São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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BNDES admite participar da Brasil Foods

Fusão entre Sadia e Perdigão cria a maior empregadora do país; banco estatal deve ajudar nova empresa a se capitalizar

Perdigão fica com 68% da BRF, e a Sadia, com 32%; mercados dos EUA e da China são focos da expansão internacional da companhia


Moacyr Lopes Jr./Folha Imagem
Nildemar Secches (à esquerda) e Luiz Furlan exibem camisa do Corinthians com logo da nova empresa durante anúncio da fusão

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) confirmou ontem, pela primeira vez, que injetará recursos para financiar a fusão entre Sadia e Perdigão, que dará origem à Brasil Foods (BRF).
Embora Nildemar Secches e Luiz Fernando Furlan, copresidentes do conselho da BRF, tenham dito ontem que esperam não precisar da ajuda do banco estatal para financiar a empresa, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, confirmou que participará do processo, mesmo que "nossa participação venha a ser mínima".
Assim, o BNDES deve ajudar as três grandes empresas brasileiras (Sadia, Votorantim Celulose e Aracruz) que tiveram pesadas perdas na crise por causa de operações financeiras atreladas ao dólar, classificadas como especulativas e muito criticadas pelo governo, incluindo o presidente Lula.
Num primeiro momento, no entanto, a BRF diz que prescindirá da injeção de capital do banco. Segundo Secches, houve conversas com o BNDES e interesse por parte do banco no negócio, mas não compromisso.
"O BNDES entrará como um participante normal do mercado de capitais", diz Furlan, ex-ministro do governo Lula.
"Nós, que somos clientes antigos das linhas tradicionais de financiamento do banco, continuaremos a usá-las."
A expectativa é que a BRF não precise da injeção de recursos do BNDES porque deve ser capitalizada via mercado. Com endividamento de R$ 10 bilhões, a BRF pretende fazer um lançamento de ações no valor de R$ 4 bilhões, até meados de julho, para reduzir a relação entre geração de caixa e dívida.
"A disposição dos atuais acionistas é subscrever pouco mais de R$ 1,8 bilhão, o que significa que quase metade dessa operação já está colocada", diz Secches. "Como ela está bem demandada, poderíamos aumentar a emissão, mas nos pareceu que os R$ 4 bilhões eram adequados para dar folga a nossos projetos de expansão."
Tais projetos devem fazer com que a BRF, que se tornou a maior empregadora do país (com 116 mil funcionários), eleve sua receita líquida anual de R$ 22 bilhões para R$ 30 bilhões no curto prazo, conforme anunciado ontem. Só a Sadia deve inaugurar quatro fábricas no Brasil nos próximos meses.
Conforme previsto, a Perdigão ficou com 68% da BRF, e a Sadia, com 32%. A área financeira da Sadia (o banco e a corretora Concórdia) foi transferida para uma terceira empresa e ficará com as famílias Fontana e Furlan, da Sadia. Dos 11 conselheiros, 3 serão indicados pela Sadia, 5 pela Perdigão e os outros serão independentes.
O maior acionista individual da BRF passará a ser a Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, com cerca de 12% de participação. Os Fontana e Furlan terão participação um pouco menor.
O negócio passará agora pelo crivo das autoridades regulatórias. Sadia e Perdigão continuarão funcionando de maneira independente até o aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência).
Segundo Furlan, não haverá demissões no chão de fábrica. "A Brasil Foods vai crescer e empregar mais gente", diz ele.
A venda de fábricas da Sadia e investimentos que tinham sido suspensos por conta do endividamento serão revistos. A empresa, que pretende ser a maior exportadora de carnes processadas do mundo, quer também aumentar exportações, principalmente para EUA e China.
"A BRF vai lutar pela abertura do mercado americano", diz Secches. "Estamos dispostos a qualquer acordo de reciprocidade porque agora temos uma empresa de porte para jogar em condições de igualdade."
Para Furlan, as empresas brasileiras vivem um momento mais favorável do que as estrangeiras. Além de o mercado local estar aquecido, as empresas dos EUA não têm mais do que 20% de suas receitas provenientes do exterior.


Colaborou SAMANTHA LIMA , da Sucursal do Rio


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