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FINANÇAS
Apesar dos altos lucros, instituições privadas pagam menos IR do que as oficiais, revela estudo de consultoria
"Comprar banco é um bom investimento"
SILVANA QUAGLIO
da Reportagem Local
Comprar bancos oficiais e outros
problemáticos tem-se provado um
excelente negócio para instituições
que atuam no mercado brasileiro.
Bancos lucrativos conseguem
amainar o apetite do "leão" e aliviar o peso dos compulsórios depositados no Banco Central com a
ajuda dos bancos comprados.
"Crédito tributário tem sentido
amplo, mas, sem dúvida, é um valor pelo qual se pode pagar", diz
Fernando Santoro, diretor do Unibanco.
No final do primeiro semestre de
98, o Itaú pagou US$ 15 milhões de
Imposto de Renda, apenas 4% do
seu lucro. O Bozano, Simonsen
não pagou; tinha um crédito de
US$ 19,18 milhões. Os dois bancos
deram bons lucros: US$ 367,5 milhões o Itaú e US$ 68,26 milhões o
Bozano, de acordo a Austin Asis.
"Comprar banco é um bom negócio", afirma o professor Alberto
Borges Matias, da Austin, empresa
especializada na análise de balanços de bancos. Matias produziu
um estudo que mostra, por exemplo, que bancos oficiais pagam
muito mais IR do que os privados.
Somando-se o IR pago por 185
bancos, no primeiro semestre de
98, chega-se a US$ 893,7 milhões.
Esses mesmos bancos declararam
lucros de US$ 2,33 bilhões. Apenas
cinco bancos oficiais recolheram
US$ 472 milhões de IR, ou seja,
mais da metade da fatia abocanhada pelo "leão".
"Está evidente que uma fonte de
captação do governo é o próprio
governo. Com a privatização dos
bancos, cairá o recolhimento de
IR", afirma Matias. Segundo o professor, os bancos oficiais pagam
mais porque não recorrem às brechas da lei para reduzir o imposto
devido, o chamado planejamento
tributário.
O Itaú comprou o Banerj (Banco
do Estado do Rio de Janeiro), em
junho de 97, pelo preço mínimo de
R$ 311 milhões, usando moedas de
privatização para pagar. Em setembro deste ano, comprou o
Bemge (Banco do Estado de Minas
Gerais) por R$ 583 milhões -um
ágio de 85,58%.
A diretoria do banco não atendeu pedido da reportagem da Folha para falar sobre os créditos tributários e o alívio nos compulsórios recebidos com essas operações, mas especialistas avaliam
que o banco fez bons negócios.
Para comprar o Bemge, o Itaú teve de duelar com o Bradesco, depois que os envelopes abertos
mostraram as ofertas: R$ 486,1 milhões do Itaú, R$ 443 milhões do
Bradesco e R$ 391,1 milhões do Bozano, Simonsen.
"Sem dúvida a aquisição de bancos estaduais gera uma otimização
tributária muito grande", diz Pedro Guimarães, analista de bancos
do Bozano, Simonsen.
O balanço semestral do Bemge
dá uma pista. O banco pagou US$
184,5 milhões de IR e teve prejuízo
de US$ 41,5 milhões. Analistas calculam créditos tributários de cerca
de US$ 190 milhões.
Os compulsórios (sobre depósitos à vista e a prazo), que não precisarão ser depositados temporariamente, deverão render outros
R$ 900 milhões ao Itaú, de acordo
com o mercado. A desobrigação de
fazer esses depósitos é negociada
com o Banco Central.
²
Inversão
O caso do Bozano, Simonsen é
ainda mais emblemático de como
uma boa estratégia pode render
gordos dividendos. O banco comprou o Meridional, em dezembro
de 97, por R$ 265,66 milhões -um
valor 54,97% acima do mínimo.
O banco tinha créditos tributários de mais de R$ 200 milhões, só
que para usá-los tinha de dar lucro.
Como isso não aconteceria no curto prazo, o Bozano colocou boa
parte do seu patrimônio no Meridional e passou a ser controlado
pelo banco comprado.
Movimentos como esse não são
ilegais, explica o tributarista Régis
Fernando de Ribeiro Braga, do escritório Mattos Filho. "Os bancos,
como de resto todas as empresas,
fazem planejamento tributário,
buscando aproveitar todas as brechas da legislação", concorda Márcio Branco, analista de bancos do
FonteCindam.
A compensação de prejuízos
passados no lucro posterior é definida em lei. Até o final de 94, os
prejuízos podiam ser compensados totalmente, com um limite
temporal de quatro anos, segundo
Braga. Agora não há mais o limite
de tempo, mas só se pode compensar até 30% do lucro por ano.
A mudança foi feita por meio de
medida provisória no final de 94, e
virou lei em 95. Vários bancos já
obtiveram o direito de abater 100%
do prejuízo até dezembro de 94,
alegando direito adquirido. Muitos continuam brigando contra a
limitação de 30%.
"A compensação parcial é uma
espécie de empréstimo compulsório", diz Braga. Vários bancos também estão aumentando seus créditos tributários mediante reconhecimento de diferenças no cálculo
da inflação no Plano Verão (janeiro de 89) e no Plano Real.
Segundo Braga, em cada um desses períodos houve diferenças nos
índices de inflação de mais de 40%.
"À medida que não foi reconhecida a correção, o lucro é fictício e o
imposto indevido", diz Braga.
Medidas judiciais e outras negociações com a Receita (como a dedução de provisionamentos feitos
pelos bancos em razão da alta inadimplência de clientes) têm ajudado a reduzir o IR pago pelas instituições. Bancos como o Bradesco e
o Unibanco não pagaram nada de
IR no primeiro semestre de 98,
mesmo tendo lucros polpudos.
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