São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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Era de "megassuperavit" do setor público pode ter chegado ao fim

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tão reveladora quanto as previsões é a tranquilidade com que o mercado trata o esperado descumprimento das metas fiscais, esteio da política econômica nos últimos anos ao lado das metas de inflação.
Pelo que se pode interpretar das avaliações de especialistas, a ausência de uma onda de desconfiança com a evolução da dívida pública -capaz de fazer disparar o dólar, a inflação e os juros- dá sinais de que pode ter chegado ao fim a era dos megassuperavit destinados a garantir a solvência do país.
"Depois de uma agenda de ajuste consolidada nos últimos anos, existe capacidade financeira para administrar a dívida. Os mercados não vão impor constrangimentos [em caso de superavit menor]", diz Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB, que projeta resultados de apenas 1,2% do PIB neste ano e 1,8% em 2010.
Sérgio Vale, da MB Associados, partilha da previsão média dos analistas para o próximo ano, que considera suficiente para evitar temores imediatos quanto à solidez das contas públicas. "Com a volta do crescimento do PIB e o superavit de 2,5%, nós voltamos para uma trajetória de queda da dívida."
Mesmo em alta neste ano, a dívida pública está longe de causar um terremoto financeiro como o das eleições de 2002 -na época, ela chegou a 56% do PIB, contra 44% hoje. Mais importante, há atualmente a vantagem dos menores juros da história documentada do país, outro efeito da crise global.
Para Padovani, a política fiscal levará em conta menos a solvência da dívida e mais as preocupações como a distribuição da carga tributária e o espaço orçamentário para ampliar investimentos -ou seja, o tamanho do superavit será menos importante que os efeitos dos gastos no crescimento.
Vale diz que a trajetória de expansão de gastos permanentes terá de ser interrompida após as eleições. "O próximo presidente, se fizer o correto, terá que acabar com a festa."


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