São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 2006

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Operação dá perda de R$ 800 mi ao Banco Central

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central teve um prejuízo de R$ 794 milhões nas primeiras duas semanas do ano com suas operações no mercado de derivativos, uma das armas usadas para tentar conter a queda do dólar. O valor foi pago aos bancos que fazem esse tipo de transação com a autoridade monetária.
As perdas ocorreram por causa do efeito que a atuação do BC nas últimas semanas teve sobre a dívida pública: até o ano passado, parte dos títulos do governo em circulação no país era corrigida pelo dólar. Ou seja, quando o dólar subia, a dívida também subia.
Em 2005, porém, o BC começou a fazer as chamadas operações de "swap" cambial reverso. Nos contratos, fica estabelecido que os bancos envolvidos na transação devem pagar ao BC toda a variação registrada pelo dólar num determinado espaço de tempo. Em troca, o BC remunera os investidores com os juros que se acumularem nesse mesmo período.
Ou seja, quando o dólar subir, o BC terá ganhos e vice-versa. O objetivo do BC era, justamente, forçar a alta da moeda dos EUA, já que a negociação de um contrato de "swap" cambial reverso tem efeito similar ao da compra de dólares no mercado futuro.
Mas há também o efeito fiscal: cada vez que o BC faz uma aplicação em dólar, a parcela do endividamento do governo corrigida pelo câmbio se reduz.
Números oficiais ainda não são conhecidos, mas estima-se que, no final de 2005, toda a dívida cambial assumida pelo governo no mercado interno já havia sido zerada por causa das operações de "swap" cambial.
Ainda assim, o BC continuou com a venda diária desses contratos -ontem, foram colocados mais US$ 200 milhões. Assim, quando considerada apenas sua dívida interna, o governo ficou "vendido" em dólar: sempre que o dólar cair, o efeito sobre os cofres públicos será negativo.
Nas duas primeiras semanas de janeiro, o dólar caiu 2,82%, e o BC perdeu R$ 794 milhões com suas operações de "swap".
Apesar do efeito fiscal negativo que a ação do BC apresentou até agora, também há benefícios. "O BC juntou o útil ao agradável", diz Alexandre Póvoa, diretor da Póvoa Asset Management. O "útil", no caso, foi justamente o fim da dívida interna corrigida pelo dólar. Apesar das perdas registradas neste início do ano, é vantajoso para o governo ter seu endividamento pouco atrelado ao câmbio, pois, caso uma crise leve a uma disparada do dólar, o efeito fiscal da queda do real seria mínimo.
Além disso, diz Póvoa, é preciso enxergar além dos custos fiscais que a ação do BC tem no curto prazo. "O que teria acontecido se o BC não tivesse feito isso [vendido contratos de "swap" reverso]?"
Segundo o economista, a atuação do BC impediu que a cotação do dólar caísse ainda mais, o que poderia ter trazido problemas para alguns setores empresariais. "[O custo fiscal das operações do BC] é um subsídio disfarçado ao exportador", diz Póvoa, ao ressaltar que, quanto mais valorizado o dólar, menor é a competitividade do produto brasileiro no exterior.
Os contratos de "swap" sofrem ajustes diariamente -prejuízos ou ganhos auferidos pelo BC precisam ser desembolsados imediatamente. Perdas sofridas pelo BC são cobertas pelo Tesouro.
Procurado, o BC informou, por meio de sua assessoria, que não comentaria o assunto.


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