|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo pode liberar aplicações no exterior
Fundos multimercados, que hoje só podem aplicar 20% no exterior, poderiam investir todo o patrimônio fora do país
Liberação faz parte de
novas medidas em estudo no governo para tentar conter valorização do real
em relação ao dólar
VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da tendência de valorização do real, no curto e no
médio prazo, o governo estuda
novas medidas para tentar atenuar os impactos do câmbio na
economia.
Entre as medidas está autorizar os fundos de investimento
multimercados -destinados a
pessoas com maior apetite por
risco- a aumentar suas aplicações no exterior. Hoje, eles já
podem investir 20% de seu patrimônio lá fora.
Ao mesmo tempo em que a
medida visa flexibilizar o mercado de câmbio no Brasil, facilitando a saída de moeda estrangeira, poderá atender ao desejo
do governo de evitar uma valorização maior do real ante o dólar diante da expectativa de
mais entrada de dinheiro no
país, principalmente no setor
de infraestrutura, sobretudo no
petróleo.
A ideia é que, se os fundos tiverem mais liberdade e puderem aplicar mais recursos lá fora, isso ajudará a equilibrar,
mesmo que parcialmente, o
fluxo cambial.
Segundo a Folha apurou, a
hipótese é permitir investimentos bem maiores do que os
20% autorizados hoje. Há, dentro do governo, quem defenda
acabar com qualquer tipo de limite dos fundos multimercados. Um fundo multimercado
pode misturar aplicações em
renda fixa, moedas, ouro, ações
e instrumentos mais complexos como os mercados de opções, dívida, futuros -dentro e
fora do país. São investimentos
que oferecem mais risco e buscam mais rentabilidade.
A medida em estudo na área
econômica, no entanto, não deverá trazer um alívio imediato
para o governo e reverter a valorização do real. Isso porque,
com uma das maiores taxas de
juros do mundo, de 8,75% ao
ano, e com a moeda nacional
acumulando valorização de
mais de 30% em relação ao dólar desde o início do ano, o Brasil ainda é bastante atrativo para investidores externos.
"Hoje, os fundos não estão
usando o limite de 20%. Essa
migração será um coisa gradual
por requerer uma estrutura para operar lá fora. Mas a medida
é muito bem-vinda porque amplia as possibilidades de os gestores brasileiros buscarem ativos para operar e gerar maiores
retornos", avalia o ex-diretor
de Política Monetária do Banco
Central Luiz Fernando Figueiredo.
Segundo dados da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), 40 fundos multimercados têm aplicações no exterior,
que somam R$ 562,3 milhões,
o que representa cerca de 5%
do patrimônio deles.
Depois que o país conseguiu
superar a crise mundial, a valorização do real passou a ser
uma grande dor de cabeça do
governo Lula, que passou a
adotar medidas na área cambial para evitar uma maior desvalorização do dólar -que prejudica as exportações ao encarecer os produtos brasileiros.
Em outubro, o ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou a taxação de IOF (Imposto
sobre Operações Financeiras)
de 2% sobre investimentos estrangeiros em ações e títulos de
renda fixa.
Ontem, passou a tributar
também as vendas de ações de
empresas brasileiras em Bolsas
no exterior. A partir de agora,
elas pagam IOF de 1,5% quando são registradas no país.
Com relação a medidas com
efeito imediato no mercado de
câmbio, a equipe econômica
programou reunião no início
de dezembro para avaliar a
criação do IOF sobre investimentos estrangeiros e a necessidade de novos ajustes.
Continua em estudo, por
exemplo, permitir o depósito lá
fora das garantias dadas pelos
investidores estrangeiros na
compra de ações na Bolsa de
Valores brasileira. O Banco
Central segue buscando mecanismo para dar segurança jurídica de que essas garantias poderiam ser acessadas em caso
de necessidade.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Bolsa quer fim de IOF em lançamento de ação Índice
|