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Tesouro turbina caixa com lucro de estatais
Dividendos de empresas representam mais de 50% do superavit primário neste ano; no mesmo período de 2008, eram 10%
Com arrecadação menor, Planalto radicaliza política para extrair dinheiro de
suas empresas; em agosto, dividendos foram recorde
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Sem sinal de recuperação da
receita de impostos pelo décimo mês consecutivo, o governo
Lula radicalizou em agosto a
política de extrair recursos das
empresas estatais para equilibrar as contas do Tesouro.
Segundo dados obtidos pela
Folha, o governo recebeu no
mês passado R$ 7,7 bilhões em
dividendos das estatais, um valor sem precedentes na história
-o recorde anterior, de R$ 4,5
bilhões, havia sido contabilizado exatamente um ano antes,
quando o crescimento da economia e os lucros das empresas
estavam no auge.
O valor equivale à arrecadação somada do IPI (Imposto
Sobre Produtos Industrializados), do PIS/Pasep e da CSLL
(Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido) no período.
A participação do Tesouro
nos lucros das empresas que
controla deixou de ser um bônus ocasional e se tornou, neste
ano, uma receita fundamental
para sustentar a alta das despesas, puxada pelos reajustes salariais do funcionalismo e pelo
aumento do salário mínimo.
De janeiro a agosto, o pagamento de dividendos somou R$
17,9 bilhões, muito mais do que
os R$ 10,1 bilhões previstos pela lei orçamentária para o ano
todo. O dinheiro retirado das
estatais produziu um aumento
do superavit primário do mês
passado, a ser anunciado na
próxima semana, e já responde
por mais da metade do superavit acumulado neste ano.
Essa proporção mal passava
dos 10% há apenas um ano,
quando a crise quase não abalava a economia nacional, a receita batia recorde e o governo
preparava seu maior superavit.
Foi justamente naquela época que o governo adotou a estratégia de elevar a receita com
dividendos, embora com objetivos diferentes dos atuais.
Quando passou a ser menos liberal nas negociações com as
empresas e a cobrar parcelas
maiores dos lucros, o Tesouro
pretendia tirar dinheiro de circulação a fim de contribuir para
o controle de uma ameaça inflacionária hoje esquecida.
Devido à escassez de dinheiro até para cumprir a já reduzida meta de superavit deste ano,
a política continuou, apesar do
efeito colateral de reduzir os investimentos, ou seja, as obras
de infraestrutura e as aquisições de máquinas e equipamentos -em tese, despesas
prioritárias no segundo mandato de Lula e as mais importantes numa fase de retração.
As 111 empresas controladas
pelo Tesouro fazem quase dois
terços dos investimentos a cargo do governo federal. Em
2008, elas investiram R$ 53,2
bilhões com recursos próprios,
enquanto o Tesouro investiu
R$ 28,3 bilhões do dinheiro da
arrecadação tributária, dos dividendos pagos por suas empresas e de outras fontes.
(GP)
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