São Paulo, sexta-feira, 20 de novembro de 2009

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Pará puxa crescimento do rebanho bovino

Expansão nacional de 1,3% é a primeira desde 2005; alta sinaliza fim do descarte de fêmeas após período de cotações baixas

Alta no Pará foi de 5,8%, mas IBGE não distingue boi de desmate do boi legal; em São Paulo, rebanho deu lugar à cana e encolheu 5%

Hudson Corrêa - 25.set.2008/Folha Imagem
Gado em São Félix do Xingu, no Pará; município tem o maior rebanho bovino da Amazônia

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após dois anos em queda, o rebanho de bovinos do país voltou a crescer em 2008 e a expansão foi puxada principalmente pelo Pará, Estado onde o governo combate a criação ilegal em áreas provenientes de desmatamento irregular e de preservação ambiental.
De 2007 para 2008, o rebanho subiu 1,3% na média do país, segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal, do IBGE. No Pará, o crescimento foi maior: 5,8% -o que corresponde a quase 900 mil cabeças de gado.
Foi a maior expansão dentre os grandes criadores de gado de corte do país. Em Mato Grosso, cuja porção norte também está na Amazônia Legal e onde há o combate ao chamado "boi pirata", o rebanho aumentou 1,3% -335 mil cabeças. O Estado tem o maior plantel do país.
O IBGE não pesquisa a origem do gado. Nem se ele é criado em áreas desmatadas ou de proteção ambiental, segundo Octávio Oliveira, gerente de Pecuária do IBGE.
Sobre o aumento do efetivo de bovinos no Pará, o técnico argumenta que nos últimos anos foram abatidas muitas matrizes no Estado em decorrência dos preços deprimidos.
Desse modo, diz, o crescimento de 2008 decorre de uma recuperação natural do rebanho, que voltou a aumentar com o fim desse ciclo de descarte das fêmeas.
Esse movimento de recomposição, diz, foi mais intenso no Pará, mas também ocorreu em outros Estados, como Mato Grosso do Sul, onde o plantel cresceu 2,4%. O Estado, ao lado de Mato Grosso, Goiás e Pará, reúne os maiores rebanhos de gado de corte do país.
Diante dos dados, afirma Oliveira, não é possível estabelecer uma relação direta entre o aumento do rebanho e o avanço do gado em áreas protegidas ou então oriundas de desmatamento irregular.
Já o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, diz, em entrevista à Folha, que a criação de bovinos, "é, sem dúvida, o principal vetor do desmatamento da Amazônia". Para ele, a expansão do rebanho no Pará "é expressiva e preocupante".
Segundo o ministro, a situação começa a se reverter, após grandes apreensões de gado ilegal feitas no final de 2008 e neste ano. Foram retiradas 3.200 cabeças no período.
Em números absolutos, diz, "parece pouco", mas as operações têm um efeito multiplicador: vários pecuaristas, receosos, retiraram seus bois de áreas protegidas ou desmatadas e levaram para outras áreas ou para o abate em frigoríficos.
Só em São Félix do Xingu (sul do Pará), maior criador do país, Minc estima a retirada de mais de 40 mil cabeças. Pelos dados da pesquisa do IBGE, porém, o rebanho da cidade cresceu 9,7% em 2008.
O ministro afirma que, pelos dados monitorados pela sua pasta, o desmatamento caiu nas cidades onde foram realizadas operações de apreensão de gado irregular.
Minc diz acreditar em redução do rebanho na Amazônia Legal neste ano por causa dos acordos firmados com grandes frigoríficos, que se comprometeram a não mais comprar gado de áreas de proteção ou desmatadas e a investir no rastreamento dos animais. Também ajudou, diz, "o boicote" dos supermercados à carne com origem suspeita.

São Paulo
Na contramão do resto do país, o rebanho bovino em São Paulo diminuiu -5,1%, ou 600 mil cabeças-, graças à substituição das pastagens por lavouras de cana-de-açúcar, segundo apurou o IBGE.


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