São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Investidores estão preferindo comprar dólares em espécie a fazer operações com a moeda no mercado futuro

Negócios com dólar visam remessa para fora

ÉRICA FRAGA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os sinais emitidos nos últimos dias pelo mercado financeiro não deixam dúvidas: aumentou a procura por dólares em espécie. O destino da moeda norte-americana que está sendo comprada é principalmente remessa para o exterior, na opinião unânime de analistas e operadores.
A diferença entre os valores de negociação do dólar nos mercados à vista e futuro mostra claramente esse movimento. Ontem, pelo segundo dia consecutivo, a cotação à vista da moeda norte-americana fechou com ágio de 0,7% sobre o seu valor negociado para o vencimento de outubro na BM&F (Bolsa de Mercadoria e Futuros). A diferença entre os preços de negociação não era tão alta desde antes do acordo fechado pelo Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional), no início de agosto passado.
Esse ágio mostra que os investidores estão preferindo embolsar dólares em espécie do que fazer apostas sobre o comportamento da moeda no mercado futuro.
Em condições normais do mercado, essa diferença seria corrigida porque os investidores venderiam dólar à vista, mais caro, e aproveitariam para comprá-lo no futuro a um preço mais baixo. É o que se chama no mercado de arbitragem de preços.
Agora isso não vem ocorrendo porque o objetivo principal da compra de dólares é a remessa para fora do país.
Segundo operadores do mercado, esse movimento tem sido liderado por bancos e empresas multinacionais.
A razão principal dessa fuga é o temor de que a oposição possa sair vitoriosa ainda no primeiro turno das eleições presidenciais. Assunto que virou o ponto central nas discussões do mercado financeiro nesta semana.
A própria decisão anunciada ontem pelo Banco Central de não renovar integralmente as parcelas de dívida cambial que vencem nos próximos dias indica uma percepção de que a demanda por operações futuras de dólar como forma de proteção (hedge) caiu e que, ao contrário, a procura pela moeda norte-americana em espécie deve aumentar.
No comunicado enviado ao mercado, o BC chega a afirmar que poderá fazer intervenções adicionais no mercado à vista, caso a pressão de compra por dólar aumente.

Taxa recorde
À escalada do dólar, soma-se a alta do cupom cambial -projeção do valor da taxa de juros em dólar-, que voltou a atingir níveis recordes nos contratos negociados na BM&F.
Quanto mais o cupom cambial sobe, mais caro fica para o governo rolar seus vencimentos atrelados ao dólar. A taxa que o governo paga para rolar sua dívida indexada ao câmbio segue o cupom cambial.
Ontem o FRA -Forward Rate Agreement, que melhor mede o cupom cambial- com prazo em novembro fechou com taxa de 48,5% ao ano na BM&F. Há uma semana, essa taxa estava em 29,7% ao ano.
Isso significa que se o Banco Central quisesse colocar no mercado ontem papéis cambiais com prazo em novembro -para substituir títulos que estivessem vencendo- pagaria taxa de 48,5% ao ano mais a variação cambial no período. Há pouco mais de três meses, o cupom do FRA de prazo mais curto estava em torno de 4% anuais.
"O governo teria de contar com um cupom mais baixo para pensar em rolar toda sua dívida indexada ao câmbio que vence nas próximas semanas. Com esse cenário, uma opção para o governo é rolar apenas parte dos próximos vencimentos", afirma Joaquim Kokudai, diretor de tesouraria do banco Lloyds TSB.
O BC anunciou ontem que vai rolar apenas 50% do US$ 1,5 bilhão em dívida indexada ao câmbio que vence no dia 25, e até 70% do US$ 1,2 bilhão que vence em 1º de outubro.


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