São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2006

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CÂMBIO

Autoridade monetária reduz intervenção a favor do real, e moeda americana cai 2,15%, com analistas prevendo novas quedas

BC recua e dólar tem maior queda em 5 meses

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem foi preciso que o BC deixasse de atuar no câmbio. Bastou a autoridade monetária diminuir o peso de sua intervenção no mercado para que o dólar desabasse. O dólar perdeu 2,15% de seu valor diante do real ontem, fechando a semana a R$ 2,278. Foi a maior queda da moeda em cinco meses.
O Banco Central ofereceu em contratos de "swap cambial reverso" ontem apenas US$ 200 milhões -metade do que vinha leiloando diariamente. O "swap cambial reverso" tem o efeito de compra de dólares no mercado futuro. Na prática, é como se o BC tivesse comprado US$ 200 milhões a menos do mercado futuro.
No entendimento de analistas financeiros, o BC sinalizou que pode não estar mais com muito fôlego para continuar intervindo pesadamente no mercado de câmbio. E sem o BC, o dólar tende a cair rápida e pesadamente.
"A taxa de câmbio está distorcida há algum tempo devido às pesadas atuações do BC", afirma Alexandre Maia, economista-chefe da GAP Asset Management. "Com atuações mais brandas, a tendência é a apreciação do real. Acho factível o dólar ir a R$ 2,15 no curto prazo", diz Maia.
O BC também comprou dólares diretamente dos bancos ontem, em volume estimado em US$ 100 milhões. Mas as intervenções se mostraram tímidas para deter a queda da moeda dos EUA.
"A decisão do BC, de reduzir a oferta de swap cambial, deverá ter um impacto no dólar, que tende a se enfraquecer ante o real", afirmava o departamento de pesquisas econômicas do Bradesco, em relatório, antes da abertura dos negócios de ontem.
O sinal do BC, de que pode estar com pouca munição para seguir duelando com o mercado, tende a elevar ainda mais as apostas dos investidores estrangeiros na apreciação do real. Os estrangeiros têm ampliado muito suas posições vendidas em dólar, especialmente desde novembro. As posições vendidas em dólar aumentam quando os investidores confiam na valorização do real.
De US$ 8,51 bilhões no começo do ano, as posições vendidas líquidas dos estrangeiros na BM&F saltaram a US$ 10,16 bilhões na última quinta. Há um ano, quando ninguém esperava que o dólar caísse tanto, essas posições eram de US$ 3,55 bilhões.
"Se na segunda o BC oferecer apenas US$ 200 milhões de "swap", o dólar vai cair ainda mais", disse João Medeiros, diretor de câmbio da corretora Pionner, antes de o BC anunciar que leiloará no máximo US$ 200 milhões na segunda.
No começo de dezembro, o BC intensificou suas atuações no mercado de câmbio, passando a ofertar cerca de US$ 600 milhões em "swap cambial reverso" por dia. Há cerca de um mês, o BC reduziu o volume de papéis leiloados para US$ 400 milhões por dia. Ontem foram só US$ 200 milhões.
Analistas avaliam que intervir no mercado de câmbio por meio de "swap cambial reverso" vem sendo pouco eficaz e muito caro. Quando vende "swap cambial reverso", o BC troca sua dívida cambial por uma atrelada aos juros. Ou seja, diminuiu a parcela da dívida pública indexada ao câmbio e eleva a atrelada aos juros. Como os juros reais (descontada a inflação) do Brasil são disparados os maiores do mundo (em torno dos 12% anuais), esse negócio acaba saindo caro para o governo.


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