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Tele pressiona por isenção de R$ 1 bi
Empresas do setor reivindicam mais 18 meses para pagar ao governo licenças do 3G sem juros e correção
Teles alegam dificuldades de financiamento com crise e obrigações de expansão da rede; BNDES diz que não financia compra de licenças
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
Vivo, TIM, Brasil Telecom,
Oi e CTBC Celular puseram de
lado as divergências e, juntas,
pressionam o governo para que
aumente o prazo para pagamento, sem juros e correção,
das licenças do serviço celular
3G (terceira geração), que adquiram em dezembro passado.
As cinco empresas devem um
total de R$ 3,5 bilhões pela
compra das licenças em leilão
da Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações). Pelas regras do leilão, elas têm até 10 de
dezembro para liquidar o débito, sem juros e correção, ou podem parcelar a dívida em nove
anos, com três anos de carência, juros de 12% anuais e correção pelo IST (Índice do Setor de
Telecomunicações).
Elas querem que o governo
estenda a isenção de juros e de
correção por mais 18 meses, o
que equivaleria a uma renúncia
de receita próxima de R$ 1 bilhão por parte do Tesouro.
Em carta ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, no
dia 5, a Acel (Associação Nacional das Operadoras Celulares)
alegou que as teles assumiram
compromisso de levar a cobertura de celular a todos os municípios até o final de 2009 e que a
escassez de crédito e a desvalorização cambial colocariam o
cronograma em risco.
O governo, até agora, tem resistido à pressão. Dentro do
próprio setor há críticas ao pedido, porque nem todos seriam
beneficiados. A Claro pagou já
R$ 1,4 bilhão, à vista, em abril. A
Sercomtel (operadora celular
de Londrina) está implantando
o 3G em outra faixa de freqüência que já possuía e também ficaria em desvantagem.
Há entendimento de que haveria um desequilíbrio no mercado se só alguns fossem favorecidos. E os excluídos passariam a cobrar compensação.
Até mesmo entre as candidatas ao benefício há divergências. As que já têm dinheiro para pagar a dívida de uma vez
acham que o pleito prejudica
politicamente o setor.
Como justificar a renúncia
de receita pelo Tesouro para
beneficiar a Oi, que está investindo R$ 12 bilhões na compra
da Brasil Telecom? Ou para beneficiar empresas de capital estrangeiro, como Vivo e TIM?
Entre janeiro e setembro
deste ano, empresas de telecomunicações enviaram US$ 691
milhões em lucros para suas
matrizes no exterior, aumento
de 194% em relação ao mesmo
período do ano passado, segundo o Banco Central.
O leilão das freqüências para
o 3G (que permite o acesso à internet em banda larga) provocou grande disputa. As licenças
foram vendidas com um ágio
médio de 89,24% sobre o preço
mínimo fixado pela Anatel.
Segundo dados da agência, a
Oi tem um saldo a pagar de R$
780,3 milhões. Se parcelar o pagamento, os juros de 12% ao
ano e a correção pelo IST aumentarão a dívida em cerca de
R$ 210 milhões, supondo-se
que o índice de custo setorial se
mantenha estável. A Vivo teria
encargo de R$ 277,34 milhões
(somando-se o custo da licença
adquirida pela Telemig); a
TIM, de R$ 320,1 milhões, a
BrT Celular, de R$ 118,1 milhões e a CTBC Celular, de R$
7,48 milhões. O que elas pleiteiam ao governo é a isenção
dessa despesa prevista.
Executivos do setor argumentam que o custo financeiro
do parcelamento é muito alto
-cerca de 18% ao ano-, comparando-se com o do crédito
dos bancos oficiais para empréstimos de longo prazo. Mas
admitem que usar a crise global
como argumento para pedir
isenção de juros ao governo soa
oportunista, uma vez que as
empresas têm a opção de parcelar o pagamento ao Tesouro,
e conheciam as condições
quando disputaram o leilão.
Segundo a Folha apurou, representantes das cinco companhias de celulares reuniram-se
ontem com o presidente do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social), Luciano Coutinho, para pleitear a obtenção de crédito de longo prazo para o pagamento das licenças.
Segundo relato de um dos
participantes, Coutinho disse
que o regulamento do BNDES
não prevê financiamento para
compra de licenças e negou o
pedido. Diante da negativa, as
empresas vão intensificar o assédio ao governo por mais prazo com isenção de juros.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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