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EM TRANSE
Investidores estão preferindo comprar dólares em espécie a fazer operações com a moeda no mercado futuro
Negócios com dólar visam remessa para fora
ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os sinais emitidos nos últimos dias pelo mercado financeiro não
deixam dúvidas: aumentou a procura por dólares em espécie. O
destino da moeda norte-americana que está sendo comprada é
principalmente remessa para o
exterior, na opinião unânime de
analistas e operadores.
A diferença entre os valores de
negociação do dólar nos mercados à vista e futuro mostra claramente esse movimento. Ontem,
pelo segundo dia consecutivo, a
cotação à vista da moeda norte-americana fechou com ágio de
0,7% sobre o seu valor negociado
para o vencimento de outubro na
BM&F (Bolsa de Mercadoria e
Futuros). A diferença entre os
preços de negociação não era tão
alta desde antes do acordo fechado pelo Brasil com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), no início de agosto passado.
Esse ágio mostra que os investidores estão preferindo embolsar
dólares em espécie do que fazer
apostas sobre o comportamento
da moeda no mercado futuro.
Em condições normais do mercado, essa diferença seria corrigida porque os investidores venderiam dólar à vista, mais caro, e
aproveitariam para comprá-lo no
futuro a um preço mais baixo. É o
que se chama no mercado de arbitragem de preços.
Agora isso não vem ocorrendo
porque o objetivo principal da
compra de dólares é a remessa para fora do país.
Segundo operadores do mercado, esse movimento tem sido liderado por bancos e empresas multinacionais.
A razão principal dessa fuga é o
temor de que a oposição possa
sair vitoriosa ainda no primeiro
turno das eleições presidenciais.
Assunto que virou o ponto central
nas discussões do mercado financeiro nesta semana.
A própria decisão anunciada
ontem pelo Banco Central de não
renovar integralmente as parcelas
de dívida cambial que vencem
nos próximos dias indica uma
percepção de que a demanda por
operações futuras de dólar como
forma de proteção (hedge) caiu e
que, ao contrário, a procura pela
moeda norte-americana em espécie deve aumentar.
No comunicado enviado ao
mercado, o BC chega a afirmar
que poderá fazer intervenções
adicionais no mercado à vista, caso a pressão de compra por dólar
aumente.
Taxa recorde
À escalada do dólar, soma-se a alta do cupom cambial -projeção do valor da taxa de juros em dólar-, que voltou a atingir níveis recordes nos contratos negociados na BM&F.
Quanto mais o cupom cambial sobe, mais caro fica para o governo rolar seus vencimentos atrelados ao dólar. A taxa que o governo paga para rolar sua dívida indexada ao câmbio segue o cupom cambial.
Ontem o FRA -Forward Rate Agreement, que melhor mede o
cupom cambial- com prazo em novembro fechou com taxa de
48,5% ao ano na BM&F. Há uma
semana, essa taxa estava em
29,7% ao ano.
Isso significa que se o Banco
Central quisesse colocar no mercado ontem papéis cambiais com
prazo em novembro -para substituir títulos que estivessem vencendo- pagaria taxa de 48,5% ao
ano mais a variação cambial no
período. Há pouco mais de três
meses, o cupom do FRA de prazo
mais curto estava em torno de 4%
anuais.
"O governo teria de contar com
um cupom mais baixo para pensar em rolar toda sua dívida indexada ao câmbio que vence nas
próximas semanas. Com esse cenário, uma opção para o governo
é rolar apenas parte dos próximos
vencimentos", afirma Joaquim
Kokudai, diretor de tesouraria do
banco Lloyds TSB.
O BC anunciou ontem que vai
rolar apenas 50% do US$ 1,5 bilhão em dívida indexada ao câmbio que vence no dia 25, e até 70% do US$ 1,2 bilhão que vence em 1º de outubro.
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