Esse percentual sobe para 5,19% na camada com rendimento de R$ 4.000 a R$ 6.000.
De 1975 a 2003, porém, o gasto total com educação aumentou de 1,70% para 3,37% do orçamento das famílias. Da despesa média do brasileiro (R$ 1.778), R$ 59,86 vão para a educação.
O curso superior é a maior despesa individual do grupo, representando 1,12% do orçamento das famílias brasileiras. Para os mais ricos (renda acima de R$ 6.000), o percentual sobe para 1,78% do orçamento.
As famílias mais pobres têm uma despesa proporcionalmente maior com a compra de artigos escolares -0,38%, contra uma média de 0,23%.
De acordo com Vicente Rodrigues, professor da Faculdade da Educação da Unicamp e diretor da ONG Ação Educativa, os gastos com educação estão concentrados a partir do ensino médio.
Na avaliação dele, as famílias de classe média matriculam seus filhos na escola pública no ensino fundamental, que se tornou praticamente universal (cobertura de 97%, em 2003), mas os transferem para o ensino privado a partir do ensino médio.
O objetivo, diz, é preparar melhor o jovem para disputar uma vaga na universidade pública. Já para as famílias mais pobres, que não possuem condições financeiras de pagar escola da rede particular, resta apenas a alternativa da rede pública no ensino médio.
Para Rodrigues, a expansão da ensino fundamental criou um "gargalo" a partir do ensino médio, que oferece menos vagas do que o necessário.
Segundo ele, o crescimento "sem controle" das universidades privadas -que considera, em geral, de menor qualidade e destinadas a quem cursou o ensino médio na rede pública- também influenciou no aumento dos gastos com educação.
"Falta ao país uma sistema que permita regular os fluxos de ingresso de alunos no ensino médio e na universidade. Essa distorção aconteceu porque o Brasil teve uma política ofensiva no ensino fundamental, que gerou um número cada vez maior de pessoas chegando ao ensino médio. Mas faltou uma política para o segundo grau e a universidade", diz Rodrigues.


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