São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009

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BNDES eleva crédito a energia poluente

Banco aprova financiamento de US$ 2,6 bi para térmicas, enquanto governo promete corte na emissão de gases-estufa

BNDES afirma que cobra das termelétricas o dobro do "spread" das demais fontes de energia e exige adoção de equipamentos modernos

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na contramão das medidas propagandeadas pelo governo brasileiro para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) voltou, em 2009, a financiar usinas "sujas", movidas a gás natural, óleo e carvão.
Somente neste ano, segundo levantamento feito pela Folha, a aprovação de financiamento para usinas térmicas foi de R$ 2,6 bilhões, cerca de 58% dos investimentos totais dos projetos, que atingem R$ 4,45 bilhões. O banco informa que R$ 811 milhões para termelétricas já foram desembolsados.
Desde 2003, aproximadamente R$ 3,6 bilhões foram contratados, sendo liberados R$ 2,45 bilhões. Os repasses anteriores haviam sido feitos em 2003 e em 2004, ainda como consequência do apagão elétrico de 2001. Nos anos seguintes, as usinas "sujas" não receberam dinheiro do banco de fomento, mas voltaram neste ano a captar os recursos.
A assessoria do banco informou que entre 2003 e 2009 o BNDES financiou R$ 41,8 milhões em projetos de geração de energia, sendo que 9% do total foi para termelétricas.
"O sistema energético brasileiro precisa contar com termelétricas por questões de segurança de suprimento. Ou seja, para mitigar os riscos de falta de energia em períodos de seca", disse a assessoria. "A questão tornou-se ainda mais relevante diante da redução dos reservatórios das usinas hidrelétricas, o que impede o estoque de energia."
Na semana retrasada, o BNDES aprovou financiamento de R$ 1,038 bilhão para a MPX -braço de energia do grupo EBX, do empresário Eike Batista- para a construção de uma usina a carvão, localizada no Maranhão, com potência instalada de 315 megawatts.
A Folha apurou que ainda estão em tramitação no banco outras operações de financiamento, da ordem de R$ 4,7 bilhões, para usinas movidas a gás, carvão ou óleo.
O banco informou ainda que o "spread" básico cobrado para termelétricas é de 1,8% ao ano, o mais alto adotado pelo banco, enquanto para outras fontes de energia é de 0,9%. "O BNDES exige que os equipamentos das térmicas sejam de última geração, para reduzir ao mínimo possíveis emissões."

Agenda oficial
A redução das emissões ocupou a agenda do governo brasileiro nos últimos meses. O Brasil enviou na semana passada uma grande delegação para Copenhague (Dinamarca), onde ocorreu a conferência mundial sobre o clima.
A ministra da Casa Civil e pré-candidata petista ao Planalto, Dilma Rousseff, apresentou oficialmente a proposta de o país diminuir, em dez anos, as emissões de gases-estufa no Brasil entre 36% e 39% do volume estimado para 2020. Sem contar os gastos com a redução do ritmo do desmatamento do cerrado, o governo estima custo em US$ 166 bilhões.

Fundo Amazônia
O BNDES anunciou, também na semana retrasada, a aprovação dos cinco primeiros projetos financiados pelo Fundo Amazônia, iniciativa na qual países desenvolvidos contribuem com dinheiro que o Brasil pode utilizar para planos que favoreçam a redução do desmatamento. Os valores ainda são menores dos que os destinados a termelétricas.
A partir do mês que vem, o banco começa a liberar em parcelas os primeiros R$ 70,3 milhões já contratados.
O fundo foi criado em agosto de 2008 e recebeu, por ora, US$ 110 milhões, primeira parte de um compromisso de doação de US$ 1 bilhão da Noruega. A liberação do dinheiro está condicionada à queda do desmatamento. Uma segunda doação já prevista é da Alemanha, no valor de US$ 18 milhões.


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