São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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CONTAS PÚBLICAS

País obtém R$ 3,4 bi com juros de 12,75% ao ano e quitação até 2016, com intermediação de Itaú e bancos dos EUA

Governo faz primeira emissão em reais

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro emitiu ontem, pela primeira vez, títulos da dívida externa atrelados ao real. Por meio da operação, o país conseguiu um empréstimo de R$ 3,4 bilhões e terá até 2016 para quitá-lo. No período, irá pagar juros de 12,75% ao ano aos investidores.
A vantagem desse tipo de operação é a ausência do chamado risco cambial: mesmo que a cotação do dólar dispare nos próximos anos, o valor do empréstimo, que é medido em reais, não muda.
Por outro lado, é difícil avaliar se o custo pago pelo governo para fazer esse tipo de financiamento foi alto ou baixo, pois não há nenhuma operação anterior comparável. Os títulos em reais lançados pelo governo no mercado brasileiro têm prazo mais reduzido, variando de um a dois anos.
O risco assumido pelo governo e pelos investidores na operação é, justamente, o comportamento dos juros no Brasil. Se os juros permanecerem elevados nos próximos 11 anos, o ganho será do governo, que terá conseguido um empréstimo a um custo mais baixo que a média. Caso contrário, os investidores ganham mais.
Para José Antônio Gragnani, secretário-adjunto do Tesouro Nacional, as condições obtidas pelo governo na emissão de ontem ficaram "dentro do esperado". "O resultado mostra que o investidor estrangeiro está vendo as qualidades do país. Vê que é interessante investir no Brasil", disse.
O lançamento de ontem foi intermediado pelos bancos americanos Goldman Sachs e JP Morgan, com o auxílio do Itaú. Segundo o Tesouro, a presença de um banco nacional, incomum nesse tipo de operação, foi importante para ajudar na venda dos títulos.
Embora seja a primeira emissão internacional em reais feita pelo governo, empresas brasileiras já haviam feito emissões semelhantes. Gragnani diz que o lançamento do Tesouro poderá estimular o setor privado a fazer novas captações desse tipo. Isso porque, a partir de agora, as operações privadas poderão usar o lançamento do governo como parâmetro, o que pode facilitar, por exemplo, negociações em torno de prazo e taxas dos financiamentos.
Em dólares, a emissão feita pelo governo ontem soma cerca de US$ 1,5 bilhão, que deve ser depositado nas reservas internacionais na segunda-feira.
O plano do governo era captar US$ 9 bilhões entre 2006 e 2007 para refinanciar seus compromissos externos, mas, diante das condições favoráveis do mercado, começou a emitir títulos já neste ano. Há duas semanas, o Tesouro já havia lançado US$ 1 bilhão, que, pagando juros em dólar de 8,52% ao ano, vencerão em 2025. Entre janeiro e agosto, outros US$ 4,5 bilhões em títulos da dívida externa foram emitidos. Além disso, outros US$ 4,4 bilhões em papéis foram lançados para substituir os C-Bonds -títulos emitidos no processo de renegociação que se seguiu à moratória dos anos 80.


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