São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 1998

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Economia encolhe por causa da retração nos preços do petróleo

da Reportagem Local

As empresas brasileiras estão se voltando para o mercado venezuelano num momento de dificuldades para o país vizinho. Em 98, o PIB (Produto Interno Bruto) venezuelano está encolhendo cerca de 1%. Para o ano que vem, a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), das Nações Unidas, projeta uma nova queda, de 0,5%.
A fragilidade venezuelana se origina da dependência dos ganhos do petróleo e de seus derivados, que respondem por cerca de 80% das exportações do país. Uma super oferta internacional provocou uma redução de quase metade no preço do óleo em 98. A economia venezuelana afundou junto com a cotação do petróleo.
Cansados da crise econômica e dos escândalos de corrupção, os venezuelanos resolveram virar a mesa na política. No início do mês, eles elegeram presidente o tenente-coronel Hugo Chávez, de 44 anos. Um dos responsáveis por uma tentativa de golpe de Estado fracassada, Chávez se elegeu com 56,5% dos votos, amparado em promessas populistas.
Pesquisas de opinião feitas recentemente na Venezuela indicam que a maior parte da população acha que a vida vai melhorar a partir de agora. O problema é que o futuro presidente terá de tomar medidas duras para consertar a economia. Chávez está tentando se mostrar confiável aos olhos dos parceiros econômicos, mas a direção do futuro governo ainda é um mistério.
O Brasil está especialmente atento ao desempenho de Chávez porque a Venezuela está ganhando um papel importante na economia e na estratégia diplomática brasileira.
Segundo maior exportador de petróleo para o Brasil, a Venezuela também deverá se tornar um importante fornecedor de energia elétrica. Uma linha de 700 quilômetros está sendo construída para levar energia da usina venezuelana de Guri a Boa Vista, em Roraima.
Ao estreitar os laços econômicos com a Venezuela, o Brasil também reforça sua liderança na América Latina. Depois da Bolívia, a Venezuela é o segundo integrante do chamado Grupo Andino (que também conta com a Colômbia, o Equador e o Peru) a tentar se associar ao Mercosul.
Como a negociação entre o Mercosul e o Grupo Andino está andando a passos muito lentos, a aproximação da Venezuela facilita as conversas com os demais países.
"Ao se aproximar da Venezuela e do Grupo Andino, o Brasil reforça sua liderança na América Latina e ganha força na hora de negociar com os Estados Unidos a criação de um mercado comum das Américas", diz Mário Carvalho, da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
Os ganhos da aproximação com a Venezuela serão percebidos com mais facilidade nos Estados da região Norte e Nordeste. Em Roraima, existem dois milhões de hectares de terra que podem ser cultivados com soja para exportação por meio do país vizinho.
Para os Estados do Norte a integração com os países vizinhos poderia ser uma boa opção econômica. "Se houvesse uma liberação dos gargalos físicos, como a falta de estradas, poderia haver um florescimento da economia regional", diz Carvalho, da Funcex.



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