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Campeãs de lucro lideram as perdas na Bolsa de SP
Ações de empresas como Petrobras e Vale caem mais que o Ibovespa na turbulência
Por serem mais fáceis de
negociar e estarem entre os
que mais subiram antes da
instabilidade, papéis são os
primeiros a serem vendidos
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas que mais lucraram no primeiro semestre deste ano estão também entre as
que tiveram as maiores perdas
no valor de suas ações nas últimas quatro semanas, durante a
recente turbulência nos mercados, de acordo com levantamento da consultoria Economática feito para a Folha.
Empresas com lucros bilionários, que aumentam seu ganhos acima da média do mercado, Vale do Rio Doce, Petrobras, Banco Itaú, Gerdau, Banco do Brasil, Telesp, AmBev,
Cemig, entre outras, têm desempenho negativo em suas
ações e variação pior que o Ibovespa, que perdeu 16,3% desde
24 de julho, com o agravamento da crise.
O pior resultado foi das ações
PN (sem direito a voto) do Banco do Brasil, que amargaram
perdas de 22,7% nas últimas
quatro semanas, mesmo após
reportar lucro de R$ 2,477 bilhões no primeiro semestre. O
Itaú, que teve lucro líquido de
R$ 4,016 bilhões, o terceiro
melhor balanço semestral depois da Vale, teve baixa de
16,4% em suas ações PN desde
24 de julho. O mesmo aconteceu com a Gerdau, que, com lucro de R$ 1,346 bilhão, teve
perdas de 22,3% nas ações PN.
A exceção ficou com a Telemar,
que passou pela crise com alta
de 2,2% em suas ações PN, por
conta de um programa de recompra de papéis e pela consolidação do setor de telefonia.
"Essa safra de balanços veio
com o nervosismo do mercado,
que ofuscou os resultados positivos das empresas", diz Lucy
Sousa, presidente da Apimec
São Paulo (associação dos analistas de mercado).
As "estrelas" da Bolsa não recuam devido ao resultado fraco
de seus balanços, mas porque
estiveram entre os papéis de
maior alta até antes da turbulência (veja quadro). Durante
os períodos de estresse, as
ações de maior liquidez (mais
fáceis de negociar) e aquelas
que mais valorizaram são as
primeiras a serem vendidas.
"A locomotiva que puxa a
Bovespa há cinco anos é o cenário internacional. Tudo vem
daí, da forte demanda por nossas commodities. As ações que
mais subiram nesse embalo são
as que mais cairão. Quanto
maior o coqueiro, maior o tombo", diz Fernando Exel, presidente da Economática.
"A liquidez é como uma droga que funciona para o bem e
para o mal. As ações de maior
liquidez são as primeiras a serem vendidas em época de crise. Quando a situação melhora,
recuperam-se mais rapidamente", diz Andrea Minardi,
economista do Ibmec-SP.
Exportadoras
Para Eduardo Roche, da Modal, após o impacto inicial do
estresse no mercado, o preço
das ações tende a responder às
perspectivas das empresas durante uma eventual crise. Ele
afirma que, se confirmada uma
diminuição da demanda internacional, as ações mais prejudicadas serão as de exportadores
e empresas voltadas para o
mercado externo, como a Vale
do Rio Doce e a Gerdau.
Já Lucy Sousa, da Apimec,
acha cedo para saber quais empresas serão mais prejudicadas
em um cenário de crise. "As exportadoras vão perder com a
diminuição da demanda, mas
podem se beneficiar com a queda do real", afirma.
Uma perspectiva positiva é
que vários papéis de empresas
campeãs em lucro começam a
ficar com preço atrativo e podem liderar um novo ciclo de
valorização após a crise. Além
do preço atrativo, analistas
alertam de que o sucesso de
uma empresa na Bolsa depende
do potencial de crescimento no
setor em que atua.
"Empresas voltadas ao mercado interno, como as de consumo, tendem a preservar seus
ganhos, pois a economia brasileira segue bem. Um setor defensivo é o elétrico, que tem demanda garantida não importa o
cenário de crise lá fora", afirma
André Segadilha, da corretora
Prosper.
Já Rodrigo Ferraz, do Banco
Brascan, vê potencial para a Vale mesmo em meio à crise, que
pode causar desaceleração da
economia americana e redução
gradual no preço das commodities. "A empresa mostra que
consegue gerar caixa para diminuir seu endividamento e ficar
livre para aquisições."
Para Aloisio Lemos, da Ágora, a expansão do crédito manterá alto o lucro dos bancos.
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