São Paulo, terça-feira, 20 de setembro de 2005

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Crise evita aumento maior da dívida

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dívida pública federal em títulos cresceu 0,6% em agosto sobre o mês anterior e atingiu R$ 920,8 bilhões. A crise política foi o principal fator para o crescimento ter sido moderado, já que reduziu o apetite dos investidores por papéis do governo. Isso obrigou o Tesouro Nacional a retirar (resgate líquido) do mercado em agosto R$ 7,8 bilhões em títulos.
"Em épocas de volatilidade, o Tesouro é mais conservador. Reduzimos os lotes de títulos para não pressionar o mercado. Mas, em setembro, o cenário está mais tranqüilo", disse Paulo Valle, coordenador-geral da Dívida Pública. Se o mercado tivesse comprado mais papéis em agosto, o crescimento da dívida teria sido maior. Como isso não ocorreu, a expansão deve-se basicamente ao efeito dos juros sobre a dívida.
Nas conta do Tesouro, a redução da Selic em 0,25 ponto percentual, promovida pelo Copom (Comitê de Política Monetária) na semana passada, pode gerar economia anual de R$ 1,3 bilhão no pagamento da dívida pública.
Os cálculos são feitos com base no montante atual de R$ 519 bilhões em títulos federais atrelados à Selic. A economia se concretizará somente se os juros forem mantidos nesse patamar pelos próximos 12 meses. Desde que o Banco Central iniciou a elevação da Selic, em setembro de 2004, a dívida total em títulos (incluindo papéis com outros tipos de remuneração) cresceu R$ 149 bilhões.
Paulo Valle afirma que, apesar da volatilidade em agosto, o Tesouro trabalha com uma folga na rolagem da dívida. Segundo ele, de janeiro a agosto, o governo rolou 5% acima do necessário no período. Dados do mês passado mostram, entretanto, que em julho esse índice estava 9% acima do total de vencimentos.
A folga no financiamento da dívida, somada ao superávit primário (receita menos despesas, exceto os juros), compõe o chamado "colchão" de liquidez do governo.
Em agosto, o governo planejava captar até R$ 35 bilhões -os vencimentos do mês foram de R$ 27,5 bilhões. Por causa da instabilidade no mercado, as emissões ficaram em R$ 27,9 bilhões. Para setembro, os planos são emitir até R$ 32 bilhões. Os vencimentos do mês totalizarão R$ 25 bilhões. Nas duas primeiras semanas, foram emitidos R$ 15 bilhões. Na avaliação de Paulo Valle, a demanda dos investidores por papéis em setembro "está alta".
Para outubro, o Tesouro prevê grande concentração de vencimentos de prefixados: R$ 61 bilhões. O Tesouro e o BC, no entanto, vêm antecipando a recompra e a troca desses papéis para retirar a pressão sobre o mês. Até o último dia 9, essas operações somavam R$ 21 bilhões.

Perfil
No mês de agosto, a composição da dívida apresentou ligeira melhora. A parcela de papéis atreladas à Selic caiu de 57,32% para 55,85%. A exposição cambial também caiu -de 4,15% para 4,11%. Quanto menor a parcela vinculada ao câmbio e à taxa de juros pós-fixada, melhor. Isso torna a dívida menos suscetível a períodos de instabilidade.
Já a dívida prefixada apresentou moderado crescimento de 22,37% para 23,87%. Esse aumento favorece o governo, pois dá mais previsibilidade na administração da dívida. O total de títulos com vencimento em até 12 meses caiu de 44,2% para 42,7% em agosto. O prazo médio do vencimento do estoque diminuiu de 27,6 meses para 27,4 meses.


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