São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2007

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Campeãs de lucro lideram as perdas na Bolsa de SP

Ações de empresas como Petrobras e Vale caem mais que o Ibovespa na turbulência

Por serem mais fáceis de negociar e estarem entre os que mais subiram antes da instabilidade, papéis são os primeiros a serem vendidos

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas que mais lucraram no primeiro semestre deste ano estão também entre as que tiveram as maiores perdas no valor de suas ações nas últimas quatro semanas, durante a recente turbulência nos mercados, de acordo com levantamento da consultoria Economática feito para a Folha.
Empresas com lucros bilionários, que aumentam seu ganhos acima da média do mercado, Vale do Rio Doce, Petrobras, Banco Itaú, Gerdau, Banco do Brasil, Telesp, AmBev, Cemig, entre outras, têm desempenho negativo em suas ações e variação pior que o Ibovespa, que perdeu 16,3% desde 24 de julho, com o agravamento da crise.
O pior resultado foi das ações PN (sem direito a voto) do Banco do Brasil, que amargaram perdas de 22,7% nas últimas quatro semanas, mesmo após reportar lucro de R$ 2,477 bilhões no primeiro semestre. O Itaú, que teve lucro líquido de R$ 4,016 bilhões, o terceiro melhor balanço semestral depois da Vale, teve baixa de 16,4% em suas ações PN desde 24 de julho. O mesmo aconteceu com a Gerdau, que, com lucro de R$ 1,346 bilhão, teve perdas de 22,3% nas ações PN. A exceção ficou com a Telemar, que passou pela crise com alta de 2,2% em suas ações PN, por conta de um programa de recompra de papéis e pela consolidação do setor de telefonia.
"Essa safra de balanços veio com o nervosismo do mercado, que ofuscou os resultados positivos das empresas", diz Lucy Sousa, presidente da Apimec São Paulo (associação dos analistas de mercado).
As "estrelas" da Bolsa não recuam devido ao resultado fraco de seus balanços, mas porque estiveram entre os papéis de maior alta até antes da turbulência (veja quadro). Durante os períodos de estresse, as ações de maior liquidez (mais fáceis de negociar) e aquelas que mais valorizaram são as primeiras a serem vendidas.
"A locomotiva que puxa a Bovespa há cinco anos é o cenário internacional. Tudo vem daí, da forte demanda por nossas commodities. As ações que mais subiram nesse embalo são as que mais cairão. Quanto maior o coqueiro, maior o tombo", diz Fernando Exel, presidente da Economática.
"A liquidez é como uma droga que funciona para o bem e para o mal. As ações de maior liquidez são as primeiras a serem vendidas em época de crise. Quando a situação melhora, recuperam-se mais rapidamente", diz Andrea Minardi, economista do Ibmec-SP.

Exportadoras
Para Eduardo Roche, da Modal, após o impacto inicial do estresse no mercado, o preço das ações tende a responder às perspectivas das empresas durante uma eventual crise. Ele afirma que, se confirmada uma diminuição da demanda internacional, as ações mais prejudicadas serão as de exportadores e empresas voltadas para o mercado externo, como a Vale do Rio Doce e a Gerdau.
Já Lucy Sousa, da Apimec, acha cedo para saber quais empresas serão mais prejudicadas em um cenário de crise. "As exportadoras vão perder com a diminuição da demanda, mas podem se beneficiar com a queda do real", afirma.
Uma perspectiva positiva é que vários papéis de empresas campeãs em lucro começam a ficar com preço atrativo e podem liderar um novo ciclo de valorização após a crise. Além do preço atrativo, analistas alertam de que o sucesso de uma empresa na Bolsa depende do potencial de crescimento no setor em que atua.
"Empresas voltadas ao mercado interno, como as de consumo, tendem a preservar seus ganhos, pois a economia brasileira segue bem. Um setor defensivo é o elétrico, que tem demanda garantida não importa o cenário de crise lá fora", afirma André Segadilha, da corretora Prosper.
Já Rodrigo Ferraz, do Banco Brascan, vê potencial para a Vale mesmo em meio à crise, que pode causar desaceleração da economia americana e redução gradual no preço das commodities. "A empresa mostra que consegue gerar caixa para diminuir seu endividamento e ficar livre para aquisições."
Para Aloisio Lemos, da Ágora, a expansão do crédito manterá alto o lucro dos bancos.


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